Funcionário vítima de bala perdida disparada pelo patrão em festa fica paraplégico e passa a viver de doações: 'Quero nossa vida de volta', diz mãe

Funcionário vítima de bala perdida disparada pelo patrão em festa fica paraplégico e passa a viver de doações: 'Quero nossa vida de volta', diz mãe
Adolescente Antonio Fonseca ficou paraplégico após levar um tiro acidental — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Bala atravessou a medula e perfurou o pulmão de Antonio Augusto Fonseca, de 17 anos no fim do ano passado. Sebastião Camargos de Oliveira foi indicado por tentativa de homicídio e mais três crimes. Mãe precisou deixar o emprego para cuidar dele em tempo integral.

Por Gabriel Reis, g1 Triângulo — São Gotardo

A vida de Antonio Augusto Fonseca, de 17 anos, mudou drasticamente na noite do dia 28 de dezembro de 2024, quando ele foi atingido por um disparo de arma de fogo durante uma festa de cavalgada em São Gotardo, no Alto Paranaíba. O adolescente ficou paraplégico e passou a depender da família para fazer tudo.

O tiro foi disparado para o alto por Sebastião Camargos de Oliveira, 29 anos, patrão de Antonio. A bala atravessou a medula e perfurou o pulmão do adolescente.

Além da perda da mobilidade, que trouxe uma série de desafios diários para a família, as sequelas do acidente também causaram sofrimento emocional para ele e os familiares. A mãe de Antonio, Stefane Gabriela de Oliveira, precisou abandonar o emprego de professora para cuidar do filho em tempo integral.

"O Antonio voltou para casa com uma traqueostomia. Neste momento, acabamos de sair de uma consulta com o neurologista que disse que o caso dele por pouco não foi uma tetraplegia. O médico foi bem sincero, falou que não era para ele estar vivo e que ele deve permanecer em reabilitação, já que não há uma cirurgia que possa ser feita", lamentou.

 

Stefane também contou que não teve qualquer ajuda da família do ex-patrão de Antonio. Sebastião Camargos de Oliveira é filho do vereador Roberto Carlos de Oliveira, conhecido na cidade como 'Robertinho da Garagem'.

"Eles desapareceram. O Antonio trabalhava para o Sebastião e eles não prestaram nenhum amparo após o crime. A família dele diz que ele e o Antonio eram como irmãos, mas que irmão é esse? Se fosse realmente, não teria fugido após ter dado o tiro que acertou meu filho", desabafou.

A reportagem procurou o vereador para comentar sobre o caso, porém, ele encerrou a ligação e não atendeu mais ao telefone.

O irmão de Sebastião, Roberto Neto, negou as acusações da mãe de Antonio e afirmou que a família tenta contato para contribuir com o estado de saúde da vítima, porém, segundo ele, as ajudas estariam sendo recusadas pela família da vítima.

Patrão foi indiciado por quatro crimes

 

Sebastião Camargos de Oliveira; São Gotardo — Foto: Reprodução/Rede Social

Sebastião Camargos de Oliveira; São Gotardo — Foto: Reprodução/Rede Social

De acordo com a Polícia Civil, Sebastião Camargos de Oliveira foi indiciado no fim de janeiro por tentativa de homicídio qualificado, porte ilegal de arma de fogo, disparo de arma de fogo e embriaguez ao volante.

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou Sebastião pelos mesmos crimes e pediu que a Justiça convertesse a prisão temporária do acusado em prisão preventiva.

Consta no processo criminal, que o mandado de prisão temporária - com o prazo de 30 dias - foi cumprido no dia 3 de janeiro. No dia 31 do mesmo mês, a 2ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de São Gotardo acolheu o pedido da Promotoria de Justiça e converteu a prisão do réu em preventiva.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), Sebastião esteve sob custódia no Complexo Penitenciário Nossa Senhora do Carmo, em Carmo do Paranaíba, entre 3 de janeiro e 15 de fevereiro de 2025.

Já o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) informou que Sebastião obteve um habeas corpus em fevereiro tendo a prisão revogada, mediante o cumprimento de medidas cautelares. São elas:

 

  • compromisso de comparecimento a todos os atos do processo;
  • comparecimento periódico em juízo para informar e justificar atividades;
  • proibição de se aproximar da vítima ou testemunhas;
  • proibição de ausentar-se da comarca, sem autorização judicial

 

g1 também entrou em contato com os advogados de defesa de Sebastião para se manifestarem sobre as acusações contra o cliente e o advogado Fernando Rabelo Rodrigues informou por meio de nota que, Sebastião está compadecido e consternado com a situação de seu melhor amigo Antônio, além de muito arrependido. Leia a nota completa abaixo.

 

Mãe sonha em ver o filho voltar a andar

 

Stefane conta que ver o filho, antes um habilidoso montador de cavalos, agora deitado na cama, é muito difícil. Ele, que antes era tão alegre e brincalhão com todos, se tornou alguém calado e bastante deprimido desde o acidente.

 

"A gente crê no milagre, mas estamos no momento da luta. Sou mãe solteira, é muito difícil viver de vaquinha. Eu quero que o Antonio se recupere, que ele volte a fazer tudo o que fazia antes, quero nossa vida de volta".

 

A mãe fez um apelo para que contribuam com a vaquinha, pois é a renda que tem mantido a família e custeado as despesas com o tratamento do filho. Antonio vive com a mãe e a irmã de 4 anos em São Gotardo.

 

Disparos para o alto durante confraternização

 

Segundo a Polícia Militar (PM), testemunhas contaram que Sebastião atirou para cima, aparentemente comemorando algo. Momentos depois, Antonio foi visto caído, com sangramento no pescoço.

 

"O Antonio estava sentado em uma mesa com alguns amigos, foi quando o Sebastião se levantou e efetuou diversos disparos para cima. Pessoas que estavam no local até nos contaram que não é a primeira vez que ele faz isso, em várias festas que eles faziam ele tinha o costume de levar a arma e atirar para o alto", relembrou Mateus Henrique, tio de Antonio.

 

 

'Eram como irmãos'

 

Em conversa com o g1 no dia 1° de janeiro, o vereador Roberto Carlos afirmou que o filho Sebastião e Augusto eram como dois irmãos e que a família do suspeito estava desolada com tudo o que aconteceu.

"Eu quero pedir desculpa a todos pelo acidente e esclarecer que nada foi intencional. O meu filho é uma pessoa do coração bom e está sofrendo como o Antonio, ele é o tipo de pessoa que não machuca um passarinho. Os dois são como dois irmãos, eles gostam muito um do outro, foi um acidente. Nossa família está desolada, a melhora do Antonio também é uma melhora para nós".

Na época, a mãe de Antonio, já afirmava que a família de Sebastião não havia prestado suporte.

 

"Eles realmente eram próximos, mas toda vez que o Neto [Sebastião] bebe, ele fica descontrolado. A festa que eles estavam era um evento de família, haviam crianças no local. Quando eu cheguei no hospital para ver o Antonio, lá estava apenas a esposa do Sebastião que foi embora assim que me viu. O Antonio estava praticamente morto, eu preciso me deslocar até Patos de Minas todos os dias para ficar com ele e a família do Sebastião nem sequer nos procurou", relatou Stefane à época.

O que diz a defesa do patrão

"Sebastião Camargos de Oliveira, compadecido e consternado com a situação de seu melhor amigo Antônio, além de muito arrependido, esclarece que realizou depósitos tão logo ocorreram os fatos e está envidando todos os esforços para reparar o dano e minorar o sofrimento, inclusive tentando entabular acordo.

De qualquer forma, é incontroverso entre Ministério Público, Juíza criminal e defesa que foi uma fatalidade e que o resultado jamais foi pretendido, tendo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais permitido que Sebastião Camargos de Oliveira, o Neto, responda ao processo em liberdade, consignando expressamente ao conceder-lhe a ordem de habeas corpus que ele e Antônio “são pessoas bem amigas”.

Sebastião Camargos de Oliveira se mantém à disposição da advogada da família de Antônio e das autoridades para, com dignidade, assumir a sua responsabilidade."