Cidade mineira vira referência em críquete no Brasil; conheça

Cidade mineira vira referência em críquete no Brasil; conheça
Seleção de críquete do Brasil Foto: Reprodução/Instagram @alemão_cricketbr
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Poços de Caldas tem a modalidade no programa de escolas públicas e afirma ter mais atletas de críquete do que de futebol

O Tempo Sports   Por Débora Elisa

 

O críquete, apesar de ser pouco conhecido no Brasil, é um dos esportes mais populares do mundo. Com ampla base de fãs em países como Índia, Inglaterra, Austrália e Paquistão, a modalidade, que nasceu no país britânico por volta do século XVI, desembarcou em 2010 em uma pequena cidade mineira de pouco mais de 160 mil habitantes. Hoje, Poços de Caldas, berço do projeto Cricket Brasil, é considerada o principal expoente da modalidade em solo nacional, formando atletas que vestem a camisa verde e amarela e sonham em representar o país nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028.

Toda essa história (re)nasceu no Brasil com o ex-atleta Matt Featherstone, inglês, que trouxe o sonho do críquete para Minas com duas dezenas de crianças. Hoje, são quase 10 mil. “O críquete não começou comigo. Esse projeto social, sim, mas o críquete está aqui desde 1872. Eu me casei com uma brasileira e mudei para o Brasil, e comecei essa missão de colocar o esporte nas comunidades e nas cidades daqui. Foi passo a passo. Em 2011 começamos o primeiro projeto com 24 crianças e hoje temos por volta 5500 crianças em Poços de Caldas, mais 3 mil na região. É devagar, mas não temos pressa. O que começou como projeto social hoje tem seleções que estão se destacando mundialmente”, falou Matt à reportagem de O TEMPO Sports.

Para quem não está familiarizado com o críquete, uma boa comparação é com a brincadeira ‘bete’, muito popular pelo Brasil. Assim como na brincadeira, jogadores usam tacos para rebaterem bolas e marcar as corridas, ou pontuação. Foi justamente essa familiaridade que chamou a atenção da jovem Laura Cardoso, de 17 anos. Ela começou no projeto social e, hoje é a principal atleta brasileira na modalidade com passagens por times da Inglaterra em competições internacionais.

“Quando o Matt chegou para apresentar o projeto, na hora pensei que era como o bete. Era tudo que eu queria: viajar para jogar bete. Hoje falo que quem começa a jogar críquete nunca mais para, porque é muito divertido. A gente aprende muito, é um esporte muito diferenciado. Falamos que não tem regras, tem leis, porque prezamos muito pelo espírito do críquete, que é de um companheirismo. É uma sensação única que o críquete proporciona”, contou a jogadora.

Poços de Caldas se destaca no cenário nacional

Pode parecer estranho, mas a dupla conta que em Poços de Caldas, hoje, o críquete pode ser mais popular que outras modalidades. Inclusive, já faz parte do programa de 52 escolas públicas do município e, além disso, é lá que as seleções brasileiras treinam.

“Poços de Caldas é a capital do Críquete. Nosso prefeito Sérgio (Azevedo) fala que temos mais gente jogando críquete do que futebol, e isso é uma novidade aqui em Minas. A região está muito forte porque estamos formando professores. Encontramos pessoas que têm dom de ensinar e levamos para a faculdade, custeado pelo Cricket Brasil, para formar mais profissionais. O críquete só vai crescer no Brasil pelos próprios brasileiros, e essa nova geração levará a modalidade a um nível superior”, comentou Matt.

E assim como muitos projetos sociais, as pretensões iniciais sequer eram de formar atletas de ponta, e sim, focar na formação de cidadãos e dar às crianças mais oportunidade de prática esportiva. Contudo, o sucesso esportivo chamou a atenção.

“Me dá muito orgulho ver essa turma jogando. O Brasil é muito carente de esportes, e nossa ideia primária era dar a oportunidade para as crianças praticarem algo diferente. Com o passar do tempo, ao ter 8 mil pessoas jogando, alguns acabam se destacando tecnicamente e podem jogar no próximo nível. Fomos formando as seleções das cidades, dos estados, e chegamos à brasileira. É uma coisa que faz parte do caminho do críquete, mas nosso objetivo é oferecer mais oportunidades para quem tem poucas. O esporte agrega muito socialmente”, analisou.

Mulheres no topo

Outra particularidade do críquete no Brasil é o destaque das mulheres. Diferente de muitas outras modalidades esportivas no país, é o naipe feminino que conta com mais visibilidade e resultados mais expressivos. Featherstone conta que esse caminho feminino não foi planejado, mas que o projeto Cricket Brasil acolheu essa característica de braços abertos. Afinal, nada como uma página em branco para criar uma nova identidade para um esporte.

“Não era nosso objetivo fazer um ‘esporte feminino’, mas essa seleção começou a destacar muito mais. Temos quase o mesmo número de meninas e meninos jogando no projeto e isso não é muito comum pelo mundo. Lá na Inglaterra o críquete é visto como um esporte masculino e de classes média e alta, e como no Brasil começamos do zero, conseguimos levar esse esporte para todos”, contou Matt.

E a principal atleta do país aprova, principalmente, o ambiente do críquete para mulheres. “Estamos acostumados a ver muitos esportes com investimento no masculino enquanto o feminino é deixado de lado. No críquete é o oposto. Isso é um grande incentivo para as novatas, porque o ambiente faz a diferença. Aqui sinto que é ‘cada uma toma conta da outra’ e nós crescemos juntas”, comentou Laura, carinhosamente apelidada como Polly pelas colegas de seleção.

“Mulheres também gostam de esporte e somos boas nisso. Em muitos lugares do mundo não temos as mesmas oportunidades, então, quando temos o espaço, a gente faz o que sempre fazemos: crescemos”, comentou Polly.

Jogos Olímpicos trazem nova perspectiva

Para a Olimpíada de Los Angeles-2028, o críquete voltou a integrar o programa olímpico. Isso deu aos alunos do projeto Cricket Brasil um novo sonho, afinal, ser um atleta olímpico está entre os objetivos de centenas de milhares de esportistas.

“Com certeza os Jogos Olímpicos são um estímulo. Todo mundo que chega para treinar eu falo sobre isso, porque atrai mais pessoas. As Olimpíadas são estímulo para qualquer um. Quando foram colocar o skate vi muita gente falando mal, mas o Brasil brilhou e agora todo mundo adora. Acho que vai ser o mesmo com a gente, porque traz uma ideia nova”, comentou Laura.

E para o professor Matt, a visibilidade da Olimpíada será essencial para que ainda mais pessoas conheçam a modalidade e possam ver uma possibilidade de prática esportiva nela.

“Vai ser um momento de crescimento no críquete do Brasil. Criamos essa sede aqui em 2019 já pensando que seria um esporte olímpico. Acho que isso só vai incentivar mais pessoas a praticarem e vai dar mais visibilidade ao esporte. Realmente, muitas garotas que estão treinando hoje aqui terão chance de representar o Brasil em 2028”, comentou.

 

Como participar do Cricket Brasil

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