Brasil está entre os países com pior competitividade digital, revela anuário

Brasil está entre os países com pior competitividade digital, revela anuário
Brasil precisar investir em conhecimento tecnológico para avançar em competitividade digital Foto: Freepik/Banco de imagens

País se mantém na 57º posição, em uma lista com 67 nações avaliadas

O Tempo   Por Raíssa Pedrosa

 

O Brasil ficou em 57º lugar no ranking mundial elaborado pelo Anuário de Competitividade Digital, realizado pelo IMD (International Institute for Management Development), em parceria com o Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC). Apesar de ter avançado em inteligência artificial e setores como educação, o país se manteve na mesma posição do ano passado.

Ao todo, 67 países compõem a lista. Abaixo do Brasil estão Colômbia, México, Botswana, Filipinas, Argentina, Peru, Mongólia, Gana, Nigéria e Venezuela, respectivamente. No topo da lista estão, em primeiro lugar, Singapura, seguida de Suíça, Dinamarca, EUA, Suécia, Coreia do Sul, Hong Kong, Países Baixos, Taiwan e Noruega, fechando o top 10. O ranking considera competitividade digital a capacidade de adoção e exploração de tecnologias digitais que levam à transformação nas práticas governamentais, nos modelos de negócios e na sociedade em geral. 

Para o diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral e líder da pesquisa no Brasil, Hugo Tadeu, o ranking mostra que o Brasil caminha a passos lentos para estabelecer competitividade e há muito o que ser feito na formação básica e superior e nos treinamentos e capacitações de mão de obra nas empresas. “É muito importante também a questão do custo de capital. Se a gente não reduzir o custo de capital para que esses investimentos em tecnologias digitais sejam melhores, a gente vai continuar a ser cada vez mais um importador de tecnologias do que necessariamente exportar conhecimento”, diz.

Investimento em tecnologia

O ranking mostra também que o Brasil teve bom desempenho em questões como educação e políticas de inteligência artificial. O país ficou em 7º lugar em gastos públicos em educação e em produtividade em pesquisas de P&D. Em políticas de Inteligência Artificial aprovadas por lei, o Brasil ficou em 9°. No entanto, a prática de transferência de conhecimento (66°), financiamento para desenvolvimento tecnológico (64°), disponibilidade de capital de risco (64°), incentivo para desenvolvimento e aplicação tecnológica (63º) e legislação para pesquisa científica e inovação (63º) estão entre os piores resultados brasileiros.

As análises do ranking revelam que as nações que ocupam as primeiras posições estão investindo justamente onde o Brasil apresenta falhas. Elas apostam de maneira consistente e estratégica em talentos, inovação tecnológica e formação acadêmica. O estudo mostra que esses países têm implementado políticas de longo prazo focadas no desenvolvimento de infraestrutura digital, formação de uma força de trabalho altamente qualificada e no fomento à pesquisa científica e novas tecnologias. Como consequência, observam-se ganhos expressivos em produtividade, crescimento econômico e competitividade global.

“Se a gente não discutir um plano de Estado para formação de mão de obra, formação dos estudantes, também no nível mais básico e elementar, e que essa formação nessas esferas como um todo tenha um alinhamento com ciências, tecnologia, engenharia e matemática, a probabilidade da gente não ser um país competitivo na agenda digital é evidente”, frisa Hugo Tadeu.

Hugo pontua também que o Brasil tem dinheiro para investir em formação de mão de obra, no entanto, o que falta é “uma melhor gestão desses recursos”. Ele explica que o país deveria investir em formação “para a vida” e para questões tecnológicas, em vez de formar mão de obra focada apenas em provas e vestibulares. Isso traria um foco maior em formação de conhecimento, que poderia virar artigos e patentes e, consequentemente, riqueza. 

Acesso às tecnologias não significa competitividade

Um ponto levantado pelo diretor é que o Brasil cresceu muito no uso de tecnologia, com crescimento no uso de aparelhos eletrônicos e ferramentas variadas. No entanto, isso não leva, necessariamente, à competitividade digital, que diz muito mais sobre boa formação e investimento qualificado em ciência, tecnologia e inovação, para que haja uma transferência adequada de conhecimento. 

“Não é pelo uso dessas tecnologias que a gente vai ser cada vez mais mais digital, até porque a gente tem inúmeras falhas de infraestrutura tecnológica. Basta observar que a gente tem no Brasil bolsões que não têm acesso qualificado à internet. Se a gente tem uma cidade de grande porte como no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, que têm 5G, tem regiões do próprio interior desses estados que ainda tem acesso 3G. O debate não é só sobre o uso dessas tecnologias”, esclarece.

O ranking

Em sua oitava edição, o ranking analisou, em 2024, 67 países, incluindo Porto Rico, Gana e Nigéria como novas economias em estudo. Ele permite acompanhar e analisar os avanços e retrocessos dos países sobre a pauta de transformação digital ao longo dos anos, auxiliando governos e empresas a identificarem áreas estratégicas para concentrar seus recursos e a determinar as melhores práticas ao iniciar o processo de transformação digital.

A avaliação da competitividade digital tem como base três fatores: conhecimento, tecnologia e prontidão para o futuro. Cada fator possui três subfatores que são mensurados a partir de indicadores específicos. Ao todo, são 59 indicadores mensurados a partir da coleta de dados estatísticos em fontes nacionais e internacionais e de uma pesquisa de opinião com executivos e especialistas. 

No Brasil, a pesquisa de opinião está sob a responsabilidade do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC), que obteve respostas de mais de 100 executivos brasileiros de diferentes setores, regiões e portes de empresas.