Perigo na pista: a cada dois dias de 2024, uma pessoa morreu no trânsito de BH

Perigo na pista: a cada dois dias de 2024, uma pessoa morreu no trânsito de BH
Michelle disse à reportagem que anda "tensa" no trânsito e sempre com a mão na buzina Foto: Alex de Jesus/O TEMPO
Receba as notícias do MCM Notícias MG no Whatsapp
Receba as notícias do MCM Notícias MG no Whatsapp
Receba as notícias do MCM Notícias MG no Whatsapp

Número de acidentes e óbitos cresceu nos últimos anos no país; maior parte das vítimas (38%) estava em motocicletas

O Tempo    Por Anderson Rocha

 

Três Arenas MRV lotadas, ou 145.326 pessoas, foram dizimadas no trânsito brasileiro entre 2018, quando os dados começaram a ser apurados, e julho de 2024, segundo o Registro Nacional de Sinistros e Estatísticas de Trânsito, do Ministério dos Transportes.

Em Belo Horizonte, foram 910 vidas perdidas, ainda conforme o relatório, o que corresponde a uma morte a cada dois dias. Além de altos, os números estão em uma crescente: nos primeiros sete meses do último ano, a quantidade de pessoas mortas nos trajetos em vias públicas subiu 11,6% na comparação com o mesmo período de 2023, passando de 86 para 96 óbitos.

Doutora em transporte e trânsito e professora da Universidade de Brasília (UnB), Zuleide Oliveira Feitosa associa a alta dos acidentes e óbitos à crescente frota de veículos do país, que aumentou 73% na última década em Belo Horizonte (acima dos 46% da média nacional). “A taxa de motorização cresceu surpreendentemente nos últimos anos por conta de variáveis muito claras, principalmente a baixa qualidade do serviço de transporte coletivo no país. Como resultado, há um trânsito agressivo, formado por motoristas que saem mal treinados de escolas de formação ou mesmo sem habilitação”, afirma a especialista. 

Para inverter a situação, Zuleide propõe que o Brasil se inspire em experiências estrangeiras comprovadamente eficazes, como qualificação de condutores com especialistas, campanhas educativas durante todo o ano (e não somente durante a Semana Nacional de Trânsito, em setembro) e redução do limite de velocidade nas principais vias urbanas. “O trânsito é um espaço compartilhado. Em outros países, se entende isso. A via não é só do automóvel, mas da bicicleta, da moto, do pedestre, cada um com suas regras e todos convivendo pacificamente”, diz.

Do total de 910 mortes no trânsito registradas desde 2018 em BH, 38% ocorreram em motocicletas – e 36,9% em automóveis. 
A analista de operações Michelle Parreiras, de 36 anos, viveu uma situação muito difícil com a moto. Ela seguia para o trabalho pela BR–381, sentido Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, quando o trânsito parou de uma vez. Ela freou, mas a moto que pilotava escorregou na pista. “Bati na lateral de um caminhão e caí. Minha sorte é que não passava nenhum outro veículo na hora, senão o estrago teria sido maior”, lembra Michelle, que teve ferimentos nos joelhos e nos braços. Mesmo após o susto, ela não abandonou o meio de transporte para trabalhar.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas e Ciclistas de Minas Gerais, Rogério Lara, pede atuação conjunta de órgãos públicos, governos e empresas em favor dos profissionais para que acidentes sejam evitados. Entre as medidas, ele lembra que o Ministério do Trabalho precisa fiscalizar se as empresas estão cumprindo a lei, que exige a qualificação de motociclistas. 

Para Rogério Lara, a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) precisaria determinar que as motos saíssem das fábricas com mais equipamentos de segurança, como os protetores de motor e pernas (mata-cachorro) e de coluna. Além disso, as empresas de aplicativo deveriam respeitar mais a atuação do motociclista. “Morreu mais um? Os apps não estão nem aí para a vida humana. Só pensam em lucro. Tem que regulamentar”, enfatiza.

Procurada, a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), entidade que representa empresas de aplicativos de mobilidade e de entregas, explicou que as plataformas disponibilizam conteúdos educativos sobre direção segura para os motociclistas e que contam com um seguro contra acidentes pessoais durante as viagens para os motociclistas parceiros e usuários. A Amobitec ainda ressaltou que, dos 34,2 milhões de motocicletas no Brasil, apenas 2,3% (800 mil motos) estavam cadastradas nas três maiores empresas do setor (99, iFood e Uber). 

Números sobem, sobretudo em motos

Jussara Bellavinha, assessora de segurança para a mobilidade da Superintendência de Mobilidade do Município de Belo Horizonte (Sumob), afirma que o número de pessoas que morreram no trânsito teve uma redução de 69%, passando de 392, em 1999, para 122 em 2023. “Mas, de 2022 para cá, voltou a crescer, e isso está relacionado aos acidentes de moto, que aumentaram muito”, assume.

Para enfrentar essa alta, a PBH informou que realiza trabalhos de engenharia de tráfego, com instalação de redutores de velocidade, revisão de programação semafórica e trabalhos educativos em escolas e empresas. A Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), em nome do governo federal, informou que adota “diversas ações para a redução de sinistros e mortes no trânsito”, mas não citou quais. O Estado foi procurado, mas não havia respondido até o fechamento desta edição. 

Infografia/ O TEMPO