Grafite com braile permite que cegos apreciem pintura em MG: 'Primeira vez com a arte', diz garoto de 14 anos

Projeto criado durante 4 meses confeccionou 250 placas em 3D, que formaram um muro de 15 metros para pessoas com deficiência visual.

Por Luiza Sudré, g1 Zona da Mata — Muriaé

O contato com a arte acontece tradicionalmente logo no início da vida das pessoas. Somos rodeados por cores, sons, imagens, literatura e diversos outros estímulos que desenvolvem o olhar sensível para o mundo. Mas quando esse acesso não existe?

Não por incapacidade ou ignorância, contudo pela falta de oportunidades que atendem as necessidades para que essa experiência aconteça. A arte é e deve ser para todos.

Foi com esse objetivo que um grupo de Muriaé, na Zona da Mata mineira, decidiu desenvolver um muro que fosse inclusivo para pessoas com deficiência visual.

“Nos inspiramos em uma equipe que fez uma exposição no Rio de Janeiro e São Paulo. Pensei que tínhamos toda a capacidade de reunir e fazer esse trabalho acontecer”, disse João Victor Martins de Oliveira, artista visual que fez parte do projeto.

O projeto saiu do papel no fim do ano passado, por meio de uma lei de incentivo à cultura. João Victor contou ao g1 que foi um processo idealizado e realizado por muitas mãos com tradutora e intérprete em libras, artista visual, modelador 3D, fotografia e filmagem.

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'Esse foi o primeiro contato que tive com a arte'

A pintura retratada na parede representa uma criança de olhos vendados, segurando um quadro com um passarinho e o sol de fundo.

Queria pintar algo que faz parte do meu estilo artístico, mas que também tivesse relação com o que nos moveu a desenvolver o projeto em primeiro lugar

— João Victor, artista que participou do projeto

Leonardo de Oliveira Martins, de 14 anos, tem deficiência visual e ficou maravilhado em poder pela primeira vez ter um contato com a arte.

Leonardo de Oliveira Martins, de 14 anos, tem deficiência visual e ficou maravilhado em poder pela primeira vez ter um contato com a arte — Foto: Sâmara Lobo Corrêa/Divulgação

"Estava tudo em braile, então foi a primeira vez que tive contato com a arte. Gostei de tudo, gostei da sensibilidade e de poder participar dessa experiência com outras pessoas que não enxergam também", contou o aluno.

Processo de muitas mãos

Para conseguir chegar no resultado, foram mais de 4 meses criando as 250 placas impressas na impressora 3D, que virou um muro de 15 metros.

A tradutora e a intérprete conferia a cada passo com um professor com deficiência visual se elas estavam corretas, e se realmente iriam cumprir a função de acessibilidade para as pessoas.

“Ficamos emocionados em ver que o trabalho deu certo, foi um momento especial para todos os envolvidos no trabalho”, completou o artista João Victor.