Atlético e Cruzeiro podem fazer nova dobradinha na América do Sul depois de 27 anos

Atlético e Cruzeiro podem fazer nova dobradinha na América do Sul depois de 27 anos
O Galo, de Valdir Bigode, foi campeão da Conmebol, e a Raposa, de Wilson Gotardo, da Libertadores Foto reprodução
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Galo, na semifinal da Libertadores, e Raposa, na mesma fase da Sul-Americana, sonham com conquistas continentais, a exemplo do que ocorreu com os rivais em 1997

Por Rodrigo Rodrigues O Tempo

Atlético e Cruzeiro estão vivos e empenhados em seus propósitos de conquistar a América. Restam poucas batalhas para que cada time alcance seu objetivo e, caso isso ocorra, os rivais mineiros repetirão a façanha de 1997. Naquele ano, o Galo conquistou o bicampeonato da Copa Conmebol, e o Cruzeiro ergueu a taça da Libertadores pela segunda vez. 

Nesta temporada, é possível haver uma espécie de reprise, contudo de forma invertida. Na  terça-feira (22), o Galo inicia o mata-mata da semifinal da Libertadores contra o River Plate, às 21h30, na Arena MRV. Na quarta (23), será a vez de a Raposa abrir a mesma série frente ao Lanús, às 19h, no Mineirão, mas pela Sul-Americana, considerado o segundo principal torneio do continente, a exemplo do que foi a Conmebol, entre 1992 e 1999. 

“O Atlético sempre teve aquela coisa de a gente não saber o que vai acontecer. Não é bem o caso de agora, porque o clube vive outra realidade. Mas, no Brasileiro, por exemplo, todo mundo pensava que o time estaria em uma situação melhor. Falo por momentos assim. No entanto, no caso da Libertadores, é algo distinto. Não é um campeonato que se joga todo final de semana, é uma preparação diferente. O time está bem na competição e tem condições de chegar”, avalia Taffarel, ex-goleiro do Galo, em entrevista exclusiva a O TEMPO Sports.

Aos 58 anos, o tetracampeão mundial com o Brasil, em 1994, é preparador de goleiros do Liverpool e da seleção brasileira. Entre outros clubes, defendeu o Galo do início de 1995 a maio de 1998. Foi o titular alvinegro na conquista da Conmebol de 1997, quando bateu o Lanús, da Argentina, naquela decisão. 

Taffarel é preparador de goleiros da seleção brasileira

“O Cruzeiro vai pegar o Lanús na Sul-Americana? Diga ao pessoal para ir de escudo e tudo mais”, brinca Taffarel. “Não me envolvi diretamente na confusão, porque nunca fui de briga, mas apanhamos bastante”, completa.

O alerta tem relação com o massacre que ele e seus companheiros sofreram no primeiro jogo da final da Conmebol de 1997 contra o os argentinos, em 6 de novembro daquele ano. À época, o Atlético venceu os donos da casa por 4 a 1. Ao fim da partida, os hermanos partiram para a briga, e os atleticanos apanharam dos adversários, da polícia e da torcida. 

“Parece-me que o Jorginho (ex-meia) passou pelo Ruggeri (ex-zagueiro) e disse alguma coisa (o ex-jogador do Galo teria dito que havia ganhado na Argentina e venceria também em Belo Horizonte). Aí começou a briga. Os argentinos são muito ignorantes quando perdem”, recorda-se o ex-goleiro.

No jogo de volta, o Atlético empatou em 1 a 1, no Mineirão, e garantiu o bicampeonato da Copa Conmebol.

Taffarel, no Atlético, durante treino na Vila Olímpica

Respeito de volta

Sexto maior artilheiro da história do Cruzeiro, com 162 gols, o ex-atacante Marcelo Ramos torce para que a Raposa volte a levantar uma taça continental após quase três décadas. 

“Na Sul-Americana, o Cruzeiro vem conseguindo recuperar o prestígio de ser muito forte numa competição internacional. Sabemos o quanto é importante para o torcedor ser campeão e voltar a jogar a Libertadores”, aposta o ex-atacante, de 51 anos, artilheiro da Raposa na conquista da Libertadores de 1997, com quatro gols.

Marcelo Ramos prevê um duelo difícil contra o Lanús e alerta: “Será um adversário muito difícil, que também chegou com méritos. Mas, dentro de casa, o Cruzeiro tem de fazer um bom resultado e já tentar garantir, porque, na Argentina, sabemos a dificuldade que é”.

Marcelo Ramos mantém forte vínculo com o Cruzeiro

Dificuldade ‘formou caráter’

De uns anos para cá, o Atlético tem se organizado administrativa e financeiramente. Em 1997, a realidade era outra. Atrasos recorrentes de salários e falta de lugar específico para treinar, pois os jogadores ‘dividiam’ o campo da Vila Olímpica com os sócios do clube. 

“Tinha problemas financeiros e de estrutura, algo que não ocorre mais. Hoje, é um clube bem organizado, com ótima estrutura”, enaltece Taffarel.

Em contrapartida, o ex-goleiro diz que os obstáculos também foram importantes. “As dificuldades daquela época ajudaram a formar o caráter de jogadores que estavam subindo, como Lincoln, Dedê, Neguete, Caçapa, Roberto, Bruno, Edgar, Hernani, Canela, Nilo, Leandro Tavares… Uma turma muito legal, muito boa”, relembra.

Time do Atlético no segundo jogo da final, no Mineirão

Se Taffarel era respeitado e admirado pelos companheiros e funcionários do clube, com o então técnico Emerson Leão a relação não foi das melhores. 

“Ele não era um cara ruim, era bom treinador, mas costumava agir com ignorância, jeito de prepotência. Ele gostava de pegar aquele cara que era referência, estrela, para jogar para baixo. Fez isso comigo no Galo, fez isso com o Dunga, no Inter”, afirma o ex-goleiro, que foi colocado na reserva do Atlético por Leão. 

O título mais especial

Em mais de duas décadas de carreira como jogador profissional, Marcelo Ramos defendeu algo próximo de 20 camisas no Brasil e no exterior. Títulos foram quase 40, mas uma taça tem um lugar especial na galeria do ex-atacante. 

“A Libertadores é o título mais importante da minha carreira. Depois, poderia ter sido o Mundial, mas, infelizmente, fomos vice-campeões. Sinto-me muito honrado por ter feito parte daquele grupo”, comemora.

A campanha do Cruzeiro na Libertadores de 1997 começou muito mal, com três derrotas seguidas. Na sequência, o time reagiu, venceu três jogos seguidos e foi aos mata-matas. Na decisão, superou o Sporting Cristal.

No jogo de ida, no Peru, empate em 0 a 0. Na volta, com mais de 106 mil pessoas no Mineirão, venceu por 1 a 0, gol de perna direita do canhoto Elivelton. “Conquistei 14 títulos no Cruzeiro, mas a Libertadores é o ápice de qualquer atleta”, reforça Marcelo Ramos. 

Marcelo Ramos festeja título da Libertadores em 1997 

Ligação com Minas Gerais

Gaúcho de Santa Rosa, Taffarel morou em BH entre fevereiro de 1995 e maio de 1998. Apesar do pouco tempo, criou laços na capital mineira. “A relação com o torcedor sempre foi muito boa. Até com o cruzeirense, de muito respeito. Viver em BH me marcou bastante. Recebi o título de Cidadão Honorário, a Medalha da Inconfidência. É sempre um prazer voltar a Minas”, enaltece. 

No período de Atlético, Taffarel morou próximo ao Mineirão. No local residiam outros jogadores, como o então rival Marcelo Ramos. “Nós morávamos no mesmo prédio, no bairro Ouro Preto”.

Por outro lado, o ex-goleiro diz que levou a melhor contra o oponente. “Acho que mais ganhei do que perdi para o Cruzeiro”, aponta. Em 14 clássicos, Taffarel venceu cinco, perdeu quatro e empatou cinco.