Temperaturas acima da média e imprudência fazem incêndios em áreas de vegetação dispararem 77% em MG

Temperaturas acima da média e imprudência fazem incêndios em áreas de vegetação dispararem 77% em MG
O período seco e as altas temperaturas fazem com que as chamas se espalhem com facilidade Foto: ICMBIO/DIVULGAÇÃO
Receba as notícias do MCM Notícias MG no Whatsapp
Receba as notícias do MCM Notícias MG no Whatsapp
Receba as notícias do MCM Notícias MG no Whatsapp

Somente nos primeiros cinco meses de 2024, houve aumento de 77% de ocorrências, passando de 3.233 para 5.746

O Tempo    Por Vitor Fórneas

 

Minas Gerais registra, por dia, uma média de 38 incêndios em vegetação neste ano. Somente em maio, foram mais de 3 mil ocorrências atendidas em todo o Estado pelo Corpo de Bombeiros — o maior número para o período desde 2020. O tempo seco aliado à imprudência de pessoas que ateiam fogo e às mudanças climáticas são fatores que ajudam a explicar tantos chamados, segundo a corporação. Somente nos primeiros cinco meses de 2024, houve aumento de 77% de ocorrências, passando de 3.233 para 5.766. Em junho, já são mais de 1,2 mil registros. 

“Nos meses de abril e maio deste ano tivemos temperaturas 5ºC acima do que em anos anteriores. A temperatura média subiu, tanto que quase tivemos festa junina sem frio. O aumento da temperatura foi acentuado, principalmente, nos centros urbanos. Os números nos mostram isso”, afirma o tenente Henrique Barcellos, porta-voz do Corpo de Bombeiros.

Ao analisar as ocorrências de incêndio de vegetação no último mês, Barcellos aponta que das 3.399 registradas em Minas, 70% foram em área urbana. “Ou seja, locais onde temos a presença direta do homem que, de maneira imprudente, ateia fogo em lotes, por exemplo, para fazer limpeza, e faz o mesmo em beira de estrada. O período seco e as altas temperaturas fazem com que as chamas se espalhem para edificações”, pontua o porta-voz dos bombeiros.

Foi isso o que aconteceu em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, em 2 de junho. Após um incêndio se iniciar em uma área de vegetação, as chamas atingiram um galpão de móveis. Felizmente, não houve feridos, porém, por causa da fumaça e do forte cheiro de plástico queimado, moradores tiveram que deixar as casas para não inalarem fumaça. 

“Agradecemos por todas as mensagens. O incêndio ocorreu no interior da loja onde se encontra a parte de produção de mesas e sofás. A loja e os produtos não foram afetados”, informou o estabelecimento pelas redes sociais. 

A ocorrência registrada em Contagem é o típico caso, segundo o tenente Barcellos, do “quão errado e criminoso é limpar lote com o uso de fogo”. “Aqui está a raiz do problema. A capina tem que ser feita sem o manejo de chamas”. 

Atuar no combate aos incêndios em vegetação é desafiador para a corporação, ainda mais quando as chamas avançam para edificações. Durante a atuação dos bombeiros na ocorrência envolvendo a loja de móveis de Contagem, por exemplo, um militar precisou ser atendido por ter inalado fumaça. “Quando se combina dois cenários: incêndio em vegetação e em área urbana, o risco para o bombeiro aumenta, pois a forma de atuação é diferente e, consequentemente, requer técnicas distintas”, afirma Barcellos.

É crime 

Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outro, é crime previsto no artigo 250 do Código Penal. A pena é reclusão, de três a seis anos, e multa. Contudo, ela pode ter aumento de um terço nos seguintes casos:

I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;
II - se o incêndio é:
a) em casa habitada ou destinada a habitação;
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura;
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
g) em poço petrolífero ou galeria de mineração;
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.

Se for caso de incêndio culposo, a pena é de detenção, de seis meses a 2 anos.

“Por estarmos falando de uma prática criminosa, é fundamental que as pessoas denunciem aqueles que ateiam fogo”. O apelo do tenente Barcellos se dá diante da possibilidade dos casos seguirem em escalada, visto a época do ano.

“As condições são favoráveis para mais chamados: aumento da temperatura, umidade relativa do ar baixa, estiagem e ventos. O nosso trabalho aumenta muito. Numa época de muitos chamados, como foi o caso do mês de maio, nós esgotamos os nossos recursos em atuação de resposta. O que queremos é esgotar os recursos na proteção do risco, ou seja, com trabalhos preventivos — campanhas de conscientização”, complementa o porta-voz dos bombeiros. 

Mais fiscalização

Uma possibilidade para tentar reverter o cenário de incêndios em área de vegetação é o aumento da fiscalização. É o que analisa a ambientalista Jeanine Oliveira. “Todo ano é a mesma novela, no entanto está piorando cada vez mais. Não são condições naturais que provocam tantos incêndios”.

“É preciso criar medidas para frear o que vem acontecendo. Deveríamos ter no Legislativo leis mais rigorosas e uma estrutura e diretriz do Estado que possibilitasse fiscalização adequada para que tivéssemos os bombeiros mais atuantes. O quadro hoje é limitado”, afirma a ambientalista.

Jeanine defende ainda a reestruturação da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). “Dentro da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, ela é a instituição mais competente para fiscalizar e definir a multa a ser aplicada. Precisamos ser mais rigorosos, porém, atualmente, a Feam nada faz. Notamos conivência por parte da administração com a situação e a não criação de situações para resolver. A principal é a contratação de mais efetivo para ampliar a fiscalização”, finaliza.     

Dados

Total de registros de incêndio em vegetação em Minas Gerais

2020 - 18.643
2021 - 24.288
2022 - 19.350 
2023 - 17.135
2024 (até junho) - 5.942

Registros de incêndio em vegetação em 2024

Janeiro - 231
Fevereiro - 329
Março - 488
Abril - 1.299
Maio - 3.419
Junho - 1.282

Fonte - Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais