Mulher é presa por injúria racial após chamar vizinhos de ‘macacos’ e dizer que vai ‘matar um por um’

Mulher é presa por injúria racial após chamar vizinhos de ‘macacos’ e dizer que vai ‘matar um por um’
Foto Felipe Couri
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De acordo com relato das vítimas, não foi a primeira vez que ela proferiu ataques desse tipo

Tribuna     Por Elisabetta Mazocoli

 

Uma mulher foi presa por injúria racial após chamar vizinhos negros de “macacos” e dizer que bairro onde moram, o Bom Pastor, na Zona Sul de Juiz de Fora, não era lugar de “preto que come lixo” morar. O caso aconteceu na noite de domingo (14), quando um casal começou a ser agredido verbalmente pela vizinha, de 53 anos, na Rua Doutor José Batista de Oliveira. De acordo com o relato das vítimas, um homem de 26 e uma mulher de 24, não foi a primeira vez que ela proferiu ataques desse tipo, e a acusada teria, inclusive, feito ameaças contra a integridade física dos dois. A Polícia Militar foi chamada ao local e encaminhou a mulher até a delegacia. A família da suspeita afirmou, na ocasião, que ela estava em um surto psicótico – o que não foi confirmado após uma avaliação do Samu.

Na ocasião, de acordo com o boletim de ocorrência policial, a mulher ainda proferiu ataques diretos, afirmando que ia “matar um por um” e que quer “dar um tapa na cara de cada um”. Ela teria, ainda, afirmado que o prédio e o bairro não são lugares para “pessoas como eles”, “pretos e favelados”, e que teriam se mudado para o local para “implicar com ela”. A vítima de sexo feminino também foi chamada de “vagabunda” pela mulher. Após a chegada da Polícia Militar, uma das vítimas conseguiu gravar em áudio parte dessas agressões.

Samu foi acionado e concluiu que a mulher estava embriagada

Quando a Polícia Militar compareceu ao local, o esposo da mulher que estaria proferindo os ataques afirmou que ela entrou em surto psicótico após “vizinhos ficarem escutando música em volume muito alto”. Também foi registrado pelos militares que a suspeita estava “extremamente exaltada”, trêmula e repetindo os mesmos xingamentos citados acima. Ela evitou o contato com os militares.

Em seguida, o Samu foi acionado para atender o caso e os plantonistas verificaram que ela estava sob o efeito de álcool, inclusive pelo fato de que estava andando cambaleante e com forte hálito. Durante a conversa com o enfermeiro, ela chegou a afirmar que havia misturado álcool e um medicamento de tarja preta. Por isso, foi descartado o surto psicótico e foi confirmado que, de fato, ela estava em estado de embriaguez, e por isso não cabia a remoção para uma unidade de saúde. 

Os militares, então, deram voz de prisão pelos crimes de injúria racial, injúria e ameaça. Também foi registrado pelos policiais que a suspeita voltou a se exaltar quando teve que aguardar na cela.

Reportagem conversou com vítimas de injúria racial

A reportagem da Tribuna conversou com o casal que denunciou os ataques. Felipe de Souza Alves, de 26 anos, ambulante e catador de material reciclável, e Fernanda Marina da Silva Santos, de 24 anos, atendente de comércio e estudante, contaram que já tinham lidado com ataques do tipo anteriormente. De acordo com o jovem, seus pais moravam no mesmo apartamento antes, e se mudaram do local devido aos xingamentos racistas que recebia da vizinha. “É uma situação recorrente, constante, aleatória. As ofensas vêm sempre por parte dessa senhora. São vários tipos de insultos bárbaros, como ‘ali não é lugar de preto’, ‘tem macaco no andar de baixo’, ‘favelados’, e declarações de que somos ‘o lixo da história’. Fora as ameaças contra a nossa integridade física e moral”, conta ele.

Felipe também afirma que a mulher se exalta ainda mais quando eles escutam samba e faz ataques relacionados à intolerância religiosa. O que encontraram como saída da situação foi buscar a lei e informações. “Não podemos tolerar, temos que enfrentar de cabeça erguida”, explica. 

Ele ainda ressalta que, diferentemente dos pais, não pensa em se mudar do local por conta dos ataques, mas buscar que a justiça seja feita. Ele afirma que tanto ele quanto a esposa vieram de “origens simples e de comunidade”, e que arcam com os custos do apartamento, que é alugado. “É uma conquista para a gente. Não temos vergonha nenhuma”, diz.