Mel da fé: monjas de Juiz de Fora praticam apicultura desde os anos 1960
Monjas beneditinas do Mosteiro da Santa Cruz enxergam a atividade como aprendizado e uma forma de cuidar de ‘nossa casa comum’
Por Nayara Zanetti Tribuna de Minas
A cada 15 dias, as monjas beneditinas do Mosteiro da Santa Cruz, localizado no Bairro Paineiras, se deslocam até um apiário em uma área rural próximo a Juiz de Fora para dar continuidade ao cultivo de abelhas. “Ora et labora”, o lema “reza e trabalha”, traduzido do latim, guia as ações das monjas, e uma das atividades ligadas ao trabalho é a apicultura. A prática se tornou uma tradição do mosteiro desde a década de 1960 e foi retomada em 2018 pelas irmãs Raquel Cristina, Catarina Elisa e Teresa Paula.
No último dia 13, feriado em celebração ao padroeiro da cidade, Santo Antônio, o Mosteiro da Santa Cruz comemorou seus 64 anos de história. Atualmente, o espaço abriga 24 monjas beneditinas e é regido pela Madre Maria de Fátima Justiniano da Silva. É o primeiro mosteiro beneditino feminino das Américas. A casa religiosa se mantém com os trabalhos feitos pelas próprias irmãs.
Atividade é tradição no Mosteiro, desenvolvida desde 1960 pelas monjas. (Foto: Arquivo Mosteiro da Santa Cruz)
A vida no mosteiro é movida por quatro principais pilares: silêncio, oração, contemplação e trabalho. Diariamente, as monjas beneditinas se reúnem sete vezes para a Liturgia das Horas, além da Santa Missa. Mas, para além dos deveres religiosos, as irmãs também desempenham diferentes trabalhos. Na década de 1970, uma pequena gráfica foi implantada e anos depois se tornou a Edições Subiaco, especializada na editoração de livros de espiritualidade, cartões e blocos. Outra fonte de renda do mosteiro vem da produção de produtos artesanais, como velas, doces, pães, geleias e brownies. Além, é claro, da apicultura, que é uma das atividades desenvolvidas pelas irmãs desde a criação do mosteiro.
Mel, fé e sustentabilidade
Todo o processo da produção do mel é feito pelas três monjas com o auxílio de um funcionário. As irmãs contam que decidiram retomar a atividade seis anos atrás para, além de ajudar na manutenção da comunidade, cuidar de “nossa ‘casa comum’, desenvolvendo um trabalho sustentável”. Todos os itens produzidos pelas religiosas são vendidos na chamada “Lojinha do Mosteiro”, localizada na Rua Professor Coelho e Souza 95, Bairro Paineiras. A entrevista das irmãs à Tribuna foi intermediada por escrito pela assessoria de imprensa da Arquidiocese de Juiz de Fora.
Produtos da apicultura são vendidos na “Lojinha do Mosteiro”, localizada na Rua Professor Coelho e Souza 95, no Paineiras. (Foto: Mosteiro da Santa Cruz)
As monjas beneditinas acreditam que essa relação próxima com a natureza oferece oportunidade de aprendizado e reforçam também a importância de conscientizar a população sobre o papel das abelhas para o ecossistema. “Para nós, este contato com as abelhas é um aprendizado de como deve ser um trabalho bem organizado, onde cada uma exerce sua função para o bem comum da colmeia”, comentam as irmãs responsáveis pelo trabalho no apiário, acrescentando que a falta de conhecimento pode colaborar para ameaçar a existência desse grupo de insetos.
“As abelhas podem, sim, chegar à extinção por falta de conhecimento da população, que desconhece a sua importância como principal agente polinizador, exterminando enxames ao invés de reconduzi-los à natureza. Por isso a importância de contatar apicultores para a realização de resgates”, alertam.
As colmeias são monitoradas de 15 em 15 dias e o processo é feito na casa do mel, ambiente adaptado para a atividade, da seguinte maneira: “Com os devidos equipamentos – mesa desoperculadora, centrífuga, decantador e outros itens para apicultura -, primeiro realizamos a colheita de todo o mel das melgueiras que estão em ponto de colher; depois, desoperculamos todos os favos e levamos para a centrífuga; em seguida, depositamos no decantador, no qual o mel fica até ser envasado”, descrevem as monjas, recordando que a rotulação também antecede a venda do produto.
Produtos da apicultura são uma fonte de renda para a casa religiosa. (Foto: Mosteiro da Santa Cruz)
Hoje a produção é acompanhada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), através da Assistência Técnica e Gerencial (AteG). “Uma vez por mês temos a visita de um técnico que nos acompanha para idas ao apiário para orientações, tendo em vista o bom desenvolvimento dessa atividade”, contam as irmãs Raquel, Catarina e Teresa. “São, ao todo, nove colmeias, variando o número de abelhas em cada uma, visto que uma colmeia pode chegar a ter até 50 mil abelhas.”
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