Condenado por colocar bomba no aeroporto de Brasília vai para o semiaberto

Condenado por colocar bomba no aeroporto de Brasília vai para o semiaberto
Condenado pela tentativa de atentado a bomba, George Washington de Oliveira Sousa prestou depoimento na CPMI do 8 de janeiro Foto: Senado Federal do Brasil
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Réu confesso, homem que foi condenado a 9 anos e 8 meses de cadeia por planejar atentado com bomba no Aeroporto de Brasília na véspera do Natal de 2022, passou a cumprir pena no regime semiaberto

O Tempo   Por Renato Alves

 

BRASÍLIA – Condenado a 9 anos e 8 meses de cadeia por planejar atentado com uma bomba no Aeroporto de Brasília na véspera do Natal de 2022, George Washington de Oliveira Sousa passou a cumprir pena no regime semiaberto no último sábado (18). 

Partiu da juíza Francisca Danielle Mesquita, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), a decisão que beneficiou o condenado. Ele também ganhou autorização para fazer trabalho externo, uma das condições para se manter no semiaberto. Mas não terá direito a saídas temporárias nos fins de semana.

Antes da prisão, George Washington era gerente de um posto de combustíveis. Na primeira instância, ele recebeu uma pena de 9 anos e 4 meses de reclusão em regime fechado. Em outubro de 2023, no julgamento na segunda instância do TJDFT, a pena subiu para 9 anos e 8 meses. 

George Washington tinha arsenal em apartamento alugado na capital

Ele foi preso horas após a descoberta da bomba sob um caminhão-tanque, em frente ao aeroporto de Brasília, na noite de 24 de dezembro de 2022. Estava em um apartamento alugado no Sudoeste, área nobre da capital. No imóvel, policiais encontraram um fuzil, espingardas, revólveres, munição e artefatos explosivos.

George Washington tinha registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), mas o documento estava em situação irregular. Portanto, não poderia estar com nenhuma arma. E, caso estivesse com a documentação em dia, não poderia ter explosivos, como o usado no plano para explodir um caminhão no aeroporto. 

O condenado, que mora no Pará, contou, em depoimentos, que havia viajado para Brasília, sem previsão de volta, para participar de manifestações contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Disse que era um apoiador de Jair Bolsonaro (PL) e lutava para anular o pleito e manter o ex-presidente no poder. 

O homem confessou que tinha intenção de explodir o artefato no terminal aeroportuário brasiliense. Segundo ele, a intenção era provocar um caos social que levaria à decretação de intervenção militar, o que impediria Lula de tomar posse em 1º de janeiro de 2023.

Mas o motorista do caminhão, que se preparava para adentrar o aeroporto, percebeu que havia um objeto estranho no veículo e acionou a Polícia Militar. Peritos da PM detonaram o explosivo. 

Dias depois, peritos da Polícia Civil identificaram que o item de detonação da bomba chegou a ser acionado, mas ele falhou por um erro na montagem. Em depoimento, um dos envolvidos contou que inicialmente pensou em deixar o artefato na área de check-in, lotada naquela véspera de Natal.

Ex-assessor de Damares, terceiro envolvido fugiu para o Paraguai

Foi George Washington quem montou a bomba. Ele entregou o objeto a uma outra pessoa, que ficou responsável por levar o dispositivo até o aeroporto. Alan Diego dos Santos Rodrigues também confessou o plano à Polícia Civil. Disse ter recebido o explosivo em 19 de dezembro de 2022.

Alan Diego levou a bomba ao aeroporto na companhia do blogueiro bolsonarista Wellington Macedo de Souza, que só foi preso em setembro de 2023, após ser localizado no Paraguai, depois de passar quase um ano foragido. Ele foi julgado em outro processo, com o caso desmembrado, e condenado a seis anos de prisão.

Wellington Macedo já era monitorado por tornozeleira eletrônica pela PF antes do atentado à bomba. Ela recebeu o aparelho em uma das condições para se livrar da prisão preventiva, imposta pelo STF após ser acusado de incitar ataques contra os Três Poderes da República, por meio das redes sociais.

Em setembro de 2021, ele foi preso pela Polícia Federal (PF) no inquérito aberto para investigar a organização de manifestações violentas no feriado de 7 de Setembro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) o apontou como um dos responsáveis pela divulgação de um “ato violento e antidemocrático”.

Imagens de câmeras do aeroporto de Brasília local e a do próprio caminhão, onde foi deixada a bomba em 24 de dezembro de 2022, além dos dados da tornozeleira de Wellington Macedo, ajudaram a polícia a chegar ao envolvidos no atentado. Após o episódio, o blogueiro rompeu o equipamento de monitoramento e fugiu.  

Cearense de Sobral, Wellington foi assessor da Diretoria de Promoção e Fortalecimento dos Direitos da Criança e do Adolescente no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, que era chefiado pela atual senadora Damares Alves (Republicanos-DF). Recebia R$ 10.373,30 pela função.

Além dos salários, o Portal da Transparência mostra que Wellington ganhou cerca de R$ 24 mil em pagamentos de indenizações e de diárias após ser exonerado. após deixar o ministério, recebeu ainda quatro parcelas do auxílio-emergencial, de R$ 600, que foram pagos em maio, junho, julho e setembro de 2020.

Plano foi traçado em acampamento no entorno do QG do Exército 

Os envolvidos no plano terrorista se conheceram no acampamento bolsonarista em frente ao Quartel-General (QG) do Exército, em Brasília. Foi lá que George Washington entregou a bomba a Alan Diego, conforme depoimentos de ambos.

Mesmo em prisão domiciliar e com tornozeleira eletrônica, Wellington Macedo também frequentava o acampamento no QG, onde fazia discursos, vídeos e planejava manifestações por intervenção militar.

Também do QG saiu o grupo que, em 12 de dezembro de 2022, tentou invadir a sede da PF para resgatar um indígena, apoiador de Bolsonaro, preso pouco quando se aproximava do Supremo Tribunal Federal (STF) com armas e o intuito de invadir a sede da Corte.

Repelidos por agentes federais, os apoiadores de Bolsonaro passaram a quebrar o que encontravam na área central de Brasília. Além de destruir equipamentos públicos, atearam fogo em carros particulares e em ônibus do sistema de transporte público da capital.

George Washington confessou que estava à frente dos atos de vandalismo, assim como Wellington Macedo. Há 10 dias, o TJDFT perdoou a multa de R$ 9,6 mil que Wellington Macedo teria que pagar pela condenação no episódio da bomba.