Vídeo: policiais cantam para exaltar Massacre do Carandiru, que matou 111

Vídeo: policiais cantam para exaltar Massacre do Carandiru, que matou 111
Policiais exaltam Massacre do Carandiru em vídeo Foto: TikTok/Reprodução
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Episódio é conhecido como um dos episódios mais violentos da história prisional do Brasil; nenhum policial julgado pelos atos de 1992 foi preso

O TEMPO

 

O Massacre do Carandiru, ocorrido em São Paulo em 1992, entrou para a história como uma mancha de violência. Ele resultou em 111 mortes de detentos e na condenação de 74 policiais militares — nenhum deles preso. Três décadas depois, um vídeo circula nas redes sociais mostrando um grupo de policiais cantando e dançando para exaltar o massacre, sem preocupação aparente em ocultar a identidade.

O vídeo, originalmente publicado no TikTok, mostra cerca de 20 policiais fardados em uma roda repetindo os versos cantados por um militar no centro dela, muitos deles sorrindo. Entre os versos, eles cantam que, no Carandiru, “só tinha lixo, a escória, na moral”, dizem que a “hora do ladrão” chegará e prestam continência ao tenente-coronel Ubiratan, que comandava as tropas no massacre e chegou a ser condenado a 632 anos de prisão pela morte dos detentos. Ele nunca foi preso, contudo, e chegou a se eleger deputado estadual

Sem preocupação em esconder o rosto, os policiais cantam:

"Cavalaria Brasil
Esquerda, ô
Esquerda, direita, Choque!
Hoje eu te apresento o 1º Batalhão
Aquele que acalmou a Casa de Detenção [Carandiru]
1992, logo pela manhã, o clima já era tenso
A caveira já estava sorrindo para o detento
Lá só tinha lixo, a escória, na moral
Foi dado ‘pista quente’ para derrubar geral
Bomba, facada, tiro e granada
Corpos mutilados e cabeças arrancadas
O cenário é de guerra, tipo Vietnã
A minha continência, Coronel Ubiratan
Vibra, ladrão, sua hora vai chegar
Escola de Choque tá saindo pra caçar".

Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou ter ciência sobre o vídeo e ter determinado a instauração de uma investigação. “A conduta dos policiais que aparecem nas imagens não condiz com as práticas da Instituição e medidas cabíveis serão tomadas”, afirma, em nota, sem explicar quais medidas serão essas.

O Massacre do Carandiru

Em outubro de 1992, uma rebelião de detentos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção [Carandiru], na Zona Norte de São Paulo era transmitida pela TV quando a Polícia Militar (PM) invadiu o local.

Em 20 minutos, a confusão culminou em 111 presos mortos a tiros ou facadas. Também houve 22 policiais feridos, porém nenhuma morte entre eles. A PM justificou que agiu em legítima defesa e que parte dos detentos teria sido morta por outros presos.

O julgamento dos policiais se arrastou por anos. O tenente-coronel Ubiratan chegou a ser julgado e condenado por júri popular em 2001, entretanto recorreu em liberdade e foi assassinado em 2006 por sua namorada. Mais de 20 anos depois, entre 2013 e 2014, 74 policiais foram condenados pela morte de 77 detentos — os demais 34 teriam sido mortos pelos colegas de cela. Nenhum dos policiais foi preso, em meio a disputas judiciais que perduram até hoje, mais de 30 anos após o crime.

Em dezembro de 2022, no tradicional indulto de Natal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “perdoou” os condenados. O indulto, porém, ainda é avaliado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, por ora, está suspenso.  

 

Assista ao vídeo: