Setembro Amarelo: Juiz de Fora registra aumento de quase 40% nos casos de suicídio
Em meio a crescimento de casos, especialista aponta relação com saúde mental e enfatiza importância de tratamento precoce
Tribuna Por Maria Luiza Guimarães*
Anualmente, em todo o mundo, são registrados mais de 700 mil suicídios. Esses são os dados obtidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o número chega a aproximadamente 14 mil casos por ano. Embora os índices de suicídio estejam diminuindo em diversas regiões do globo, os países das Américas seguem uma tendência oposta, com taxas crescentes. Em Juiz de Fora, segundo o Sistema de Informações Sobre Mortalidade, foram registrados 43 óbitos por lesões autoprovocadas em 2022 e 60 óbitos em 2023, esse aumento representa uma taxa de 39,53%.
O estigma em torno da saúde mental tem um impacto profundo e negativo na procura por ajuda. Do ponto de vista da psiquiatra e diretora assistencial da Vila Verde, Gabriela Lima Ladeira, o medo de julgamento ou vergonha pode fazer com que indivíduos com transtornos mentais graves evitem ou atrasem a busca por tratamento. Considerando a situação alarmante, a campanha do Setembro Amarelo começou no ano de 2015 no Brasil, e é inspirada no movimento internacional de conscientização sobre o suicídio.
Segundo a pisquiatra Gabriela Lima Ladeira, o medo de julgamento ou vergonha pode ser obstáculo para tratamento (Foto: Divulgação)
O lema da campanha deste ano é “Se precisar, peça ajuda”, reforçando a gravidade do tópico e a importância dessa conscientização. Para a especialista, a educação pode ajudar a aumentar a compreensão pública sobre doenças mentais, reduzindo o estigma associado a elas e incentivando as pessoas a procurarem tratamento mais cedo. “No contexto psiquiátrico, sabemos que o suicídio é muitas vezes uma consequência de transtornos mentais não tratados, como depressão e transtornos de personalidade, e que muitas dessas mortes podem ser evitadas se houver uma intervenção precoce” diz a médica.
Na prática psiquiátrica, Gabriela comenta que sinais de transtorno mental grave ou risco de suicídio incluem falas desesperançosas, ausência de planejamentos para o futuro, isolamento social, perda de interesse em atividades antes prazerosas ou até mesmo alterações de humor persistentes. Mas ela ressalta que os sintomas não são o suficiente para se autodiagnosticar, e que o laudo fechado só pode ser feito com um profissional da saúde especializado.
Preconceito dificulta diagnóstico e atrasa tratamento
Hael Nascimento, estudante de psicologia na Universidade Federal de Juiz de Fora, tem enfrentado desafios com o atendimento de saúde mental no município. Diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA) e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), Hael faz tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em entrevista à Tribuna, o estudante conta sobre a dificuldade para obter uma consulta com um neurologista e com a falta de medicamentos essenciais para seu tratamento. Desde novembro de 2023, os remédios prescritos têm estado em falta. Dos sete que são retirados pelo SUS, apenas três estão disponíveis, segundo o paciente. “A falta dos medicamentos aumentou minha irritabilidade, o que infelizmente afeta minhas atividades diárias”, relatou o estudante.
A Secretaria de Saúde justificou as interrupções no fornecimento de medicamentos como sendo pontuais, atribuídas à alta demanda dos usuários e à capacidade limitada de entrega das empresas contratadas. Além das dificuldades atuais, Hael também contou que seu diagnóstico de TEA foi tardio, devido ao preconceito que ronda o tratamento da saúde mental. Para ele, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que haja um atendimento adequado e eficiente para todos os pacientes.
*estagiária sob a supervisão da editora Júlia Pessôa
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