Prefeito candidato à reeleição e o pai morrem a tiros em ato de campanha; vice foi acusada de ameaça

Prefeito candidato à reeleição e o pai morrem a tiros em ato de campanha; vice foi acusada de ameaça
prefeito de João Dias (RN), Marcelo Oliveira (União Brasil), levou ao menos 11 tiros, enquanto caminhava na periferia da cidade Foto: Reprodução/Rede social
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Testemunhas dizem que ao menos oito criminosos chegaram em dois carros e começaram a atirar sem nada dizer; irmã da vice, que foi afastada, assumirá prefeitura

O Tempo   Por Renato Alves

 

BRASÍLIA - Candidato à reeleição, o prefeito de João Dias (RN), Marcelo Oliveira (União Brasil), de 38 anos, foi assassinado com ao menos 11 tiros nesta terça-feira (27). O pai dele, o ex-vereador Sandi Alves de Oliveira, 58, também morreu após disparos. Um homem que fazia a segurança de ambos foi ferido na ação criminosa.

Policiais civis prenderam, na manhã desta quarta-feira (28) 12 pessoas suspeitas no envolvimento do duplo homicídio. Entre eles, um taxista e uma pessoa que estava com ele em um carro. Ambos foram presos na zona rural de Antônio Martins. As outras 10 pessoas estavam na zona rural de João Dias. 

Com essas 10 pessoas presas, foram encontradas 13 armas de fogo, incluindo fuzil, espingarda calibre .12, pistola automática e revólver, além de munições. Os nomes dos suspeitos não haviam sido divulgados até até a mais recente atualização desta reportagem.

Agentes também apreenderam dois carros que teriam sido usados no crimes. Um estava parcialmente queimado, numa estrada de terra. Outro, uma Nissan de cor preta, foi encontrada abandonado próximo ao local da prisão do taxista. Segundo a polícia, havia marcas de balas de um possível revide no momento da ação criminosa. 

O crime ocorreu na manhã de terça-feira. As vítimas participavam de uma caminhada, em ato de campanha, na periferia da cidade. Testemunhas contaram à Polícia Civil que ao menos oito criminosos chegaram em dois carros e começaram a atirar sem nada dizer.

Marcelo Oliveira – seu nome verdadeiro é Francisco Damião de Oliveira – chegou a ser levado para o Hospital Regional de Catolé do Rocha (PB), que fica a 13km de João Dias, mas não resistiu e morreu por volta das 13h. O pai dele morreu no local do crime.

Marcelo Oliveira era casado. Além da esposa, ele deixou dois filhos. Em nota, a Secretaria Estadual de Segurança Pública disse que mobilizou equipes da Polícia Militar e da Polícia Civil para identificar, localizar e prender os criminosos.

Também em nota, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), disse ser “lamentável e inaceitável” o crime na cidade potiguar, distante 365km de Natal, capital do Estado. Já o presidente do União Brasil, Antonio de Rueda, disse que o partido recebeu a notícia do assassinato com “grande consternação”.

Prefeito renunciou ao cargo por ‘coação’ e depois voltou

Marcelo Oliveira renunciou ao cargo meses após a posse e voltou ao comando do município em 2022, sob autorização da Justiça. Ele alegou que foi coagido a abrir mão do cargo sob ameaças da sua então vice-prefeita, Damária Jácome (Republicanos) e do pai dela, Laete Jácome, que presidia a Câmara Municipal. Damária também concorre à prefeitura de  João Dias em 2024.

Marcelo Oliveira entregou o cargo em julho de 2021. Logo em seguida ele foi à Justiça pedir que fosse reconduzido ao cargo. A defesa afirmou, no pedido, que o prefeito sofreu “coação moral irresistível consistente em ameaças de morte à sua pessoa e à sua família” e, por isso, havia deixado o mandato.

Em outubro de 2022, uma decisão da desembargadora Maria Zeneide Bezerra determinou o retorno imediato de Marcelo Oliveira ao comando de João Dias.

Ex-vice-prefeita e familiares acusados de ameaçar o titular

Em dezembro do mesmo ano, Damária e Laete Jácome foram afastados dos cargos e tiveram mandados de prisão expedidos pela Justiça, em uma operação que investigava a suposta extorsão contra o prefeito. 

Segundo o Ministério Público, que deflagrou a operação Omertà, além da vice-prefeita e do presidente da Câmara, as ameaças sofridas pelo prefeito eleito eram feitas pelos irmãos dela, que eram acusados de outros crimes.

Dois deles morreram em confronto com a polícia durante o cumprimento de mandados de prisão por tráfico de drogas na Bahia. O patriarca da família também morreu, em julho deste ano.

Advogado da família, Leonardo Dias diz que as ameaças relatadas por Marcelo eram mentirosas e não citavam o nome da ex-vice-prefeita. Segundo Dias, o ex-prefeito teria vendido o cargo em troca de R$ 1 milhão. “O prefeito alegava que quem ameaçava era os irmãos. Ela [Damária] sempre negou”, afirmou.

Irmã da ex-vice-prefeita vai assumir prefeitura

O caso de Damária ainda não foi julgado pela Justiça do RN, e não há previsão de ser colocado em votação no plenário. Com isso, quem deve assumir a prefeitura de João Dias é Leidiane Jácome, irmã da ex-vice-prefeita e atual presidente da Câmara Municipal.

Outras duas candidatas estão registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para disputar a prefeitura de João Dias. Além de Damária Jácome, concorre a servidora pública aposentada Irenilda Ferreira (MDB).

Com  2.654 habitantes, segundo o Censo de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), João Dias é o terceiro menos populoso município do Rio Grande do Norte. Ele também é marcado pelo desemprego e pela pobreza. Dados do IBGE mostram que havia apenas 294 pessoas ocupadas no município em 2022, com renda média de 1,5 salário mínimo.