Médico de paciente que morreu durante retirada de DIU é indiciado por homicídio doloso

Médico de paciente que morreu durante retirada de DIU é indiciado por homicídio doloso
Fachada da clínica Med Center, em Matozinhos, na Grande BH — Foto: Reprodução/Google Street View
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Segundo a Polícia Civil, Roberto Márcio Martins de Oliveira, de 59 anos, demorou a acionar socorro para Jéssica Marques Vieira. Caso ocorreu em Matozinhos, na Grande BH, em novembro de 2023.

Por Rafaela Mansur, Manoela Borges, g1 Minas e TV Globo — Belo Horizonte

 

A Polícia Civil de Minas Gerais indiciou o cardiologista Roberto Márcio Martins de Oliveira, de 59 anos, por homicídio doloso pela morte da paciente Jéssica Marques Vieira, de 32, durante um procedimento para a retirada de dispositivo intrauterino (DIU). O caso ocorreu em novembro de 2023, em Matozinhos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Segundo o delegado Cláudio de Freitas Neto, o laudo de necrópsia constatou que a morte decorreu de um edema pulmonar, que teria sido causado por fatores relacionados à sedação.

O médico foi indiciado por causa da demora para acionar socorro. De acordo com as investigações, o procedimento, realizado em uma clínica no centro da cidade, começou por volta das 7h30. Às 9h, Jéssica começou a apresentar complicações, e o cardiologista só acionou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) perto das 11h, depois de já ter feito várias manobras de ressuscitação na paciente.

"A investigação entende que ele assumiu o risco de produzir a morte não acionando o resgate imediatamente. Ele tentou resolver a situação sem envolver pessoas externas, até por causa das irregularidades. A clínica não era autorizada a fazer esse tipo de procedimento, eles não seguiam as determinações. Então, para evitar problemas para ele, nós entendemos que ele colocou a vida dela em risco", afirmou o delegado.

 

Segundo ele, o cardiologista ainda descumpriu uma regulamentação do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre sedação profunda, ao fazer o procedimento sem acompanhamento de outro médico.

 

"O CFM determina que, para fazer a sedação profunda, são necessários dois médicos. Enquanto um cuida da sedação e do monitoramento do paciente, o outro faz o procedimento em si, para diminuir os riscos da sedação", explicou o delegado.

 

De acordo com a Polícia Civil, Roberto Márcio Martins de Oliveira oferecia serviços ginecológicos gratuitos para pacientes durante consultas cardiológicas. Ele é suspeito de ter abusado sexualmente de pelo menos sete pacientes e está preso desde novembro do ano passado.

 

"O primeiro caso de violação sexual, a gente tomou conhecimento antes da morte da paciente. Mas, após o falecimento da vítima, com a divulgação do caso, outras vítimas procuraram a delegacia para fazer denúncia também", afirmou o delegado.

 

Ainda de acordo com o delegado, nesta quarta-feira (20), uma outra vítima procurou a polícia relatando possíveis abusos semelhantes.

No caso de Jéssica, não foram constatados indícios de violência sexual.

 

Relembre

 

Jéssica Marques Vieira morreu durante a retirada do DIU na clínica Med Center, em Matozinhos, no último dia 4. Ela era paciente do cardiologista Roberto de Oliveira desde 2011.

De acordo com o boletim de ocorrência, duas horas e meia após o início do procedimento, o pai da paciente e o genro dele não tinham recebido nenhuma notícia. Tempo depois, funcionários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Matozinhos chegaram à clínica com um desfibrilador e levaram a paciente.

O pai de Jéssica afirmou à polícia que, quando a filha foi colocada na ambulância, ela já estava morta.

A clínica Med Center, onde o procedimento de retirada do DIU foi realizado, foi interditada pela Prefeitura de Matozinhos no dia 10 de novembro.