Empresários de MG projetam perda de 18 milhões de empregos com fim da escala 6×1

Setor produtivo se reuniu para debater os efeitos da redução da jornada de trabalho na economia do país
O TEMPO
Os principais empresários do setor produtivo mineiro se reuniram nesta quarta-feira (16/4) para debater sobre a PEC 08/25, que propõe a redução da jornada de trabalho, e seus efeitos no setor produtivo, na vida do trabalhador, das empresas e do consumidor. O evento "Jornada 6x1 e os Impactos nas Relações de Trabalho" aconteceu no Teatro Sesiminas, em Belo Horizonte.
O assunto é discutido na Câmara dos Deputados e, atualmente, há uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) que visa a redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais, estabelecendo três dias de descanso e quatro dias trabalhados.
Antes do debate com os representantes das entidades, houve a apresentação de um estudo produzido pela gerência de economia e finanças empresariais da Federação da Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) sobre os "Impactos Socioeconômicos da Redução da Jornada de Trabalho" pelo economista-chefe da entidade João Gabriel Pio.
De acordo com a Fiemg, caso a proposta seja aprovada haverá um cenário de aumento de custos para as empresas, perda de competitividade, elevação da informalidade e um potencial fechamento de até 18 milhões de postos de trabalho no país e redução de até R$ 480 bilhões na massa salarial.
Além disso, a redução da jornada sem o correspondente aumento da produtividade poderia comprometer até 16% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, com uma queda de até R$ 2,9 trilhões no faturamento dos setores produtivos.
“Antes de discutir a redução da jornada de trabalho, o Brasil precisa enfrentar o seu maior desafio: a baixa produtividade. O trabalhador brasileiro produz, em média, apenas 23% do que um trabalhador dos Estados Unidos. Reduzir o tempo de trabalho sem elevar a produtividade é uma conta que não fecha e coloca em risco milhões de empregos”, explicou João Gabriel Pio.
Já em um cenário moderado, com aumento de 1% na produtividade, as perdas de empregos podem chegar a 16 milhões, com impacto negativo de R$ 428 bilhões na renda dos trabalhadores.
O presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, destacou que o aumento do custo do trabalho tende a ser repassado para os consumidores, pressionando a inflação e atingindo especialmente os pequenos negócios.
“Imagine um restaurante que funciona com dois garçons. Se a jornada for reduzida, o dono do estabelecimento precisará contratar mais um garçom para manter o funcionamento. Esse custo a mais inevitavelmente será repassado para o preço da comida que chega à mesa do cliente”, exemplificou.
O estudo também aponta que o fim da escala 6×1 pode estimular o aumento da informalidade no mercado de trabalho, que hoje já atinge 38,3% dos trabalhadores brasileiros. Segundo a análise, muitas empresas, principalmente as pequenas e médias, terão dificuldades para arcar com o aumento dos custos trabalhistas, o que pode levá-las a recorrer a contratações informais ou até mesmo reduzir suas operações.
Competitividade internacional
A medida ainda impacta a competitividade do Brasil no cenário internacional. Países como México, China, Índia e Vietnã mantêm jornadas de trabalho mais extensas e custos mais baixos, o que pode atrair investimentos e produção industrial, prejudicando a geração de emprego e renda no Brasil.
“A experiência internacional mostra que a redução da jornada precisa ser acompanhada de ganhos reais de produtividade. Mesmo em países ricos, como a França, a redução da carga horária de 39 para 35 horas não trouxe os resultados esperados e gerou perda de competitividade”, alerta Roscoe.
O estudo elaborado pela Foemg ainda destaca que o caminho para o desenvolvimento do país passa necessariamente pelo aumento da produtividade, com investimentos em educação, qualificação profissional, inovação e melhoria do ambiente de negócios, e não pela simples redução da jornada de trabalho.
O evento também contou com a presença de Nadim Donato, presidente da Federação do Comércio, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio MG); Cledorvino Belini, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas); Marcelo de Souza e Silva, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL BH) e presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas e Frank Sinatra Santos Chaves, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL).
Também estiveram presentes Renato José Laguardia de Oliveira, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg); Valmir Rodrigues, presidente da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Minas Gerais (Federaminas), Valmir Rodrigues; Sérgio Pedrosa, diretor da Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg) e da Confederação Nacional do Transporte (CNT); Ronaldo Scucato, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg) e Fausto Varela Cançado, presidente do Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais (CIEMG).
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