Em 2025, número de jovens eleitos será o menor do século

Em 2025, número de jovens eleitos será o menor do século
TER-MG prepara as urnas para o primeiro turno das eleições de Belo Horizonte Foto: Fred Magno / O Tempo
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De 2018 para 2022, filiações partidárias dos 16 aos 24 anos caíram 78,5%

O Tempo    Por Salma Freua

 

Em 2025, dos 853 municípios de Minas Gerais, 16 terão prefeitos com menos de 30 anos. No caso dos vereadores, serão 506 nesta faixa etária. Levantamento realizado por O TEMPO revela que o número de prefeitos e vereadores jovens é o menor do século XXI tanto no Estado como no Brasil, que, em 2024, elegeu 112 prefeitos e 3.284 vereadores com até 30 anos, considerando todas as 5.570 cidades do país. A base usada para o levantamento foi a do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que disponibiliza dados a partir do ano 2000. A análise adota a faixa etária definida pelo Estatuto da Juventude, que dispõe sobre os direitos do grupo e considera jovens que têm menos de 30 anos.

A idade mínima para ser vereador no Brasil é 18 anos, a mais baixa entre os cargos políticos. Para chefiar o Executivo municipal, a exigência é de 21 anos, também uma das menores. Ainda assim, a quantidade de jovens se elegendo e ocupando esses postos está em queda no Estado e no Brasil.

De acordo com o mapeamento de O TEMPO, em 2020, 6,28% dos eleitos para as Câmaras e prefeituras no Brasil tinham até 29 anos, totalizando 4.328 jovens. Em 2024, esse percentual caiu para 5,11%, correspondendo a 3.510 eleitos, uma redução de 18,9%. 

Em Minas Gerais, a tendência é similar: a porcentagem caiu de 6,43% (653 eleitos) para 5,24% (532 eleitos), uma redução de 18,5% no índice. Entre 2000 e 2024, a maior presença da juventude ocorreu em 2008, quando 8,18% dos eleitos no Brasil e 7,79% em Minas Gerais eram jovens. Em 2000, primeiro ano da série histórica, a proporção foi de 6,99%. Embora a população brasileira esteja envelhecendo, a juventude ainda é muito sub-representada nos espaços políticos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo de 2010, a população brasileira entre 18 e 29 anos era de 40.982.604, representando 21,5% da população total do país. No Censo de 2022, essa faixa etária foi reduzida para 36.706.831, representando 18% da população total.

Filiações em queda

O número de filiações partidárias de adolescentes e jovens na faixa dos 16 aos 24 anos despencou 78,5% em Minas entre as eleições gerais de 2018 e 2022, segundo dados do TSE. No Brasil, também houve uma queda significativa, de 60,4%, considerando o mesmo período e intervalo etário.

Para Daniela Costa, gerente de redes e advocacy da Girl Up Brasil, organização responsável pelo projeto Juventude Eleita, a baixa presença de cidadãos com menos de 30 anos nos espaços legislativos e executivos e a queda nesses números refletem certo descrédito dos jovens em relação à política partidária. 
“Existe um descrédito muito grande que faz com que muitos jovens não se interessem pela política partidária atualmente, e consequentemente temos menos candidatos jovens. Eles não se veem refletidos nesses espaços e nos representantes eleitos. Temos observado o número de filiações partidárias entre jovens caindo bastante ao longo dos últimos anos”, destacou.

A Câmara Municipal, que tradicionalmente conta com uma presença maior de jovens em comparação a outras instâncias políticas, também terá menos representantes dessa faixa etária no próximo ano. “Até na vereança esses números têm caído, embora essa seja, em geral, uma porta de entrada para os jovens na política. A vereança está mais ligada aos problemas do município, da comunidade, sendo uma forma de política mais tangível para poder se engajar”, observou Daniela.

Dados não significam desinteresse

Para a gerente da Girl Up Brasil, Daniela Costa, a baixa representatividade não significa que os jovens estejam desinteressados pela política como um todo. “Existe um estereótipo de que a juventude não se interessa por política, o que é mentira. Existe esse descrédito com a política partidária, mas os jovens debatem política constantemente, se organizam, se mobilizam em muitos espaços”, diz Daniela.

Como exemplo, ela relembra a grande participação de jovens em protestos ao longo da história do Brasil. O problema, segundo Daniela, é que essa situação não se reflete no espaço político-partidário. “Quando a gente vê as grandes manifestações que lutam por direitos sociais, a juventude está na frente, então ela se interessa sim, por política, mas tem visto cada vez mais menos espaço, ainda mais quando o cenário político está tão bem consolidado e atores tão bem estabelecidos que ocupam os mesmos espaços há muito anos e isso acaba prejudicando a própria renovação democrática do país”, avaliou. 

ONG defende cotas para candidatos novo

A ONG liderada por Daniela Costa está à frente de uma coalizão de organizações da sociedade civil para avançar com o projeto Juventude Eleita, que propõe cota mínima de 10% das candidaturas para pessoas com menos de 30 anos. A PL 7292, defendida pelo projeto, está em tramitação na Câmara dos Deputados.

“A gente não têm incentivos na lei eleitoral para que o jovem entre na política, como existem sistemas de cotas de gênero e raça, que têm aumentado a participação política das mulheres, por exemplo”, explica Daniela.

Uma das justificativas para a defesa das cotas é para que mais recursos sejam direcionados às campanhas de candidatos jovens. “Os recurso são menores para jovens, e são candidaturas que precisam proporcionalmente de mais investimento para se eleger, ou porque ainda não tem capital político acumulado para concorrer com outras, ou por todos os estereótipos ligados à juventude que falam que o jovem é incapaz de propor política pública e incapaz de assumir um cargo de liderança ou um cargo político”.

As exceções, segundo Daniela, são aqueles que já vêm de famílias tradicionais ou fenômenos de redes sociais. “Os poucos jovens que se elegem acabam sendo aqueles que ou recebem grande investimento do partido, que é muito raro, ou jovens que já têm um nome familiar muito forte naquele município, e o capital político dele muitas vezes vem de um nome de família”.