Alzheimer: estudo revela que hormônios contaminados podem transmitir doença
Pesquisa relatou casos de crianças que desenvolveram sintomas de demência após receberem hormônios de cadáveres durante tratamento médico
Itatiaia Por Frederico Gandra
Um estudo da University College London, publicado na revista Nature, sugere que o Alzheimer pode ser transmitido por intervenção ou tratamento médico indevido.
A pesquisa relatou casos de pacientes do Reino Unidos que desenvolveram sintomas de demência precocemente, incluindo características consistentes com a doença, após receberem hormônios contaminados de cadáveres humanos durante o tratamento para crescimento, na infância.
O Alzheimer é uma condição neurodegenerativa crônica e progressiva que afeta principalmente a memória, o pensamento e o comportamento.
Os fatores de risco incluem envelhecimento, histórico familiar e genética. Mas, a partir de um experimento clínico, os cientistas constataram a possibilidade de transmissão iatrogênica em certas circunstâncias. Entenda:
Estudo
O experimento envolveu 1.848 crianças e adolescentes com deficiência de crescimento.
Os pacientes receberam injeções com um hormônio do crescimento extraído do cérebro de cadáveres.
O método era comum no passado, quando o hormônio de crescimento humano (HGH) era extraído da glândula de cadáveres humanos para uso terapêutico.
O HGH é crucial para o crescimento e desenvolvimento do corpo, e a sua falta pode resultar em uma estatura abaixo da média.
Antes do surgimento de técnicas para a produção sintética do hormônio, alguns tratamentos utilizavam a glândula encontrada no cérebro de cadáveres.
No entanto, crianças que receberam hormônio de crescimento (c-hGH) contaminado com quantidades significativas de beta-amiloide (Aβ) - uma proteína que se acumula no cérebro de pessoas com Alzheimer - desenvolveram ao longo da vida sintomas neurológicos, incluindo distúrbios cognitivos associados à doença.
Dos oito participantes do estudo da University College London, cinco desenvolveram sintomas de demência entre os 38 e 55 anos.
Os pesquisadores concluíram que a demência precoce nesse grupo não podia ser explicada por outros fatores e as suspeitas foram relacionadas à técnica usada com hormônios contaminados.
Estudos anteriores encontraram depósitos de placas beta-amiloide no cérebro de pessoas que receberam esses hormônios e em lotes armazenados em laboratório.
Novas possibilidades
Os pesquisadores acreditam que essa descoberta pode impulsionar a pesquisa sobre diagnóstico e terapias para diversas formas de demência.
A possível ligação entre o hormônio do crescimento contaminado com beta-amilóide e o desenvolvimento de demência, como o Alzheimer, pode abrir caminho para a identificação precoce de condições neurodegenerativas e o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.
Como, por exemplo, procedimentos médicos visando especificamente à formação de placas beta-amiloide no cérebro.
A pesquisa também destaca a importância de adotar medidas rigorosas de controle de qualidade e segurança em tratamentos médicos que envolvam produtos biológicos, como hormônios.
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