Violência patrimonial chega a 40?s ocorrências contra idosos

Violência patrimonial chega a 40?s ocorrências contra idosos
Situações de violência patrimonial mais recorrentes na cidade são responsáveis por cerca de 40?s ocorrências envolvendo idosos (Foto: Fernando Priamo/Arquivo TM)
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Crime do falso funcionário de banco lidera a lista, segundo delegado; Febraban orienta como evitar cair em golpes

Por Sandra Zanella Tribuna de Minas 

Do outro lado da linha, uma pessoa se apresenta como funcionário do banco onde a cliente, de 68 anos, tem conta. Na sequência, alerta que o cartão dela estava sendo utilizado por terceiros. Durante a conversa, o estelionatário convence a vítima a digitar a senha na tela do celular. Isso foi suficiente para que R$ 20 mil fossem transferidos da conta dela, inclusive por meio de PIX. Os golpistas ainda descobriram que a mulher era usuária de outro estabelecimento bancário e a persuadiram a fazer um empréstimo de R$ 30 mil. Do montante, R$ 14.900 foram transferidos, possivelmente para contas do bando. O crime foi registrado na última quarta-feira (5) em Juiz de Fora, mas casos como esse acontecem diariamente em todo o país. Às vésperas do Dia Mundial de Conscientização sobre a Violência contra a Pessoa Idosa, celebrado no dia 15, a Tribuna conversou com o delegado do Núcleo de Atendimento ao Idoso, Rodolfo Rolli, sobre as situações de violência patrimonial mais recorrentes na cidade, responsáveis por cerca de 40% das ocorrências envolvendo idosos.

O crime do falso funcionário de banco lidera a lista, segundo a autoridade policial. “Ligam para a casa do idoso, falam que é do banco e que o cartão foi clonado. Aí dizem que vão buscar o cartão na casa da pessoa, e, muitas vezes, a senha está junto”, destaca Rolli. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) alerta que as instituições não pedem os cartões de volta, mesmo se houver a possibilidade de fraude ou defeito, portanto, não mandam um portador buscar em domicílio. “Quando perdem o celular, também estão todos os dados lá, e os estelionatários se aproveitam muito disso para fazer empréstimos mediante golpe”, comenta Rolli. “Os idosos tentam acompanhar a tecnologia, mas muitos não conseguem. Ainda têm o problema da visão, então às vezes apertam as teclas erradas, acabam fazendo transferências (equivocadas) ou pagando duas vezes alguém. Fora a dificuldade de locomoção até o banco. Esses avanços facilitaram as coisas apenas para os golpistas”, conclui o delegado.

 

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Segundo ele, a situação dos estelionatos envolvendo a terceira idade foi agravada pelo avanço da tecnologia, com o uso de aplicativos como WhatsApp e de bancos, incluindo a possibilidade de fazer empréstimos on-line. “Vemos muitos idosos se endividando.” Rolli indica a importância de investigações federais acerca do vazamento de dados dos aposentados às instituições financeiras. “Muitas vezes ligam, e a pessoa contrata empréstimos que não queria ou não precisava. Quando vê, está recebendo R$ 300 por mês de tanto consignado. Outras vezes quer ajudar filho, neto ou outro familiar e se endivida.”

Segundo a Febraban, antes de contratar um empréstimo consignado é importante pedir uma simulação. “Nunca decida com pressa, desconfie de propostas exageradas, não faça depósitos antecipados para receber o empréstimo e nunca assine nada sem ler. Em caso de devolução de crédito consignado por arrependimento ou contratação não solicitada, procure os canais de relacionamento do banco e nunca faça depósitos em contas de terceiros.”

Maior tempo on-line propicia golpes

De acordo com a Febraban, com o uso mais intenso dos meios digitais para atividades cotidianas, criminosos aproveitam o maior tempo on-line das pessoas para tentar aplicar golpes. “Destacam-se os crimes que usam a engenharia social, que consiste na manipulação psicológica do usuário para que ele lhe forneça informações confidenciais, como senhas e números de cartões para os criminosos, ou faça transações em favor das quadrilhas.”

A entidade afirma que, junto aos bancos, investe constantemente e de maneira massiva em campanhas e ações de conscientização em seus canais de comunicação com os clientes para orientar a população a se prevenir de fraudes. “Além da realização de campanhas educativas, os bancos investem cerca de R$ 3,5 bilhões por ano em sistemas de tecnologia da informação (TI) voltados para segurança – valor que corresponde a cerca de 10% dos gastos totais do setor com TI para garantir a tranquilidade de seus clientes em suas transações financeiras cotidianas.” Caso a pessoa seja vítima de um golpe como esses, a orientação é fazer um boletim de ocorrência e notificar o banco o quanto antes.

Caso do ‘Tio Paulo’ chama atenção para violência familiar

A violência patrimonial, assim como a moral, muitas vezes está atrelada à família, aponta o delegado. Um caso recente de repercussão nacional, que chocou pela frieza e pelo absurdo da situação, foi o do “Tio Paulo”, um idoso de 68 anos, levado pela sobrinha, 42, em uma cadeira de rodas a uma agência bancária do Rio de Janeiro para sacar um empréstimo de R$ 17 mil. No entanto, ele já estava morto naquele 16 de abril quando chegou à instituição. As imagens da mulher tentando fazer o tio assinar a autorização, mesmo sem vida, viralizaram. A familiar da vítima virou ré por tentativa de estelionato e vilipêndio de cadáver, que é o ato de menosprezar a pessoa morta.

“Percebemos que, em muitos casos, a família vai ao Judiciário e pleiteia a curatela do idoso porque realmente está preocupada. Em outros, no entanto, tem simples cunho financeiro, por conta do patrimônio elevado, apesar de o Ministério Público fiscalizar os gastos”, dispara Rolli. Ele também comenta sobre um episódio recente de abandono de incapaz na cidade, em que o idoso precisou ser internado em hospital, após ligação ao Disque-Denúncia Unificado (DDU) informando que ele estaria em um quarto cheio de fezes. “Não queriam levá-lo, mas ele não tinha condições de ficar sozinho. Precisei falar para constar no boletim de ocorrência da PM os nomes dos funcionários dos serviços que não queriam atender a situação para que resolvessem encaminhá-lo. Ninguém quer chamar para si a responsabilidade da pessoa idosa, porque às vezes envolve questões como demência e mobilidade. Quando não tem condição financeira que favoreça, ninguém quer saber. A verdade é essa.”

Há cerca de quatro meses à frente do Núcleo de Atendimento ao Idoso, que funciona no terceiro piso do Santa Cruz Shopping, no Centro de Juiz de Fora, o delegado declara como é importante a Polícia Civil oferecer esse serviço especializado. “A população está envelhecendo. Não fazemos só a repressão a esses crimes. Nos demais casos, trabalhamos com o princípio da conciliação, antes de partir para o inquérito.

Também chamamos as psicólogas da Delegacia da Mulher para ajudar a resolver. Muitos familiares pegam o cartão do idoso, que fica na mesa, com a senha, para fazer empréstimo. E como vai provar que não foi o idoso que contraiu a dívida?”, exemplifica, sobre as dificuldades encontradas pelas vítimas. Muitas ocorrências de fraudes financeiras são encaminhadas pelo delegado aos órgãos competentes, como Procon e Sedecon. “Sabemos que a justiça é lenta, mas não pode ser lenta com o idoso, porque ele não tem tanto tempo”, enfatiza o delegado, sobre a necessidade de criação de varas específicas no Judiciário, além de mais políticas públicas direcionadas a essa população. “Todos os órgãos precisam ter sensibilidade e prestar serviços adequados.”

Confira 10 dicas anti-golpe da Febraban

1. Cuidado com as suas senhas: Não compartilhe sua senha com amigos e parentes ou encaminhe senhas por aplicativos de mensagens, e-mails ou SMS. Nunca utilize dados pessoais como senha (ex: data de aniversário, placa de carro etc.), nem números repetidos ou sequenciais (ex: 111111 ou 123456), nem anote senhas em papel, no celular ou no computador.

2. Cuidados com seu cartão: Nunca entregue seu cartão a ninguém. Os bancos não pedem os cartões de volta, mesmo se houver a possibilidade de fraude ou defeito. Eles também não mandam um portador buscar seu cartão.

3. Confira seu cartão após uma compra: Ao terminar de realizar uma compra na maquininha, verifique o nome no cartão para ter certeza de que realmente é o seu. Sempre confira o valor na maquininha antes de digitar a sua senha. E proteja o código de segurança.

4. Ative duplo fator de autenticação: Sempre ative a função de segurança “duplo fator de autenticação” em suas contas na internet que oferecem essa opção: e-mail, redes sociais, aplicativos e sistemas operacionais.

5. Atenção com ligações: Se receber contato em nome do banco solicitando para ligar para sua Central de Atendimento, ligue a partir de outro aparelho, assim evita que o golpista “prenda” a sua linha telefônica. E nunca informe suas senhas.

6. Nunca clique em links desconhecidos: Sempre confira a origem das mensagens ao receber promoções e e-mails que se dizem do banco. Nunca clique em links de promoções muito vantajosas ou que peçam sincronização, atualização, manutenção de token, app ou cadastro. O banco nunca envia e-mails informando que sua conta foi invadida, nem pede para enviar os seus dados.

7. Cuidado em compras on-line: Dê preferência a sites conhecidos e confira sempre se o endereço do site é o verdadeiro. Para garantir, não clique em links, digite o endereço no navegador. Sempre use o cartão virtual para realizar compras na internet.

8. Cuidado nas operações bancárias: Sempre confira o nome do recebedor ao pagar um boleto, realizar transferências ou Pix.

9. Não fotografe ou filme a tela do caixa eletrônico ao usá-lo: Nunca envie fotos, vídeos ou capturas de tela pelo celular. Se precisar de auxílio no caixa eletrônico, peça ajuda a um funcionário do banco devidamente identificado.