Trinta anos do tetra: pilares da seleção falam dos bastidores da Copa de 94

Trinta anos do tetra: pilares da seleção falam dos bastidores da Copa de 94
Brasil foi tetracampeão no dia 17 de julho de 1994, na Copa dos EUA Foto: FIFA/DIVULGAÇÃO
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Líderes do time campeão do mundo nos Estados Unidos falam dos momentos de dificuldades e a glória de trazer mais uma taça para o Brasil

O Tempo Sports     Por Daniel Seabra e Frederico Jota

 

Poucas vezes uma seleção brasileira foi tão cobrada antes de uma Copa do Mundo. Em 1994, o time chegou ao Mundial dos Estados Unidos, em junho, com uma pressão gigantesca da torcida e da imprensa. O peso de 24 anos sem levantar um Mundial era enorme e o jejum vinha desde a Copa de 1970, no México.

E quem sabia bem disso eram três líderes do time: o zagueiro Ricardo Rocha, o lateral-direito Jorginho e o goleiro Taffarel, remanescentes da Copa de 1990, na Itália, que saíram do estádio Rose Bowl, em 17 de julho de 1994, como tetracampeões do mundo, após vitória diante da Itália, nos pênaltis (3 a 2, depois de um 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação).

“Eram muitos anos sem ganhar, 24. A gente sabia dessa pressão. A maioria dos jogadores da Copa de 1994 esteve na Copa de 1990, tinham uma certa experiência, e isso ajudou muito. Mas o grupo era muito tranquilo. E experiente também”, disse o ex-zagueiro Ricardo Rocha, a O TEMPO Sports.


Além de líder, Ricardo Rocha chegou a usar a faixa de capitão em várias ocasiões e ajudou em momentos decisivos antes de chegar aos EUA, como na árdua classificação nas Eliminatórias, confirmada só no jogo final contra o Uruguai, resultado importante para dar confiança.

“O clima era bom. Chegamos tranquilos. Tivemos uma grande classificação diante do Uruguai nas Eliminatórias, 2 a 0, com a volta do Romário. Entre nós, jogadores, era tranquilo, mas sabendo que tínhamos que trabalhar bastante”, frisou Rocha.

Em pé: Taffarel, Jorginho

Em pé: Taffarel, Jorginho, Aldair, Mauro Silva, Márcio Santos e Branco. Agachados: Mazinho, Romário, Dunga, Bebeto e Zinho. 

Lesão e liderança nos bastidores

Titular absoluto, Ricardo Rocha não contava com o destino. Na vitória do Brasil contra a Rússia (2 a 0), na estreia da Copa de 94, em 20 de junho, aos 25 minutos do segundo tempo, o zagueiro sofreu uma lesão muscular, que significou o fim do Mundial para ele. “Fiquei triste, porque, para mim, seria a última Copa. Conversamos com o grupo e tentei contribuir da melhor maneira possível fora de campo”, relembrou.

A liderança do pernambucano era tanta que ele seguiu com o grupo nos Estados Unidos, mesmo não tendo condições de jogo. “A decisão de ficar no grupo foi depois de uma conversa com os jogadores. Zagallo e Parreira também conversaram comigo, falando da minha importância. Permaneci no grupo, ajudei os jogadores e correu tudo bem. Caminhou como a gente queria, com um grupo muito forte e unido”, disse.

Campanha 

Brasil ainda venceu Camarões (3 a 0) e empatou com a Suécia (1 a 1), na primeira fase.

Nas oitavas, o time passou pelos Estados Unidos (1 a 0), os donos da casa, no dia da Independência norte-americana, 4 de julho. Nas quartas, bateu a Holanda por 3 a 2. Na semi, novamente a Suécia e vitória brasileira por 1 a 0.

Ricardo, hoje com 61 anos, relembrou como era o clima à medida que o Brasil foi se classificando. “A conversa entre nós era simples, antes e depois dos jogos. Quando a gente foi para o mata-mata, falamos da importância do título para todos nós e para o povo. A conversa era olho no olho, sabíamos quem tinha algum problema e como estava a equipe mentalmente. Isso era muito bom.”

A técnica do cruzamento

Para se classificar para a final, outro líder apareceu, o lateral-direito Jorginho, autor do cruzamento para o gol de cabeça de Romário. “Tiveram muitos momentos marcantes, mas, para mim o especial foi o cruzamento contra a Suécia para o gol do Romário, de cabeça, que foi nosso último gol na Copa. Foi muito importante, porque nos levou a uma final depois de tantos anos”, relembrou o ex-jogador a O TEMPO Sports.

 

“Treinei por muitos anos para que esse momento chegasse. Lembro que no jogo tinha feito vários cruzamentos, de várias formas, para trás, por cima, por baixo, mas as coisas não aconteciam. Sabia que em algum momento poderia pegar essa bola com mais liberdade, olhando o cenário da área e foi o que aconteceu. Quando o Bebeto me deu o passe, consegui ter uma visão muito clara e fiz um cruzamento perfeito, tirando do primeiro pau, jogando no segundo pau”, completou Jorginho.

Gafe ‘japonesa’

Na final da Copa de 94, a mesma Itália que havia perdido para o Brasil em 1970, ano da última conquista da seleção. Antes de o time entrar em campo, Ricardo Rocha tentou unir os jogadores com um discurso motivacional, mas acabou cometendo uma gafe.

“Antes da final, eu puxei a reza e falei de um grupo de japoneses que iam para a guerra e se matavam pela pátria. Falei de Ayrton Senna, do povo brasileiro, dos problemas e que a gente tinha que fazer como aquele grupo de japoneses, os kawasakis... E aí o Romário mandou: 'Tu é muito burro, meu irmão, não é kawasakis, é kamikazes.' Foi uma gargalhada só. Com kawasakis, com kamikazes, o Brasil foi campeão”, brincou.

Legado eterno

Aquela decisão da Copa de 94 entre Brasil e Itália entrou para a história. Primeiro, por colocar em campo duas seleções das três então tricampeãs - a outra era a Alemanha. Ou seja, uma delas se tornaria tetra.

"O legal é olhar para trás e saber que tem uma história. Poder pensar que um dia você marcou essa seleção, uma camisa que continuo vestindo, mas não em campo, fora de campo", lembrou o ex-goleiro Taffarel, em declaração à CBF sobre o tetra. 

Taffarel tem como maior legado ser uma inspiração para todos os goleiros que seguiram na seleção e, eternamente ligado à camisa, é o atual treinador de goleiros da seleção brasileira.

“Esse título representa muito para mim e para todo o povo brasileiro. É o título de uma equipe forte e unida. O mundo tem mais de 8  bilhões de habitantes, e os campeões do mundo vivos não são 400. A gente faz parte dessa história. É um afago para o resto da vida”, completou o goleiro. 


FICHA DA FINAL


BRASIL 0 (3) x (2) 0 ITÁLIA

  • Local: Rose Bowl, Pasadena, Los Angeles (EUA)
  • Data: 17 de Julho de 1994
  • Público: 94.194 torcedores


BRASIL

Taffarel; Jorginho (Cafu), Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho (Viola); Bebeto e Romário

Técnico: Carlos Alberto Parreira


ITÁLIA

Pagliuca; Benarrivo, Mussi (Apolloni), Baresi e Maldini; Albertini, Dino Baggio (Evani), Berti e Donadoni; Roberto Baggio e Massaro

Técnico: Arigo Sacchi


Nos pênaltis

Romário, Branco e Dunga marcaram para o Brasil; Márcio Santos perdeu. Albertini e Evani fizeram para a Itália; Baresi, Massaro e Roberto Baggio perderam.


CAMPANHA DO BRASIL

Fase de grupos

  • Brasil 2 x 0 Rússia (Romário e Raí)
  • Brasil 3 x 0 Camarões (Romário, Márcio Santos e Bebeto)
  • Brasil 1 x 1 Suécia (Romário e Kennet Andersson)


Oitavas de final

  • Estados Unidos 0 x 1 Brasil (Bebeto)


Quartas de final

  • Holanda 2 x 3 Brasil (Romário, Bebeto e Branco; Bergkamp e Winter)

Semifinal

  • Brasil 1 x 0 Suécia (Romário)

Final 

  • Brasil 0 (3) x (2) 0 Itália