Thammy e outros vereadores retiram apoio à CPI contra padre Júlio Lancellotti

Thammy e outros vereadores retiram apoio à CPI contra padre Júlio Lancellotti
Thammy Miranda (PL) é um dos vereadores que anunciaram a retirado do apoio à CPI — Foto: André Bueno/Câmara Municipal de SP
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Vereadores dizem que foram enganados pelo autor da proposta, Rubinho Nunes, que deu diversas declarações dizendo que o principal alvo é o padre Júlio Lancellotti

Fonte: O Tempo      Por Renato Alves 

Ao menos quatro dos 24 vereadores da cidade de São Paulo que assinaram requerimento pedindo uma CPI para investigar organizações não governamentais (ONGs) que atuam na Cracolândia, região central da capital paulista, anunciaram a retirada de apoio à comissão. Alegam terem sido enganados pelo autor da proposta, Rubinho Nunes (União Brasil), que após conseguir assinaturas suficientes para instalar o colegiado deu diversas declarações dizendo que o principal alvo é o padre Júlio Lancellotti, que lidera trabalhos humanitários em prol da população de rua.

Os vereadores não podem mais retirar as assinaturas, mas a mudança de posição pode inviabilizar a instalação da CPI. A comissão precisa ser pautada pelos líderes da Câmara Municipal e aprovada pela maioria em plenário para sair do papel. Ou seja, vereadores que assinaram o requerimento podem votar contra a abertura da CPI e ajudar a enterrá-la. Rubinho Nunes, que ainda não se pronunciou sobre o recuo de colegas, conta com o início dos trabalhos do colegiado em fevereiro, logo após o fim do recesso na casa legislativa.

Um dos vereadores que anunciaram a do apoio à CPI é Thammy Miranda (PL). Ele inclusive fez uma live nas redes sociais com o padre Júlio Lancellotti na quinta-feira (4). Nela, Thammy anunciou que estava retirando o apoio. “Muito obrigado pelo apoio nesse momento tão difícil”, disse o vereador ao sacerdote no vídeo divulgado nas redes. “Quando eu assinei a CPI, em nenhum momento foi citado o nome do senhor”, disse Thammy, reforçando que “jamais teria assinado” algo nesse sentido.

Thammy aproveitou elogiou o trabalho humanitário realizado pelo padre Júlio e pediu que seus seguidores ajudem em uma vaquinha que o religioso está fazendo para ampliar os serviços de ajuda à população de rua e ofereceu também, ele próprio, ajuda financeira. “As pessoas que me seguem vão ajudar o senhor a fazer esse trabalho tão bonito que o senhor faz”, afirmou Thammy. “Importante que mesmo que nos joguem em posições falsas, antagônicas, nós somos capazes de romper essas barreiras”, respondeu o padre Júlio.

Filho da cantora Gretchen, Thammy foi muito cobrado e criticado nas redes após reportagens mostrarem que ele era um dos 24 vereadores que assinaram a proposta de CPI. Muitos lembraram o apoio público que Thammy Miranda recebeu de Júlio Lancellotti em função da condição transexual do vereador. Ataques que partiram inclusive de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, hoje presidente de honra do PL, o partido de Thammy.

Arquidiocese de SP diz estar perplexa com CPI contra padre

Como o próprio padre Júlio Lancellotti já declarou diversas vezes, ele não está vinculado a nenhuma ONG. Seus trabalhos estão ligados à Ação Pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que não recebe verbas públicas. Dependem de doações e do trabalho de voluntários. O sacerdote também afirmou que se trata de uma ação legítima quando se instala uma CPI para investigar o uso de recursos públicos pelo terceiro setor. Mas reiterou que não integra nenhuma organização conveniada à Prefeitura de São Paulo, mas, sim, a Paróquia São Miguel Arcanjo.

A Arquidiocese de São Paulo afirma que acompanha “com perplexidade” a possível abertura de uma CPI com o padre Júlio Lancellotti como alvo.

“Na qualidade de Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, Padre Júlio exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade”, diz nota do órgão da Igreja Católica.

“Reiteramos a importância de que, em nome da Igreja, continuem a ser realizadas as obras de misericórdia junto aos mais pobres e sofredores da sociedade”, conclui o texto.

A população de rua na cidade de São Paulo aumentou 31% durante a pandemia de Covid-19, passando de 24,3 mil em 2019 para 31,9 mil em 2021. Em relação a 2015, quando havia 15,9 mil moradores de rua, o número dobrou. Os números são de um censo realizado pela prefeitura.

Lula sai em defesa do padre Júlio Lancelotti

A iniciativa de Rubinho Nunes para investigar o padre Júlio Lancellotti provocou embates nas redes sociais, com personalidades e entidades ligadas à esquerda criticando a abertura da CPI das ONGs. O nome do religioso foi parar nos assuntos mais comentados das redes sociais. 

Na quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu em defesa do padre Júlio Lancelotti. Em uma publicação na sua conta do X, ex-Twitter, o petista disse que “graças a Deus” existem figuras como o religioso na capital paulista para “dar amparo a quem mais precisa”.  

“Graças a Deus a gente tem figuras como o Padre Júlio, na capital de São Paulo, que há muitos e muitos anos dedica a sua vida para tentar dar um pouco de dignidade, respeito e cidadania às pessoas em situação de rua. Que dedica sua vida a seguir o exemplo de Jesus. Seu trabalho e da Diocese de São Paulo são essenciais para dar algum amparo a quem mais precisa”, escreveu. 

MBL nega participação em CPI contra padre Júlio Lancellotti

Até o Movimento Brasil Livre (MBL), que vive atacando o padre Júlio Lancelotti nas redes sociais, fez questão de se desvincular da iniciativa de Rubinho Nunes, um dos fundadores do grupo que liderou manifestações que precederam o impeachment de Dilma Rousseff (PT).

O coordenador Nacional do MBL, Renan Santos, publicou na quinta-feira, em suas redes sociais que o grupo não faz parte do pedido de criação da CPI. “Essa briga com esse padre não é nossa”, enfatiza a mensagem, que faz ataques ao religioso.

A postagem afirma que “haverá o momento de confronto com ele e com a indústria da miséria que destrói o centro de SP. Mas não é agora”. Renan Santos ainda escreveu que este ano o MBL já tem “causas, lutas e objetivos” acertados e convida os militantes a não serem “vítimas de circunstâncias alheias”.

Entenda os principais pontos sobre a CPI

  • Quem pediu a CPI:

No dia 6 de dezembro de 2023, Rubinho Nunes (União Brasil) protocolou um pedido de CPI para investigar ONGs e entidades que fazem trabalho social com pessoas carentes e dependentes químicos na Cracolândia, Centro de São Paulo.

Rubinho Nunes é cofundador do MBL e ex-advogado do ex-deputado estadual e ex-integrante do MBL Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, cassado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em 2022 por quebra de decoro parlamentar, após vídeo misógino contra ucranianas que fugiam dos ataques russos.

Rubinho, que está em seu segundo mandato consecutivo de vereador, deixou o MBL em outubro de 2022. Ele atuava como advogado do movimento. De 2011 até hoje, Nunes integrou seis partidos: PR, MDB, Patriota, PSL, Podemos e União Brasil.

  • O que a CPI quer investigar:

Filho do também vereador Rubens Nunes (Podemos), Rubinho, que teve o “estado mínimo” como uma de suas bandeiras, já declarou que Júlio Lancellotti é um dos principais alvos da CPI que tenta emplacar. Ele acusa as ONGs de promoverem uma “máfia da miséria”, que “explora os dependentes químicos do centro da capital”. 

O vereador diz que duas entidades serão prioridade nas investigações conduzidas pela comissão: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, conhecido como Bompar, e a Craco Resiste. Rubinho vincula o Bompar ao padre Júlio.

Depois de colher a assinatura dos colegas, Rubinho Nunes disse nas redes sociais que usaria a CPI para “fazer um raio-x, um exame nas entranhas desse sujeito”. “Vou arrastar ele pra cá em coercitiva, nem que seja algemado. Todo mundo vai saber o que tem por trás do Lancelotti”, declarou o vereador.

  • O que diz Padre Júlio

O religioso já declarou, mais de uma vez, que conta apenas com doações e voluntários, não dirige nem tem parceria formal com nenhuma instituição. Integra apenas a Paróquia São Miguel Arcanjo. Também já disse que apenas foi conselheiro, não remunerado, da Bompar. Deixou há 17 anos a posição no conselho deliberativo da entidade.

  • Qual o pano de fundo da CPI

Por trás da CPI está a disputa eleitoral de 2024. Lancellotti é próximo de Guilherme Boulos (PSOL), um dos pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. Rubinho apoiará a reeleição de Ricardo Nunes (MDB).

Veja a lista dos vereadores que assinaram o pedido da CPI:

  • Rubinho Nunes (União Brasil)
  • Adilson Amadeu (União Brasil)
  • Sandra Tadeu (União Brasil) - retirou apoio
  • Thammy Miranda (PL) - retirou apoio
  • Fernando Holiday (PL)
  • Isac Felix (PL)
  • Xexéu Tripoli (PSDB) - retirou apoio
  • Fábio Riva (PSDB)
  • João Jorge (PSDB)
  • Gilson Barreto (PSDB)
  • Beto do Social (PSDB)
  • Rute Costa (PSDB)
  • Bombeiro Major Palumbo (Progressistas)
  • Sidney Cruz (Solidariedade) - retirou apoio
  • Rodrigo Goulart (PSD)
  • Atílio Francisco (Republicanos)
  • Jorge Wilson Filho (Republicanos)
  • Sansão Pereira (Republicanos)
  • Dr. Nunes Peixeiro (MDB)
  • Marlon Luz (MDB)
  • Dr. Milton Ferreira (Podemos)
  • Rodrigo Goulart (PSD)
  • Não identificado
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