Juiz de Fora enfrenta seca moderada; em São João Nepomuceno, situação é severa
Classificação é obtida a partir da análise de falta de chuvas, nível de umidade do solo e estresse na vegetação; confira a condição de cidades da região
Por Bernardo Marchiori* Tribuna de Minas
No total, 13 cidades da Zona da Mata mineira estão em estado de seca severa. Os dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) indicam que São João Nepomuceno, Argirita, Paula Cândido, Divinésia, Dores do Turvo, Miraí, São Sebastião da Vargem Alegre, Tocantins, Piraúba, Astolfo Dutra, Guarani, Guiricema e Descoberto encontram-se nessa condição. No caso de Juiz de Fora, a situação foi classificada como moderada.
A pesquisadora do Cemaden Ana Paula Cunha explica que os dados do Monitoramento Operacional de Secas do órgão ligado ao Governo federal são obtidos a partir da falta de chuvas, umidade do solo e estresse na vegetação. As informações são reunidas no Índice Integrado de Secas, desenvolvido no Cemaden.
Já as categorias variam de acordo com a intensidade dos fatores analisados para classificação dos municípios. “Quanto maior o déficit (mais fora do normal) estão essas variáveis, maior a intensidade da seca. Ou seja, o índice considera os três fatores: déficit de chuvas em relação à média; umidade do solo (quanto menos úmido, maior o impacto da falta de chuvas); e estresse na vegetação (impacto que a falta de precipitações tem sobre determinada vegetação)”, esclarece Ana Paula.
As classificações do Cemaden, em ordem crescente, são: normal, fraca, moderada, severa, extrema e excepcional. “Nos municípios com seca fraca e moderada, a chuva está um pouco abaixo do normal. Os com classificação extrema já têm a situação mais crítica. Os impactos mais comuns de uma seca extrema são a queda na produção agrícola em vigência; queda na qualidade das pastagens e, consequentemente, na produção pecuária; risco maior de fogo; e, dependendo da região, queda da vazão e nível dos rios.”
Apesar disso, Ana Paula afirma que se a situação é crítica ou não vai depender muito da localização da cidade, do perfil socioeconômico, da quantidade de pessoas que vivem na região, se existe agricultura ou não e outra série de fatores. O que é crítico para um local pode não ser para outro, mesmo que os dois estejam na mesma classificação.
A última estação chuvosa foi muito fraca em todo o estado, como relembra a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Anete Santos. “A primavera, além da falta de chuva, foi marcada por recorrência de ondas de calor (setembro, novembro e dezembro), o que potencializa a evaporação. A estação chuvosa 2023-2024 iniciou somente em janeiro deste ano, ou seja, com cerca de três meses de atraso.” Segundo ela, na Zona da Mata, especificamente, a ausência de chuva não está tão grave quanto no restante de Minas Gerais.
Conforme dados do Inmet, em Juiz de Fora não chove há 14 dias: a última registrada aconteceu no dia 10 de julho. Em São João Nepomuceno não há estação do instituto. Anete ainda reforça que, para a meteorologia, considera-se chuva a partir de 1 milímetro, valor observado na ocasião.
Seca faz parte de fenômeno climático
O climatologista do Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fabio Sanches, explica que, mesmo com o final da fase positiva (El Niño) do fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS), o inverno na região se caracteriza pela redução nos volumes de chuva (estação seca). Dessa forma, nessa época, o menor volume de chuvas é comum.
“No entanto, segundo os órgãos que monitoram o ENOS, estamos caminhando para uma nova fase prevista para agosto: a La Niña. De certa forma, nessa fase as chuvas tendem a diminuir na transição do inverno para a primavera, retardando o retorno da estação chuvosa para parte do sudeste do país, possivelmente, prolongando nossa estação seca.”
Além disso, Fabio conta que há atuação de um sistema atmosférico denominado Bloqueio Atmosférico. “Esses sistemas têm atuado com mais frequência e intensidade, sobretudo sob atuação da La Niña. Eles dificultam o avanço das frentes frias vindas da Antártica, bloqueando seu avanço e deslocando-as para o Oceano Atlântico. Isso promove a sequência de dias sem chuva, mais quentes e com redução na umidade relativa do ar”, destaca.
Em relação aos dados do Cemaden, o climatologista ressalta que Juiz de Fora ter sido classificada como risco moderado desperta a atenção, pois seus efeitos – como baixa umidade do ar, ausência de chuvas e forte amplitude térmica – podem trazer problemas para a população, sobretudo as mais vulneráveis – dentre elas, idosos e crianças.
“Caso as projeções sobre a ação da La Niña venham a se confirmar, é provável que o retorno da estação chuvosa (em meados de outubro) sofra um retardo, prolongando a estação seca, avançando para o mês de novembro. As questões de saúde podem se tornar mais urgentes aliadas, ainda, à questão do abastecimento público”, completa.
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