Jogos no Estádio Municipal tiveram média de menos de 500 torcedores nos últimos anos

Jogos no Estádio Municipal tiveram média de menos de 500 torcedores nos últimos anos
Arquibancadas ficaram vazias na maior parte dos últimos anos (Foto: Fernando Priamo/Arquivo TM)
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Número é quase quatro vezes menor que em 2018, quando Tupi e Tupynambás levaram quase 2 mil torcedores por partida

Por Davi Sampaio Tribuna de Minas 

Nos dois últimos anos, o Estádio Municipal recebeu 9.994 pessoas no somatório dos 23 jogos que Tupi e Tupynambás mandaram no local pelo Campeonato Mineiro (4.984 nos 14 confrontos de 2022 e 5.010 em nove jogos de 2023), uma média aproximada de 435 torcedores por partida. Se comparado ao certame de 2018 – quando o Galo Carijó estava no Módulo I do estadual e o Baeta no Módulo II – a média das duas últimas temporadas é quase quatro vezes menor. Foram 23.723 ingressos nas mãos dos torcedores, entre comercializados e gratuidades, em 12 jogos sediados pelo palco esportivo há seis anos, com média de 1.977 presentes, ainda que distante da capacidade de cerca de 30 mil espectadores. 

Adicionado ao público do Villa Real, que ainda não existia em 2018 e levou 3.168 adeptos (2.507 em cinco partidas de 2022 e 661 nos dois jogos de 2023), foram 13.162 torcedores em 30 duelos, com média de 438 torcedores.

Conforme levantamento feito pela Tribuna com dados informados pela Federação Mineira de Futebol (FMF), o número de torcedores diminui gradualmente ao longo das seis últimas temporadas. Em 2019, compareceram 15.804 pessoas em nove jogos, com média de 1.576. No ano seguinte, 7.875 espectadores estiveram em oito partidas (média de 984 por jogo). Em 2021, a pandemia impediu a presença de público no Campeonato Mineiro. Com o retorno em 2022, 7.491 fãs foram nos 19 jogos, o que resultou em média de 356 por duelo. Já no ano passado, foram apenas 5.671 presentes em 11 confrontos, com média de 515.

Campeonato amador leva mais torcedores ao Estádio Municipal

De acordo com números da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), a Copa Prefeitura de futebol amador levou, em média, mais torcedores ao estádio do que os jogos das equipes profissionais no Campeonato Mineiro. Conforme divulgado pela assessoria do Executivo municipal, em 2019, os quatro dias de partidas do torneio amador levaram 9.051 pessoas ao Municipal, média de 2.262.

Após a interrupção do campeonato devido à pandemia, a Copa Prefeitura voltou em 2022 com 8.361 espectadores nos quatro dias de torneio, média de 2.090 pessoas. No ano passado, foram 6.699 torcedores, com média de 1.674 espectadores. Na competição de futebol amador, o público não paga para ter acesso à arquibancada do Estádio Municipal.

Maiores públicos foram antes da pandemia

No período analisado pela reportagem, os cinco maiores públicos no Estádio Municipal aconteceram entre 2018 e 2019. No top-5, além de partidas contra Cruzeiro e Atlético-MG, há o reencontro entre Baeta e Galo Carijó na elite do Campeonato Mineiro e a vitória do Tupi sobre o Tombense que deu ao alvinegro o título mineiro do interior em 2018.

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Por que os torcedores deixaram de ir ao Estádio Municipal?

Na visão do ex-editor de Esportes da Tribuna de Minas e criador do portal Toque de Bola, Ivan Elias, a diminuição do público se dá em razão da falta de competitividade das equipes e da falta de identificação com o torcedor. Para o jornalista, a maior presença de torcedores no passado acontecia pelo bom desempenho das equipes, que demonstravam espírito de luta e garra em campo e geravam confiança nos fãs.

“Houve um início de campeonato no final da década de 80 em que o Tupi atuou com público igual ou superior a dez mil torcedores no estádio José Procópio Teixeira numa sequência de jogos. Depois da construção do Estádio Mário Helênio, tivemos já na inauguração a arquibancada lotada. O Tupi registrou grandes públicos no estádio, seja quando fazia boa campanha no Mineiro, na Taça Minas ou nas Séries C e D, e em jogos decisivos, como a campanha do título de 2011 na Série D, os jogos mata-mata da Série C contra Paysandu, ASA de Arapiraca e Fortaleza”, recorda Ivan.

Para que o público volte a frequentar o Estádio Municipal, Ivan enxerga como primordial para as equipes o bom desempenho em campo. “Hoje o descrédito é muito grande, tanto do Tupi quanto do Tupynambás, pelo retrospecto recente. Os clubes terão que trabalhar muito para, mesmo com muitas dificuldades financeiras, reconquistar o torcedor tradicional e trazer novos. Se perceber que há um trabalho sério e honesto por parte dos clubes, a tendência é que o torcedor possa voltar, apesar de não ser de uma hora para a outra”.

Além disso, o jornalista acredita que o Poder Público também pode contribuir. “O apoio financeiro direto é sempre uma questão polêmica e há leis para isso. Todo entendimento, neste momento, que possa tentar resgatar um pouco a autoestima do torcedor, é bem-vindo por parte de todos. Só não adianta cobrar presença nos jogos caso o panorama não se modifique, o torcedor tem que sentir firmeza para dar essa resposta”. Ivan também opina que as empresas “têm que acreditar nos projetos dos clubes e os clubes, por sua vez, precisam ter transparência e metas bem definidas para reencontrar esta receptividade”.

Clubes elencam ações para atrair público

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Leão e Galo Carijó não conseguem levar grandes públicos ao Estádio Municipal (Foto: Fernando Priamo/Arquivo TM)

Para entender como as agremiações observaram essa queda na presença de torcedores no estádio, bem como quais ações são feitas para mudar esse cenário, a reportagem conversou com o diretor de comunicação e marketing do Tupi, Jefferson Vitor, e com os presidentes de Tupynambás e Villa Real, Cláudio Dias e Allan Taxista, respectivamente.

No entendimento de Jefferson Vitor, são diversos os fatores que fizeram o público diminuir. “Ações das diretorias passadas, os resultados do clube em campo e a própria cultura da cidade”, resume. “A torcida alega que o Estádio é longe, mas não vejo isso como causador. Mesmo em momentos importantes do Tupi, o público era baixo. Às vezes a falta de serviços em jogos também prejudica, já alegaram o preço dos ingressos também, apesar de serem os mais baratos do campeonato”, diz.

Com a pouca renda advinda da bilheteria, os clubes têm tido prejuízo nos jogos no Estádio Municipal. O déficit do Tupi em todos os confrontos, de acordo com Jeferson, foi de R$ 70 mil. “O custo de um jogo no estádio é de R$ 21 mil, porque tem despesas de estrutura, segurança, e também da Federação Mineira. Precisávamos de, no mínimo, 800 torcedores a cada partida para não termos tanto prejuízo. Mas penso que 1.200 por jogo seria um bom número como sinal de acolhimento”. Para isso acontecer, o cartola fala que tem buscado “conversar mais com o torcedor, ser transparente, divulgar ações do clube e fazer campanhas para mexer com o sentimento”.

Já Cláudio Dias vê que há desinteresse dos juiz-foranos no futebol local. “Nem quando o Tupynambás estava brigando pelo acesso, tinha um público bom. Ano passado, estava brigando para não cair, mas em outros locais a torcida vai incentivar. Em Juiz de Fora é diferente. Falta patrocínio e apoio da Secretaria de Esporte e Lazer. Os clubes levam o nome do Estádio e da cidade, então, precisam apoiar o esporte. Não sou contra eventos lá, desde que não seja em datas de jogos”, declara.

Com o intuito de reverter essa situação, o Tupynambás tem trabalhado para ser um clube formador, afirma Cláudio. “Não estamos muito preocupados com divisão, queremos lançar atletas. Tendo um time competitivo e com atletas de Juiz de Fora, o pessoal vai torcer. Vamos colocar o ingresso barato e fazer eventos vinculados ao time”. Questionado sobre o uso das redes sociais para angariar apoiadores, o mandatário baeta alerta para os malefícios que a internet traz. “É difícil porque tivemos atletas que estavam em teste, aparecem nas redes e depois entraram na Justiça por isso. Se falarmos que estamos limpando o terreno, do centro de treinamento, vão falar que estamos fazendo algo irregular. Pode ser arma contra o clube”.

Já o dirigente Allan Taxista, do Villa Real, afirma ter dificuldade para entender os motivos da baixa presença de público nos jogos da Águia, mas também aposta no trabalho com atletas locais. “Quando eu jogava, falavam que o valor do ingresso era alto. O Villa Real colocou o menor valor possível, R$ 10, e não adiantou. Dizem que os clubes de Juiz de Fora não davam oportunidade a atletas locais, nós fomos e colocamos 95% atletas da cidade e região, e também não tivemos êxito no público. Estamos trabalhando para atrair todos em prol de nossa entidade, trabalhar com transparência e acima de tudo dando a oportunidade ao juiz-forano de participar de algumas decisões do clube”, reforça.

*Estagiário sob supervisão do editor Gabriel Silva