Golpe do cartão trocado faz vítimas na região da Savassi, em BH: ‘Truque de mágica’
Criminosos se passam por vendedores ambulantes para aplicar golpes em ambientes movimentados
Por Gabriel Rezende O Tempo
O preço atrativo cobrado por uma garrafa de cerveja — R$ 2 mais barato do que o usual — fez com que a Sabrina Dutra, de 45 anos, decidisse comprar a bebida de um homem que anunciava o produto para as pessoas que estavam na fila para entrar em uma casa de shows na região da Savassi, em Belo Horizonte. No pagamento, supostos problemas técnicos que passaram despercebidos indicavam: era golpe. Com uma agilidade que, um mês depois, Sabrina descreve como "truque de mágica", o cartão dela foi trocado por outro igual. Esse é um golpe comum em grandes eventos e tem demandado cuidado de quem aproveita a noite belo-horizontina.
Os dados reforçam a necessidade de alerta. Embora não haja estatísticas sobre esse golpe em específico, o número de crimes de estelionato cresceu em Minas Gerais. No primeiro semestre de 2024, foram feitos 85.662 registros — média de 473,47 por dia —, aumento de 27,67% em relação ao mesmo período de 2023, quando foram 67.096 casos. Os dados são da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) por meio de Registro de Eventos de Defesa Social (Reds).
A troca do cartão só foi descoberta por Sabrina no dia seguinte, após o recebimento de notificações, no aplicativo do banco, de tentativa de compra suspeita. Ela conseguiu comunicar à operadora sobre o golpe, bloquear o cartão e solicitar uma nova via. Com isso, não teve prejuízo financeiro. "Depois que você sofre o golpe, percebe os indícios que antes não deu muita importância", relembra. Além do preço atrativo, a mulher cita o fato de o suposto vendedor não aceitar transferências via PIX. O uso do pagamento por aproximação também não funcionou.
"Eu geralmente faço pagamento por aproximação com o celular, mas não funcionava. Então, entreguei o cartão físico, e ele [golpista] inseriu na maquininha. Ficava rodando, rodando e não passava. E eu, com a cerveja na mão, esperando para pagar", conta Sabrina. O homem argumentou problemas de sinal. Apesar disso, em momento algum saiu de perto dela. "Foi inesperado. Em algum momento, ele me distraiu para que eu não percebesse. Coisa de truque de mágica", conta.
Sabrina desconfia de que outro homem, que vendia balas e cigarros, tenha envolvimento no golpe. Isso porque o que vendia as bebidas chamou esse segundo suspeito, pedindo para cobrar o PIX pelo pagamento do produto. Foi nesse momento que ela recebeu o cartão trocado e realizou a transferência pelo celular. Minutos depois, um homem que também estava na fila e havia comprado cerveja do mesmo vendedor recebeu notificações de uso do cartão. Sabrina chegou a verificar o histórico de transações naquele momento, mas não encontrou nenhuma anomalia — o que só aconteceria no dia seguinte.
Como prevenir o golpe
Vigilância é a palavra-chave para prevenir o golpe da troca de cartões, segundo o advogado Tiago Rocha. "É importante que os consumidores estejam sempre cautelosos ao utilizar seus cartões, especialmente em locais públicos. Também devem desconfiar de abordagens inesperadas e verificar o cartão após qualquer transação", explica.
Os meios de pagamento por aproximação com dispositivos eletrônicos que possuem essa função, como celulares e relógios inteligentes, são alternativas para evitar esse golpe. "Se possível, prefira o pagamento por carteiras digitais", considera. Desconfie se um vendedor disser que não aceita meios de pagamento que não sejam o cartão físico.
Tive o cartão trocado. E agora?
O primeiro passo após perceber o golpe é comunicar ao banco para bloqueio do cartão, explica o advogado Tiago Rocha. Caso ocorram compras não reconhecidas, a vítima também deve informar à operadora bancária, com o objetivo de solicitar o ressarcimento desses valores.
"O processo de contestação de compras não reconhecidas envolve um formulário, detalhando todas as transações questionadas. É fundamental fazer isso o mais rápido possível para evitar que o prazo de contestação passe. Agilidade é crucial para aumentar a chance de reembolso e impedir outras transações fraudulentas", explica.
As instituições financeiras são responsáveis pelos danos causados por fraudes e delitos praticados por terceiros, estabelece a súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça (STJ). "Ou seja, ao confirmar a fraude, o consumidor deve ser ressarcido. O prazo para resolver esses casos pode variar, mas muitas vezes os bancos oferecem um crédito provisório enquanto a investigação está em andamento", conclui.
Como ocorre o golpe:
- O golpista se passa por vendedor ambulante e aborda as vítimas em um local movimentado, como na fila de um evento ou estabelecimento. Geralmente, são oferecidos produtos com preços menores do que os praticados no mercado.
- O golpista afirma não aceitar outros métodos de pagamento, como PIX. Em seguida, pega a máquina para a vítima passar o cartão.
- No momento da transação, o golpista ou um terceiro observa a senha digitada pelo consumidor. Em alguns casos, o próprio equipamento adulterado registra os números indicados.
- Em seguida, o criminoso argumenta falha de sinal ou outro problema operacional do equipamento para distrair a vítima e trocar o cartão, entregando um cartão idêntico: da mesma operadora bancária.
- Se você perceber que seu cartão foi trocado, entre em contato com seu banco e efetue o bloqueio imediatamente.
Dicas para evitar o golpe:
- Mantenha seu cartão sempre à vista: não entregue o cartão para ninguém, mesmo que seja para realizar uma simples transação.
- Digite sua senha com a mão sobre a tela: dessa forma, você impede que alguém veja os números que você está digitando.
- Verifique o cartão após a transação: antes de guardá-lo, confira se é o mesmo que você entregou.
- Utilize meios de pagamento por aproximação e desconfie se um vendedor disser que não aceita outros meios de pagamento, como PIX.
- Esteja sempre atento ao seu entorno e não hesite em denunciar qualquer atitude suspeita.
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