Dia Nacional do Forró: relembre a história do Forró da Marlene

Dia Nacional do Forró: relembre a história do Forró da Marlene
Hoje com 82 anos, Marlene Rocha compartilha suas memórias do forró que movimentou Juiz de Fora (Foto: Maria Luiza Guimarães)
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13 de dezembro é celebrado Dia do Forró; de Marlene até à nova geração, o ritmo continua vivo na cidade

 Tribuna     Por Maria Luiza Guimarães*

 

“Fio de cabelo”, do Chitãozinho & Xororó, era a música que abria a pista do Forró da Marlene, que por mais de três décadas foi o rolê favorito de muitos juiz-foranos. A música é, até hoje, uma das favoritas de Marlene Rocha, proprietária da casa de festas. Foram épocas de ouro. Por dia, o forró mais pop de Juiz de Fora recebia mais de 1200 pessoas, de diferentes cantos da cidade, que se reuniam para dançar um xote. Nesta sexta-feira (13), dia dedicado à celebração do forró nacional, a Tribuna relembra a história desse lugar que por muitos anos foi peça importante da cultura da cidade. 

Hoje, aos 82 anos, Marlene conta, com saudade nas palavras, que a ideia de começar o forró surgiu do cunhado, em 1986. Na época, ele era presidente do Olímpico Atlético Clube e fez a oferta de arrendar o bar da sede, onde aconteciam os tradicionais bailes do Forró do Clube “Que Saudade”. 

Após o encerramento das atividades do clube, Marlene, que antes vendia roupas, simpatizou com o forró e decidiu abrir o seu, levando as famosas tardes dançantes para o Clube Vasquinho, localizado no Bairro Fábrica. O evento, já conhecido como “Forró da Marlene”, foi registrado oficialmente com essa mudança de local. Posteriormente, o forró mudou para a Rua Geralda Mendes Barros, no Bairro Mariano Procópio, onde recebeu muitos clientes e permaneceu por quase duas décadas.

Esse novo espaço, que antes funcionava como uma concessionária, passou por uma reforma completa para se transformar no salão perfeito para o “forrozão”, como Marlene costumava chamar as festas que promoviaPessoas de todos os lugares compareciam, ela conta. “Diziam que forró era coisa de velho, mas na verdade é para todo mundo. Iam desde jovens da UFJF, famílias com os filhos e claro que os idosos também.”

marlene dia do forró

(Foto: Marcelo Ribeiro/ Arquivo TM)

Dias de baile da Marlene

Sexta, sábado e domingo eram os dias oficiais de baile. Na sexta a pista abria às 20h. Mas no fim de semana, a dança começava às 14h e só terminava às 6h da manhã do outro dia. Marlene compartilha que apesar das muitas horas de trabalho, ela sentia prazer em fazer a festa, era como receber os amigos. 

A anfitriã do forró trabalhava no freezer e no balcão, que eram alguns dos pontos mais movimentados do salão. Ela recorda que muitas moças adoravam dançar, mas seus maridos e namorados não permitiam. “Quando elas vinham, aproveitavam o baile ao máximo, mas assim que os maridos apareciam, eu já sabia o que fazer.” Dona Marlene, com seu jeitinho esperto, tinha uma solução para evitar confusões. “Eu escondia as meninas embaixo do balcão, junto comigo, para evitar brigas. Depois, elas saíam pela porta dos fundos, e eu ainda chamava um táxi para levar todas de volta para casa”, conta ela, rindo.

A dona também aproveitava o baile, tirava vários clientes, que também eram amigos, para dançar. Sandra Moreira, professora, 56, era uma grande frequentadora do forró. Ela conta que por quase duas décadas foi seu lugar favorito para encontrar as amigas. “Eu tinha 32 anos e era o que chamávamos de ‘vassourinha’ do baile, estava em todos.” Sandra, inclusive, estava no baile de despedida do forró, em 2017. “Foi muito emocionante, todos os clientes e amigos fiéis estavam presentes”, relembra.

32 anos de história

Marlene gerenciou seu forró por 32 anos, sendo um dos grandes marcos culturais de Juiz de Fora. Em 2017, surgiram problemas estruturais no salão, que exigiriam uma reforma cara, além de gerarem potenciais conflitos com a Prefeitura e com a vizinhança. Com 76 anos na época, e diante das dificuldades, ela tomou a decisão de encerrar as atividades. O forró de despedida aconteceu no dia 30 de abril de 2017, com a casa lotada e muita emoção. Ali, Marlene se despediu de um capítulo importante. Hoje, em reconhecimento à sua trajetória, ela é Cidadã Honorária de Juiz de Fora, uma homenagem que celebra sua contribuição à cultura e à história local.

Xote da alegria

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Maracaju de Gaveta é uma das bandas de Juiz de Fora que movimenta o cenário do forró na cidade (Foto: Divulgação)

Apesar do encerramento do Forró da Marlene, outros espaços e iniciativas têm surgido em Juiz de Fora, dando continuidade à cena da cidade. Grupos, escolas de forró e comunidades têm se formado, consolidando novas vertentes para o ritmo. Um exemplo disso é a banda Maracaju de Gaveta, que, com quase três anos de estrada, começou como Forró do Berilo e, mais tarde, adotou o nome atual. 

O Grupo é composto por Berilo Santos, vocalista e cordista, Emerson Dias, sanfoneiro, Lucas Guida, baixista, Pedro Alfeld, flautista e Thalles Oliveira, baterista. Em conversa, os integrantes, que vivem da música, destacam o crescimento do forró, visível tanto pelas métricas nas plataformas digitais quanto pela adesão do público aos shows realizados na região. 

Eles também compartilham uma visão interessante sobre o forró, sob duas perspectivas: como ganha pão e como um espaço para socializar. Os músicos explicam que, além de ser seu trabalho, quem dança se apaixona pela experiência. “O espaço da dança é um lugar incrível para conhecer pessoas, compartilhar experiências e viver momentos”, afirmam. O forró vai além da música, é uma oportunidade de conexão.

Segundo a banda, o ambiente de dança é acolhedor, especialmente para as pessoas que têm se aproximado do forró não apenas pelo prazer da música, mas pela vivência da dança. Esse interesse tem crescido ainda mais após a pandemia, quando os encontros sociais foram interrompidos por tanto tempo. Eles afirmam que, para quem chega ao forró, é impossível não perceber: “Forró é um lugar de gente feliz”.

*Estagiária sob supervisão da editora Cecília Itaborahy