Candidatos à Prefeitura de Juiz de Fora detalham estratégias para atender a população em situação de rua
Resposta a edição do projeto Voto e Cidadania de domingo trata dos principais desafios do aumento da população em situação de rua na cidade, que ultrapassa 800 pessoas
Olhos atentos àqueles que são invisíveis para boa parte da população é o que se espera de um Administrador Público consciente dos problemas sociais da cidade. Nesta segunda-feira (16), os candidatos à Prefeitura de Juiz de Fora discorrem sobre suas propostas para lidar com a população em situação de rua, que cresceu 10% entre 2016 e 2022, conforme levantamento feito por pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Estratégias para acolher e cuidar desses cidadãos envolvem muito mais do que a oferta de moradia. A matéria do último domingo (15), publicada na Tribuna, mostrou que o acesso à saúde e o déficit de abrigos são principais questões a serem enfrentadas. Conforme o pesquisador ouvido pela reportagem, é preciso pensar em estratégias que diminuam a desigualdade social como um todo, com políticas integradas para elevar padrões de saúde, educação, habitação, emprego, renda, segurança, locomoção e lazer.
Com base nas questões levantadas, uma pergunta foi elaborada e demandada a todos os candidatos nesta segunda-feira (16), às 9h, com prazo estipulado de retorno até às 16h30 do mesmo dia. As respostas deveriam ter, no máximo, 2 mil caracteres.
Não houve qualquer edição da Tribuna no material enviado, a não ser pelo corte do texto na sentença anterior, quando o limite de toques estabelecido em reunião com a presença de todos os assessores não foi cumprido.
A ordem em que os candidatos aparecem na imagem, bem como a de suas respostas nesta matéria, foi definida em sorteio com a presença das assessorias de todos os pleiteantes à PJF.
Com base nos pontos levantados, a questão demandada aos candidatos foi:
De que forma seu plano de governo pretende atuar em relação à população de rua de maneira a respeitar e promover sua autonomia, sem ações que buscam como resultado apenas “tirar das ruas”?
Charlles Evangelista (PL)
Em nosso plano de governo, buscamos abordar a questão da população de rua de maneira a respeitar e promover a autonomia dessas pessoas, indo além de ações que visam apenas “tirar das ruas”. Nossa proposta se concentra em dois programas principais: “Mão Amiga” e “Pulso Firme”.
O programa “Mão Amiga” tem como objetivo estender apoio e cuidado à população de rua, tratando-os com carinho, amor, dignidade e respeito, reconhecendo-os como seres humanos que merecem atenção e acolhimento. A ideia é oferecer suporte de forma humanizada, garantindo que suas necessidades básicas sejam atendidas de maneira respeitosa.
Por outro lado, o programa “Pulso Firme” visa resolver questões mais complexas de maneira assertiva. Para aqueles que enfrentam dependência química, o plano é oferecer tratamento em comunidades terapêuticas, em parceria com igrejas e a prefeitura. Isso permite um tratamento mais direcionado e eficaz, respeitando as particularidades de cada indivíduo.
Para pessoas com transtornos psiquiátricos, planejamos ampliar as vagas nos equipamentos públicos já existentes, garantindo que recebam o tratamento adequado e necessário. Essa abordagem visa assegurar que essas pessoas tenham acesso a cuidados de saúde mental apropriados, promovendo sua reintegração social de forma digna.
Além disso, para aqueles que são de outras cidades, o plano inclui cuidados básicos como banho, corte de cabelo e barba, e contato com suas famílias, para que possam retornar a suas cidades de origem com mais dignidade e apoio.
Em resumo, nosso plano para a pessoa em situação de rua busca equilibrar cuidado e firmeza, oferecendo suporte e tratamento adequados, enquanto respeitamos a autonomia e a dignidade da população de rua.
Isauro Calais (Republicanos)
O levantamento realizado segundo o Professor da Faculdade de Serviço Social, Alexandre Arbia, mostra que a população de rua em Juiz de Fora aumentou de 384 pessoas para 805 em seis anos. Andando pelas ruas, podemos afirmar que essa população chega perto de 1500 pessoas. Esse aumento ocorreu após a COVID-19, que afetou bastante a estrutura familiar de todos.
A população em situação de rua é um grupo de pessoas em extrema vulnerabilidade, já com direitos violados e com vínculos rompidos (sejam familiares, profissionais ou comunitários). Em contato pessoal com muitos moradores de rua, notamos claramente a presença de dependentes químicos, pessoas com doenças mentais, saúde fragilizada em geral, e problemas sociais, econômicos, laborais e habitacionais, com vínculos familiares ou comunitários rompidos.
Por exemplo, nesse final de semana, estive na Nupop Centro, averiguando a real situação e conversando com o morador de rua Jorge, vindo do Rio de Janeiro, que está com vínculo rompido com a família, esposa e filhos, morando na rua, sem estrutura de saúde, abrigo, alimentação e higiene, e querendo apenas trabalhar ou ser encaminhado para uma cidade ou estado diferente do Rio de Janeiro.
Vou aumentar o trabalho social de abordagem e de encaminhamento para que essas pessoas, através da assistência social, sejam de fato acolhidas em todas suas vulnerabilidades: abrigos, alimentação, higiene, documentação e avaliação técnica. Em relação aos moradores de outras cidades e estados, será feita a atividade de convívio e busca pelos seus familiares.
Implantarei ações conjuntas com protocolos estabelecidos de forma institucional e ações intersetoriais com diversas políticas públicas, inclusive na área de saúde, para tratar de forma rápida os doentes mentais, usuários de drogas, álcool e outras doenças. Enfrentarei esse problema de frente, com energia e atenção, para que essas pessoas sejam resgatadas em toda sua plenitude, incluindo saúde, habitação, emprego, renda e educação.
Victória Melo (PSTU)
Essa, como tantas outras, é uma realidade causada pela desigualdade social que é inerente ao sistema capitalista: riqueza concentrada nas mãos de poucas pessoas e milhares vivendo na miséria. Um estudo da UFJF levantou que Juiz de Fora tem cerca de 800 pessoas vivendo em situação de rua. Várias delas foram levadas a essa condição pelo desemprego, outras por conflitos familiares e outras pela dependência química. Portanto, é necessário diferentes abordagens. A geração de emprego é uma delas. Nós propomos um plano de obras públicas da secretaria de obras da prefeitura que deve absorver essa mão de obra. Outra ação é a ressocialização, reconstruindo o contato e os laços familiares, promovida pela secretaria de ação social. Porém, algumas pessoas em situação de rua querem continuar nas ruas e devem ser tratadas numa perspectiva humanitária e não de higienização do centro da cidade e dos bairros. Garantir albergues, moradia, lavanderia e restaurante públicos. Fazer o consultório de rua para cuidar da saúde física, mental e dentária.
Margarida Salomão (PT)
A nossa política de atendimento à população em situação de rua é pautada pelo respeito integral aos direitos dessas pessoas, que enfrentam uma das formas mais agudas de vulnerabilidade social. Reconhecemos a complexidade dessa questão e, por isso, nosso trabalho começa com o conhecimento aprofundado dessa população. Em 2022, realizamos um censo que revelou a existência de 805 pessoas vivendo nessas condições em Juiz de Fora. Um dado importante é que 85% delas são beneficiárias do Bolsa Família, o que demonstra a interseção entre a pobreza extrema e a situação de rua.
Essas pessoas não são apenas números. Elas são acompanhadas de perto pela Prefeitura, por meio de políticas públicas que buscam promover dignidade, inclusão e cidadania. Temos um compromisso em oferecer uma “porta de saída”, que vai muito além de assistencialismo. Isso significa desenvolver ações multidisciplinares, que envolvem diversas secretarias municipais. Entre elas estão as voltadas para a empregabilidade, um dos pilares centrais da nossa estratégia, capacitando e criando oportunidades reais de reintegração ao mercado de trabalho. Sabemos que a vulnerabilidade econômica é apenas uma das dimensões desse problema, por isso, também cuidamos da saúde dessas pessoas de forma integral. A saúde mental, por exemplo, é um ponto crítico que, muitas vezes, impede o rompimento desse ciclo. Através do Consultório na Rua, temos promovido atendimentos e debates que envolvem a própria população de rua, trazendo suas vozes para o centro das soluções.
A questão da população em situação de rua é um desafio mundial, presente em todas as grandes cidades. No entanto, em Juiz de Fora, estamos comprometidos em tratar essa questão com a dignidade e a solidariedade que essas pessoas merecem. Não se trata de uma abordagem repressiva ou de mera contenção, mas de uma política humanizada, focada em transformar vidas. Estamos, com empatia e determinação, buscando continuamente formas de acolhimento e inclusão.
Ione Barbosa (Avante)
Segundo um censo realizado em 2023, a população em situação de rua em Juiz de Fora é de 805 pessoas, representando um aumento de 110% em comparação com 2016, quando o número era de 384. Atualmente, os serviços de saúde e assistência social disponíveis são claramente insuficientes para atender às necessidades dessa população. As equipes do Consultório na Rua foram desmontadas e retomadas precariamente durante o período eleitoral.
Analisar as principais causas da situação de rua é essencial para implementar ações preventivas. Para isso, é necessário um diagnóstico robusto e constantemente atualizado. Além disso, é urgente adotarmos políticas integradas envolvendo várias secretarias – Saúde, Educação, Segurança, Emprego e Renda –- em uma abordagem e acolhimento diferenciados para esse público.
Simultaneamente, é fundamental priorizar a assistência social básica, reativando programas e ações nos bairros e comunidades que contribuem para a manutenção dos laços familiares e comunitários.
Vamos ainda implementar um piloto do projeto “Moradia Primeiro”, inspirado no modelo Housing First, que se baseia na ideia de oferecer acesso imediato à moradia para pessoas em situação crônica de rua (há mais de cinco anos na rua, com uso abusivo de álcool e outras drogas e transtornos mentais). A proposta, que vem obtendo bons resultados em vários municípios do país, visa garantir uma moradia segura, individual, espalhada pelo território do município e integrada à comunidade.
Após ingressar no projeto, a pessoa recebe acompanhamento de uma equipe multidisciplinar e flexível, composta por profissionais de diversas áreas, com o objetivo de atender às suas necessidades e apoiá-la na manutenção da moradia.
Júlio Delgado (MDB)
As ruas da nossa cidade estão se transformando em refúgio para uma parcela abandonada da nossa população. Digo abandonada porque é difícil encontrar outro termo para definir as pessoas que estão vivendo nas ruas, pelo menos há cinco anos, sem um teto para protegê-las do frio, dormindo ao relento e mendigando para conseguir comprar alguma comida. É o retrato de uma vida trágica para centenas de pessoas, um número que tende a aumentar, repercutindo de forma grave em todas as áreas da vida social. Um problema que não tem nada de boniteza e que só faz realçar as mentiras da campanha eleitoral da prefeita quando diz que as coisas melhoraram.
Meu governo vai olhar para essas pessoas e levar ajuda, apoio e uma política social séria e eficiente. Essas pessoas não querem esmolas; querem uma solução que as ajude a sair desse círculo vicioso de não ter onde morar porque não têm dinheiro para o aluguel, de não ter dinheiro para o aluguel porque não têm emprego, e de não ter emprego porque não têm qualificação profissional nem escolaridade mínima.
Quero ser prefeito para fazer de Juiz de Fora a cidade onde a esperança se realize. Tenho um Plano de Governo que busca devolver a essas pessoas a dignidade e a cidadania perdida. Além disso, é preciso criar condições para que novas pessoas não se tornem novos moradores de rua.
Eleito prefeito, vou convocar a sociedade civil, as entidades de classe e as organizações não governamentais para, em conjunto, promover a inclusão sócio-produtiva, com projetos de geração de emprego e renda para essa população. Vamos resgatar programas sociais que já deram certo e que contribuíram para a inclusão social e a dignidade dessa parcela da população. Vamos reestruturar os CRAS e os CREAS, permitindo o acesso amplo e fácil aos serviços socioassistenciais.
Para colocar Juiz de Fora no caminho certo, é preciso consciência social e vontade política. Isso eu tenho de sobra.
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