Após homicídio na rua Mármore, ligações aterrorizam comerciantes no Santa Tereza

Após homicídio na rua Mármore, ligações aterrorizam comerciantes no Santa Tereza
Crime ocorreu na madrugada desta segunda-feira (15 de abril) no bairro Santa Tereza — Foto: Reprodução Vídeo
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Suposto traficante fazia ameaças e cobrava pagamentos de comerciantes; segundo comando da PM na região, tudo indica que ligações seriam ação de estelionatários

O Tempo    Por José Vítor Camilo 

 

Na madrugada da última segunda-feira (15 de abril), um atentado a tiros deixou um homem de 35 anos morto e um adolescente ferido em frente a uma padaria da rua Mármore, a principal via do boêmio bairro Santa Tereza, na região Leste de Belo Horizonte. Na madrugada seguinte, terça-feira (16 de abril), dezenas de comerciantes da região passaram a receber ligações telefônicas com ameaças de um suposto traficante. O homem estaria cobrando pagamentos em troca da "segurança" dos estabelecimentos. Um dos comerciantes teria transferido R$ 3 mil para a suposta quadrilha. 

O TEMPO localizou diversas pessoas que receberam as ligações, entretanto, com muito medo, somente alguns aceitaram detalhar a situação sob a condição de anonimato. "Acho que todo mundo aqui da (rua) Mármore recebeu a ligação, mas a maioria não deve ter atendido, pois já era madrugada. No meu caso, era o DDD 21 (do Rio de Janeiro). Ele falou que era do PCC, deu o nome do estabelecimento, me chamava pelo nome. Mas eu saquei que era golpe e desliguei imediatamente. Pelo que soube, em cada lugar, eles contavam uma história diferente", lamentou uma das fontes ouvidas.

Ainda segundo o empreendedor, no dia seguinte, os criminosos voltaram a ligar, desta vez, no telefone fixo, porém, ele sequer atendeu. "Mas soube que um colega chegou a transferir R$ 3 mil, infelizmente", completou. Também com um estabelecimento na rua mármore, outro comerciante ouviu uma história diferente, mas igualmente ameaçadora.

"Ele se identificou como novo chefe do tráfico das favelas que existem aqui no Santa Teresa e deu um nome. Mas, imediatamente, a gente desligou e já comuniquei à Polícia (Militar). Mas, no dia seguinte, soube que foi uma situação geral. Em todo o bairro, os comerciantes receberam a ligação. E alguns chegaram a conversar, foram a fundo e acabaram sendo ameaçados", detalhou.

Polícia confirma denúncias

Ouvido por O TEMPO, o comandante do 16º Batalhão da Polícia Militar (PM), responsável pelo policiamento na região do Santa Tereza, tenente-coronel Israel Calixto, confirmou que a corporação foi acionada por um grande número de comerciantes que receberam as citadas ligações, chegando, inclusive, a ir até os estabelecimentos para saber mais detalhes sobre o caso.

"O que nós constatamos é que isso era ação de estelionatários que, de posse das informações veículadas pela mídia sobre esse homicídio, se aproveitaram da situação — do medo dos comerciantes — para aplicar golpes. Tivemos acesso a uma dessas ligações. O que vimos foram falas desconexas, a fala não tem nenhuma verosimilhança com o que realmente aconteceu", garantiu o comandante.

Ainda conforme o tenente-coronel, a maneira de conversar, o sotaque, as palavras utilizadas, não se parecem com a forma de falar das pessoas da região (criminosos), que já são acompanhadas pela PM. "O suposto traficante sequer sabia o nome das ruas ali da região. As pessoas precisam ficar alerta sobre isso, pois existem muitos aproveitadores", alertou Calixto.

Moradores relatam escalada da violência, e PM confirma disputa

Apesar das ameaças a comerciantes serem, inicialmente, ação de estelionatários, moradores da região garantem que, nos últimos meses, está explícita a mudança no comportamento dos traficantes da região. Se antes a ação era mais "discreta", desde fevereiro, não é difícil se deparar com traficantes armados e equipados com rádios de comunicação nas entradas das vilas Dias e São Vicente, ambas localizadas no Santa Tereza.

"Outro dia, chegando à noite de metrô, um dos meninos com radinho e armado estava no meio da passarela que atravessa a contorno. A gente fica com medo né, ainda mais depois desse homicídio", pontua um morador do bairro que preferiu não ser identificado. Outros moradores chegaram a relatar que a mudança na atuação estaria relacionada ao fato de traficantes do Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de BH, terem assumido as favelas da região.

Questionado sobre essa situação, o comandante do 16º Batalhão, tenente-coronel Israel Calixto, garantiu que desde antes do homicídio a PM já vinha fortalecendo o policiamento na região. "Tanto que a vítima do homicídio tinha sido preso com arma de fogo na sexta-feira (12), três dias antes de ser morta. Além dessa prisão dele, tivemos várias outras apreensões de armas, de tráfico. Então estamos presentes nesse local, com operações preventivas e repressivas. O efetivo policial foi aumentado para 'sufocar' estes criminosos e deixar a comunidade tranquila, mantendo a paz do bairro", afirmou.

Entretanto, por outro lado, o comandante confirmou a existência de uma disputa pelos pontos do tráfico de drogas nas vilas da região. "Não temos informação sobre chegada de criminosos de fora. O que temos é acerca de uma disputa pelos pontos de venda de droga, o que tem gerado um certo conflito, isso muito antes desse homicídio que, inclusive, as informações iniciais indicam que a motivação seria, justamente, em decorrência dessa disputa. As vítimas (do homicídio) era moradora da vila e tinha envolvimento com o crime. Já o adolescente, que ficou ferido, tinha passagens, como por tráfico, roubo, ameaça.", completou o tenente-coronel Calixto.

A reportagem procurou a Polícia Civil para saber se há investigação instaurada acerca das ligações recebidas pelos comerciantes e, também, sobre a apuração do homicídio e tentativa de homicídio da última segunda. Até a publicação da reportagem a instituição policial ainda não tinha se manifestado.

O assassinato

assassinato registrado na madrugada de segunda foi filmado por uma câmera de segurança. Nas imagens é possível ver o homem, de 35, sentado em frente a uma padaria, junto ao adolescente, de 17, que acabou ficando ferido. Uma terceira pessoa estava próxima a eles. O suspeito se aproxima do trio, e atira diversas vezes. O adolescente e a terceira pessoa conseguiram fugir durante o momento dos disparos. O suspeito deixa o local em seguida.

De acordo com a Polícia Militar, os militares encontraram o homem, de 35, caído em frente a padaria, sem sinais vitais. O corpo dele foi encaminhado pelo rabecão para o Insituto Médico Legal (IML). Conforme a polícia, seis cápsulas de calibre 9mm foram recolhidas no local.

O adolescente foi socorrido por um serviço de carona por aplicativo para uma UPA. Em seguida, foi transferido para o hospital João XXIII. Os militares foram até a unidade de saúde, onde a vítima prestou depoimento.

Segundo o boletim de ocorrências, o adolescente disse ter sido alvo de uma tentativa de assassinado, possivelmente motivado pelo envolvimento dele com o tráfico de drogas na vila Dias. Ele foi atingido na perna, no joelho e no antebraço.Veja o momento do homicídio: