Jardim Botânico inaugura meliponário de abelhas nativas e orquidário
Novos equipamentos buscam estreitar diálogo entre ciência e sociedade, além de contribuir para o avanço de pesquisas focadas em um futuro mais sustentável
Por Nayara Zanetti Tribuna de Minas
O Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) inaugurou, no dia 22 de março, o projeto Trilha do Mel, com um meliponário aberto ao público, que conta com uma coleção viva de espécies de abelhas da tribo Meliponini, conhecidas como abelhas nativas da Mata Atlântica sem ferrão, e atividades de educação ambiental. Além desse equipamento, o espaço também ganhou um orquidário voltado para pesquisas científicas, com possibilidade de reprodução in vitro de orquídeas e reintrodução de espécies na natureza.
Público-alvo do roteiro da Trilha do Mel são crianças, adolescentes, adultos e idosos. (Hélcio Lavall/Divulgação Jardim Botânico)
Pela primeira vez, a Zona da Mata mineira recebe um meliponário focado em atividades ambientais e de divulgação científica para toda a comunidade. A iniciativa é voltada para a divulgação de informações sobre temas relacionados à biologia de abelhas sem ferrão, à polinização e às relações dos povos originários do Brasil com as abelhas nativas, oferecendo cursos, oficinas e outros eventos. A coordenadora do projeto e professora do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Ana Paula Gelli, explica que existem meliponários em propriedades particulares da região, mas com a finalidade de comércio de enxames e seus produtos, além também de equipamentos em instituições públicas de ensino e pesquisa, como o Apiário Central da Universidade Federal de Viçosa (UFV), destinado principalmente a transmissão de técnicas de criação de abelhas.
O roteiro da Trilha do Mel tem como público-alvo crianças, adolescentes, adultos e idosos, e a caminhada pode ser feita de forma autônoma ou através da orientação de monitores ambientais do Jardim Botânico. Os visitantes terão acesso a quatro principais temas ao longo do percurso: biologia das abelhas nativas sem ferrão; interações ecológicas entre flores e abelhas (polinização); etnoconhecimento sobre as abelhas nativas sem ferrão e a relação desses animais com os povos originários do Brasil; e a importância do serviço de polinização prestado pelas abelhas para a produção de alimentos, além dos impactos das ações humanas no declínio da diversidade desses animais.
Importância das abelhas sem ferrão
O meliponário é um abrigo para a criação de abelhas, composto por caixas e outros materiais, e o do Jardim Botânico atualmente abriga exemplares de quatro abelhas nativas e sociais: jataí, mandaguari, uruçú-amarela e iraí, além das abelhas solitárias, como a abelha da orquídea e a mamangava. As caixas foram produzidas com o apoio da população, algumas foram construídas pelo criador de abelhas nativas e marceneiro Paulo César Munck e outras por alunos do Instituto de Artes e Design. Ana Paula ressalta que serão realizadas no local oficinas que abordarão conteúdos sobre taxonomia, distribuição geográfica, morfologia e comportamento das abelhas nativas sem ferrão, aspectos gerais sobre biologia da polinização por abelhas, meliponicultura e produção e características dos méis das abelhas do meliponário.
O objetivo principal do meliponário é aproximar a comunidade da ciência para conscientizar a população e incentivar a preservação desses insetos. De acordo com a coordenadora do projeto, as abelhas, em especial as da tribo Meliponini, desempenham um papel fundamental nos processos de polinização e, consequentemente, na manutenção da diversidade da flora brasileira e na produção de alimentos, garantindo segurança alimentar. No Brasil, há centenas de espécies de abelhas nativas sem ferrão que contribuem para a polinização de quase 90% das árvores nativas do país, além de se destacarem como polinizadoras de diversas culturas agrícolas economicamente e socialmente importantes.
“Cada vez mais os estudos mostram que as espécies da tribo Meliponini, comparadas à Apis mellifera (abelha com ferrão criada pelos apicultores), têm se mostrado tão ou mais sensíveis às ações negativas causadas pelo ser humano, tais como o desmatamento, a poluição ambiental e o uso de agrotóxicos”, alerta a bióloga.
600 exemplares de orquídeas
Orquidário tem 170 espécies e 40 híbridos, desde nativas da floresta atlântica a espécies exóticas e em extinção. (Hélcio Lavall/Divulgação Jardim Botânico)
As orquídeas estão espalhadas por diversos cantos do Jardim Botânico. Atualmente, o espaço reúne cerca de 600 exemplares de orquídeas e, recentemente, um local dedicado a essas plantas foi inaugurado. O Orquidário Frederico Carlos Hoehne, nome em homenagem a um dos maiores botânicos brasileiros, nascido em Juiz de Fora, conta com plantas de coleções particulares desativadas, da UFJF, de apreensões do Ibama e de pesquisas realizadas na floresta atlântica e no cerrado.
Aproximadamente 170 espécies e 40 híbridos compõem o orquidário, sendo a maioria nativas da floresta atlântica, como a Miltonia clowesii, mas há também espécies exóticas, como a Dendrochilum glumaceum, originária das Filipinas, com um perfume adocicado e suave. Atuando como um espaço de conservação, o acervo inclui espécies raras de distribuição restrita ou sob ameaça de extinção, como a Cattleya harrisoniana, a Hadrolaelia purpurata e a Octomeria praestans.
Além disso, a criação do Laboratório de Micropropagação de Plantas Ornamentais permite a reprodução in vitro de orquídeas e a reintrodução de espécies na natureza. O interior do orquidário não é aberto ao público, mas as plantas podem ser avistadas do lado de fora.
Serviço
As novas instalações e o roteiro podem ser visitados de forma gratuita de terça a domingo, de 8h a 17h, com entrada até as 16h. O Jardim Botânico fica localizado na Rua Coronel Almeida Novais s/nº, no Bairro Santa Terezinha.
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