Cerca de 40% população de Juiz de Fora está inadimplente

Cerca de 40% população de Juiz de Fora está inadimplente
Em média, cada pessoa deve R$ 5.482,82, valor duas vezes maior que o rendimento médio recebido na cidade (Foto: Fernando Priamo/Arquivo TM)
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Dívida soma mais de R$ 1 bilhão na cidade; número acompanha cenário estadual

Fonte: Tribuna de Minas   Por Mariana Floriano

Em Juiz de Fora, 213.973 pessoas estão inadimplentes, ou seja, não pagaram as dívidas dentro do prazo acordado. Esse número representa 39,56% da população total da cidade, que é de 540.756 habitantes, conforme dado do último Censo de 2022. A informação foi repassada à Tribuna pela Serasa e diz respeito à edição mais recente do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas, referente ao mês de novembro.

A dívida acumulada dos inadimplentes soma R$ 1.173.176.232,04 na cidade. Em média, cada pessoa deve R$ 5.482,82, valor duas vezes maior que o rendimento médio recebido em Juiz de Fora, que, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 2,4 salário mínimos. A Serasa ainda informou que, em média, cada inadimplente possui três ou mais dívidas, com o tíquete médio por dívida de R$ 1.515,40.

O diretor de Marketing do Serasa, Matheus Moura, explica a diferença entre pessoas endividadas e inadimplentes. “Dívida a maioria dos brasileiros tem. Quando você contrata um serviço para pagar depois, como um empréstimo, um cartão de crédito e até mesmo um serviço de água, luz, que você utiliza e só depois paga. A inadimplência é quando você não paga essa dívida na data devida.”

Quanto mais consumidores endividados, maior é a perda para a economia, explica Moura. Uma pessoa que tem débitos a pagar precisa controlar os gastos e isso afeta desde o comércio local até os grandes negócios. “As pessoas acabam usando o cartão de crédito como uma extensão da renda, e a consequência desse uso indeterminado é uma dívida maior que o poder de compra.”

Cartão de crédito: o grande vilão

Conforme pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offerwise, as dívidas de cartão de crédito são as principais causadoras de inadimplência. Sozinhas elas representam 31% dos débitos financeiros pendentes. Os principais produtos/serviços comprados no crédito, seja no cartão de crédito, cartão de lojas, no cheque ou crediário, que levaram à inadimplência foram os itens de supermercado (43%), roupas, calçados e acessórios (32%), remédios (28%), eletrônicos (19%), eletrodomésticos (19%) e combustível (18%).

Matheus Moura afirma que o motivo de o cartão de crédito ser o grande vilão do orçamento familiar é devido a aparente inconsequência em não pagar a fatura. “Quando é preciso escolher uma conta que não será paga, a pessoa acaba escolhendo a fatura do cartão de crédito e prioriza outras, como as contas de água e energia. Se você não paga água, eles a cortam, a mesma coisa com a energia.” O cartão de crédito, por outro lado, não tem uma consequência imediata, mas é uma dívida que cresce muito rápido.

A dívida fica ainda maior quando o consumidor entra no chamado rotativo. A modalidade é acionada quando o cliente deixa de pagar a fatura integral do cartão até o vencimento. O rotativo possui os juros mais caros do mercado, podendo chegar a 454% ao ano, conforme aponta o Banco Central. Ele funciona da seguinte forma: o banco oferece ao cliente um limite de crédito para gastar ao longo do mês, em troca é preciso pagar a fatura em uma data preestabelecida. Se, por algum motivo, o titular do cartão não conseguir pagar o valor total, é possível pagar o valor mínimo. O débito passa para a fatura do mês seguinte e são cobrados juros rotativos sobre esse valor.

Uma nova mudança, aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), estabeleceu a aplicação de um teto na cobrança das taxas do rotativo. A partir deste mês, as dívidas não poderão ultrapassar o dobro do valor original, ou seja, não poderão exceder 100% de juros.

40% de endividados em Minas Gerais

Os dados de Juiz de Fora acompanham o cenário estadual. De acordo com o órgão, em Minas Gerais 40,08% da população está endividada. Ao todo são 6,7 milhões de mineiros inadimplentes, sendo que mais de 126 mil entraram para a lista de negativados em novembro.

O número representa aumento de 0,73% em relação ao resultado de outubro. Por conta disso, o Estado tornou-se o 22º mais inadimplente do país em termos de representatividade. No mês anterior, ele ocupava a 24ª posição. No panorama nacional, o resultado vai na contramão do cenário observado em Minas Gerais. No Brasil, 71,81 milhões de consumidores do país (43,82% da população) fecharam o mês de novembro com pendências financeiras – redução de 143,5 mil pessoas (0,12%) em relação a outubro.

Conforme Moura existem duas consequências práticas para a pessoa endividada, a primeira delas é a dificuldade de acesso ao crédito. “Seja em forma de consórcio ou empréstimo no cartão de crédito, tendo uma dívida é mais difícil conseguir esse crédito com as instituições financeiras.” A outra consequência é a emocional. “A dívida causa estresse, ansiedade e dificuldades em casa. O brasileiro é muito preocupado com o nome, por isso a gente indica que, quando tiver uma folga no orçamento, deve-se focar nas dívidas.”

Negociação de dívidas

Uma forma de sair da inadimplência é renegociar as dívidas. A Serasa, por exemplo, conta com uma série de programas desenvolvidos para que o consumidor saia do vermelho. Matheus Moura afirma que no site da empresa é possível consultar, de forma gratuita, o valor da dívida e conhecer propostas de renegociação. “Observamos, nesse último mês, que muitos consumidores aproveitaram o décimo terceiro para colocar as contas em dia e começar 2024 com o nome limpo.”

Outro programa com o mesmo objetivo é o Desenrola Brasil, prorrogado até março de 2024. A iniciativa começou em outubro deste ano e abrange dívidas contraídas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2022. Segundo dados do Ministério da Fazenda, o Desenrola renegociou, até agora, R$ 29 bilhões em dívidas. Quase onze milhões de pessoas foram beneficiadas. Em média, o valor renegociado foi de R$ 250 para pagamento à vista e de R$ 790 para acerto parcelado. Os setores com o maior número de renegociações foram o financeiro, de securitizadoras, empresas que compram as dívidas de consumidores junto a outras empresas, e contas de luz.