‘Rolezin’ é 'festa' de fim de ano e grito de revolta, diz influenciador do grau
Movimento é uma forma de identidade; baderna, no entanto, é diferente do esporte, segundo embaixador do grau
Fonte: O Tempo Por Isabela Abalen
Final de ano é o momento em que os grupos de encontros de “rolezinhos do grau” ficam agitados. O tempo de festa sai das redes sociais direto para uma “celebração” na vias. Com a cidade esvaziada, as ruas e avenidas se tornam convidativas. “É um momento de celebração. Todo bairro tem o seu grupo, tem sua própria camisa do grau”, explica Cristiano Gonçalves, influenciador do grau. Mesmo assim, os rolezinhos deste ano surpreenderam, até mesmo, a Polícia Militar. De dentro do movimento, Cristiano tem uma visão diferente do que aconteceu na madrugada de Natal (25 de dezembro), quando diversas ocorrências foram registradas em Belo Horizonte: segundo ele, há um sentimento de revolta escondido no que ele chama de baderna.
“É complicado, porque a maioria que participa não tem juízo. BH está sem pista de grau para que o esporte seja praticado de forma legalizada desde 31 de dezembro do ano passado. Não ter um espaço apropriado não acaba com o grau, causa baderna. Com certeza tem uma revolta por trás desses rolezinhos”, diz ele, que também é professor do esporte e diretor da Associação Mineira dos Motociclistas de Esportes Stunt e Grau (Astung-MG). De fato, mesmo Belo Horizonte sendo considerada a capital do esporte, a prefeitura não renovou o funcionamento do “espaço do grau” na região da Pampulha em 2023.
Sem lugar para dar aulas, Cristiano observa o movimento perder força como esporte e virar motivo para bagunça. “O que eu vejo acontecendo é esses encontros serem marcados por redes sociais. Eles colocam o local e o horário, por exemplo, 00h no Anel Rodoviário, e o grupo se forma. No Anel, sobem até o Olhos D’Água, no Barreiro. Agora estão fazendo mais errado ainda, levando os rolezinhos até o Centro de BH. Fica mais perigoso”, explica.
Há quem confunda as “celebrações” do grau com os rituais de virada de ano das periferias, o que o influenciador do grau diz ser diferente. “Isso de pintar o cabelo de branco, o chamado ‘nevou’, usar óculos tipo juliette, isso é identidade de periferia, não tem a ver com moto. Está mais ligado a quem pilota do que ao esporte em si”, explica.
Mais rolezinho no Ano Novo?
Cristiano não tem dúvidas que a virada de Ano Novo reserva mais “rolezinhos do grau”. “Até o momento, não estou sabendo de nenhum encontro específico que foi marcado. Mas, com certeza, vai ter. Para evitar inconsequências, é bom que a Polícia Militar (PM) esteja nos principais pontos de encontro: Anel Rodoviário, Praça do Papa, Praça Cristo Redentor, por exemplo”, enumera.
Grau como esporte?
O influenciador e professor do grau, compara o esporte com o Skate e o Moto Cross. “O skate também nasceu nas periferias. Com o tempo, as pessoas se conscientizaram, e o esporte foi se concretizando. Hoje o skate está nas olimpíadas. Já o moto cross também utiliza a moto, mas na trilha. E, mesmo assim, os atletas são perseguidos. O grau ainda precisa ser visto de uma forma melhor pela prefeitura, pelas autoridades”, reclama.
Segundo Cristiano, nos Estados Unidos, “rolezinhos do grau” são planejados pelos governos. “Quando as BRs ficam vazias, é algo a ser estudado. Fora do país, esses eventos entram na agenda das cidades, os atletas são acompanhados pela Polícia Militar, tem ambulância, é um evento mesmo”, conta.
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