Israel ataca e mata em área humanitária de Gaza, ignorando Corte Internacional de Justiça e apelo mundial

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População de Rafah, no sul de Gaza, vive em situação precária Foto: AFP
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Bombardeio israelense contra área humanitária com refugiados em Rafah deixa 45 mortos, diz Hamas

O Tempo   Por Agências

 

Um ataque de Israel que atingiu um acampamento de deslocados internos em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, deixou pelo menos 45 mortos neste domingo (26), afirmou o Ministério da Saúde do território palestino, controlado pelo Hamas. Em uma sequência de publicações na rede social X, o Crescente Vermelho Palestino, como as sociedades da Cruz Vermelha são denominadas em países de maioria muçulmana, publicou "cenas horríveis de equipes de resgate (...) transportando vítimas", em suas palavras.

A organização falou em vários mortos e feridos, embora não tenha especificado o número. "Indivíduos permanecem presos sob as chamas e nas tendas destruídas pelo bombardeio", afirmou a entidade. "É importante notar que este local foi designado pela ocupação israelense como área humanitária, e os cidadãos foram coagidos a se refugiar ali."

Por meses, Rafah foi o último refúgio da guerra para mais de 1 milhão de moradores de Gaza - quase metade de toda a população do território palestino. Nas últimas semanas, porém, Israel concretizou as ameaças que fazia de avançar sobre essa cidade na fronteira com o Egito, fazendo com que cerca de 800 mil pessoas fugissem dali, segundo a UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos.

As que foram atingidas neste domingo estavam em uma área designada pelo próprio Estado judeu para deslocados na cidade, o que causou consternação em parte da comunidade internacional. Segundo a facção, 23 dos mortos são crianças, mulheres ou idosos. "Nós vimos corpos carbonizados, (...) casos de amputações, crianças, mulheres e idosos feridos", disse à AFP Mohammad al-Mughayyir, funcionário da agência de Defesa Civil palestina.

Segundo ele, os trabalhos de emergência enfrentam desafios causados pela destruição da campanha militar de Israel de quase oito meses, que deixou partes de Gaza em ruínas, e pelos bloqueios impostos por Tel Aviv. "Há escassez de combustível (...) e estradas foram destruídas, o que dificulta a circulação de veículos da Defesa Civil nas áreas que são alvos", afirmou. "Também falta água para apagar os incêndios".

O governo do Egito condenou o que chamou de "bombardeio deliberado das forças israelenses contra tendas de deslocados" em Rafah e pediu, em um comunicado, que Tel Aviv "aplique as medidas determinadas pela CIJ (Corte Internacional de Justiça) em relação ao fim imediato das operações militares" na cidade.
Na última sexta-feira (24), o tribunal determinou que Israel interrompesse imediatamente sua ofensiva terrestre em Rafah em resposta a um pedido da África do Sul, o que não aconteceu.

A audiência é parte do processo que começou em dezembro do ano passado, quando o país africano acusou Israel de descumprir a Convenção Internacional contra o Genocídio em sua guerra na Faixa de Gaza. "Além da fome, além da inanição, da recusa em permitir a entrada de ajuda em volumes suficientes, o que testemunhamos na noite passada é bárbaro", disse o ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Micheal Martin.

Já a Itália deu uma de suas declarações mais duras contra Israel até agora. "Há uma situação cada vez mais difícil, na qual o povo palestino está sendo espremido sem levar em conta os direitos de homens, mulheres e crianças inocentes que nada têm a ver com o Hamas. Isso não pode mais ser justificado", disse o ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, à emissora SkyTG24. "Estamos acompanhando a situação com desespero."

A pressão fez a principal promotora militar de Israel, a major Yifat Tomer Yerushalmi, dizer que o ataque foi "muito grave" e anunciar uma investigação. "Os detalhes do incidente ainda estão sob investigação, e estamos comprometidos a conduzi-la da maneira mais completa", disse ela em uma conferência organizada pela Ordem dos Advogados de Israel. "O Exército lamenta qualquer dano a não combatentes durante a guerra." (Folhapress)