Filha de promotora assassinada pelo marido em MG desabafa sobre prisão do pai: ‘muito feliz’

Lilian Hermógenes da Silva foi assassinada quando estava saindo de casa, em 2016, em Contagem; na época, servidora tinha medida protetiva contra autor do crime
Itatiaia Por Felipe Quintella, Fernanda Rodrigues
Gabriela Silva, de 20 anos, filha de Lilian Hermógenes da Silva, promotora do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) assassinada em 2016, não esconde a felicidade em ver o pai, o mandante do crime, finalmente na prisão. Apesar de já ter sido condenado a 24 anos de prisão por mandar matar a servidora pública, o advogado Artur Campos Rezende só foi preso nesta quinta-feira (26).
“Não vou esconder que estou muito feliz. A gente passou oito anos atrás dessa justiça. Foram oito anos de muito sofrimento, fomos ameaçados de diversas formas por ele. Eu sendo, infelizmente, filha do mandante do assassinato da minha mãe. A gente foi importunado tanto pela família da parte dele, quanto por ele. Então, assim, estou feliz. É uma conquista. A gente esperou tanto tempo por esse dia”, comemorou.
A jovem tinha apenas 12 anos quando a mãe foi morta e relembra como o crime impactou a família. “Não acho errado da minha parte e da minha família sentir essa felicidade. Foi algo que a gente esperou muito. Eu com 12 anos indo prestar depoimento de mais de quatro horas, um dia depois da minha mãe ter falecido. Na época eu não me senti acolhida, eu e meu irmão tínhamos 12 anos e ficamos a Deus dará. É uma história muito grande. Então, estou muito feliz”, disse.
Gabriela explica que o pai cometia diversos e sucessivos abusos contra Lilian, muito antes de mandar matá-la. Segundo a jovem, ele “apenas cumpriu o que prometia há anos”.
“Ele violentava ela de diversas formas. Eu me lembro com seis anos dele violentando ela, seja fisicamente ou mentalmente. Ele escondia o celular dela para ela achar que estava doida. Foram muitas manipulações, tanto em relação a mim e ao meu irmão, quanto a ela. Ele chegou a fazer o que sempre prometia, que era realmente executar ela”, contou.
A filha de Lilian ainda revelou que os abusos pioraram assim que a mãe se tornou promotora do Ministério Público de Minas Gerais.
“Ela estudava e ele ficava falando assim: ‘você pode estudar que eu não vou ficar sustentando vagabunda’. Durante muito tempo ela ouviu essas coisas assim. Ela conseguiu passar no concurso do Ministério Público e depois disso o inferno começou. Foi só ela receber mais que ele que as discussões diárias começaram, principalmente sobre essa questão financeira, já que ela estava recebendo mais que ele, que era advogado”, relembrou.
Oito anos após a morte de Lílian, Gabriela faz questão de dizer como admirava a mãe, a quem ela se refere como “guerreira”. “Minha mãe sempre foi uma pessoa muito gentil, carinhosa com as pessoas, e isso cativa. Minha mãe por onde passou cativou as pessoas. Lá (no MPMG) ela fez muitas amizades, coisa que ele não tinha porque era arrogante, mesquinho, prepotente. A gente não que gente assim por perto”.
Relembre o caso
Lilian Hermógenes da Silva foi morta aos 44 anos no dia 23 de agosto de 2016, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A vítima estava saindo de casa, no bairro Jardim Industrial, quando dois criminosos se aproximaram em uma moto e efetuaram diversos disparos de arma de fogo. A mulher morreu no local.
O assassinato aconteceu no cruzamento da Avenida General David Sarnoff com a Rua Joaquim Laran, no Bairro Jardim Industrial, em Contagem. Segundo as investigações, o homem não aceitava o fim do relacionamento e estava interessado em receber a pensão em caso de morte da ex-companheira.
Na época, para simular um assalto, os bandidos levaram a bolsa da servidora. O caso teve grande repercussão, pois a vítima havia conseguido medidas protetivas contra o ex-marido, com quem tinha dois filhos, de 12 e 9 anos.
Lilian era também servidora de Defesa de Direito das Mulheres no MPMG. Artur, então, planejou o crime, que foi consumado com ajuda de outro homem, que atirou em Lílian no momento em que ela saía de casa para o trabalho. Depois da sua morte, foi criado o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, celebrado em 23 de agosto, para homenagear a servidora.
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