Com o sonho do estádio realizado, torcida do Galo quer ajustes para 'se sentir em casa' na Arena MRV
Torcedores querem solução dos problemas com a acústica e os preços dos ingressos para "reviver" emoções das arquibancadas do Mineirão e Independência
O Tempo Sports Por Rayllan Oliveira
"Sentir em casa" ainda é um desejo para parte da torcida atleticana em jogos na Arena MRV. Um ano depois da concretização de um dos maiores sonhos alvinegros, o de ter o seu próprio estádio, esses torcedores anseiam por reviver na Casa do Galo as mesmas emoções que embalaram a Massa nas arquibancadas do Mineirão e do Independência. Acústica, perfil do público e acesso são listados como alguns dos empecilhos, mas que contrastam com a estrutura moderna, ornada em preto e branco, que se expande pela casa atleticana, localizada no bairro Califórnia, na região Noroeste de Belo Horizonte.
"Temos uma casa incrível, maravilhosa e tecnológica. Mas, na minha opinião, o mais importante é quando a arquibancada consegue, sozinha, empurrar o time para a vitória. Isso, infelizmente, não é o que está acontecendo. Torço muito para que a Massa consiga se encontrar de vez na arquibancada da Arena, para estarmos enfim em casa", aponta a estudante Eduarda de Castro, de 22 anos. A avaliação da atleticana considera os problemas com a acústica do estádio, alvo de críticas desde a sua inauguração, em agosto de 2023.
Construída visando se tornar um "caldeirão", a casa do Galo possui uma estrutura que absorve o som e dificulta a propagação do barulho da torcida para os diversos setores da Arena. Isso ocorre devido à lã de rocha, instalada na cobertura do estádio para impedir que o som incomode a vizinhança. A diretoria alvinegra já reconheceu o problema e, no último mês, colocou microfones e caixas de som para amplificar os cânticos dos torcedores nas arquibancadas. "Essa é a nossa casa, e isso precisa ser corrigido. Cabe à torcida pressionar para que a diretoria resolva. Isso atrapalha a nossa identificação com a Arena", argumenta o autônomo Lucas Nascimento, de 21.
Os atleticanos Eduarda de Castro e Lucas Nascimento na Arena MRV. Foto: Arquivo Pessoal
Para o atleticano, outro problema a ser solucionado é o dos preços dos ingressos. Segundo ele, as entradas estão mais caras, o que estaria impedindo parte da torcida de frequentar os jogos na Arena MRV. "Não vou dizer que o público que vai à Arena não ia ao Mineirão ou no Independência. Só que agora temos muitos torcedores turistas, pelo fato da Arena ser uma novidade. Outra coisa é o ingresso mais caro, com muitas cadeiras cativas, o que afasta o povão", acrescenta Lucas.
Conforme levantamento do Somos Clubistas, um perfil que analisa clubes de futebol de todo o mundo, o Atlético tem o sexto maior ticket médio no Campeonato Brasileiro de 2024, com o preço de R$ 60,73 - valor acima da média na competição (R$ 50,67). O Galo fica atrás de Grêmio, Palmeiras, Fluminense, Atlético Goianiense e Corinthians. O levantamento considerou os doze primeiros jogos da edição atual do Brasileirão.
"São ajustes que ainda precisam ser feitos. A acústica atrapalha, o público mudou um pouco, além de algumas questões em relação ao acesso, no entorno do próprio estádio. Mas é a casa do Galo, um sonho realizado. É algo do clube", destaca o analista de sistemas Felipe Pacífico, de 33. Embora os torcedores apontem para o distanciamento de parte dos atleticanos, a Arena MRV tem média de público de 34 mil ao longo dos 32 jogos disputados desde a sua inauguração.
Modernidade e conforto
Para além dos problemas que ainda limitam parta da torcida atleticana a se "sentir em casa" na Arena MRV, a Casa do Galo "caiu nas graças da Massa" devido às novas tecnologias, do conforto e da identidade do clube espalhada em vários pontos do estádio - algo que não ocorria no Mineirão e no Independência. A Arena, por exemplo, conta com mais de 800 pontos de acesso Wi-Fi, disponíveis para o público. A casa atleticana tem ainda 112 camarotes, 42 bares e lanchonetes, além de mais de duas mil vagas de estacionamento.
"Os LEDs entre os setores constantemente com letras de música e com nosso escudo são coisas sensacionais. Os muros ao redor da nossa casa, todo grafitado com torcedores e partes da nossa história, também são incríveis. Finalmente temos sinal para responder mensagem ou atender uma ligação, além de acesso a banheiros femininos limpos com papel higiênico em cada canto", destaca a atleticana Eduarda de Castro.
Segundo o atleticano Felipe Pacífico, essa estrutura favorece principalmente os torcedores do interior de Minas Gerais e de outros Estados em jogos na Arena MRV. "É importante ter uma loja do Galo, lojas diferentes. Sei que muita gente vai ao estádio só para assistir ao jogo e beber uma cerveja. Mas isso é um diferencial para aquele torcedor de outras cidades. É uma experiência diferente", aponta.
Quiosque da loja do Galo em um dos setores na Arena MRV. Foto: Divulgação/Arena MRV
'Sentir em casa' é questão de adaptação
A adaptação à nova casa também foi um desafio para os torcedores do Palmeiras. Isso porque o antigo Parque Antarctica, onde a equipe mandava seus jogos, foi parcialmente demolido para a construção de uma arena moderna. O Allianz Parque, como passou a se chamar o novo estádio do Verdão, foi inaugurado em novembro de 2014.
"Os títulos conquistados facilitaram a adaptação à nova "velha casa". Nos primeiros anos, tivemos alguns problemas, mas os preços eram acessíveis e o estádio era frequentado de forma mais democrática. O público era muito próximo do antigo Palestra Itália ou do Pacaembu. Hoje, os ingressos são abusivos, há uma elitização forte. Creio que seja um problema do futebol brasileiro", avalia o desenvolvedor Gabriel Oliveira, de 29.
O palmeirense, Gabriel Oliveira, e o torcedor do Corinthians, Brendo de Oliveira. Foto: Arquivo Pessoal
Situação semelhante vivenciaram os torcedores do rival, o Corinthians, com a inauguração da Neo Química Arena, em maio de 2014. O estádio do Timão foi construído a 23 quilômetros do Pacaembu, onde o clube paulista mandava os seus jogos.
"No começo, foi estranho. O Pacaembu era um caldeirão, mas a Arena era atraente devido à modernidade. Tivemos que conhecer e nos adaptar ao ambiente novo. Mas a Arena é a nossa casa, e conseguimos ter esse sentimento de pertencimento", argumenta o analista de faturamento Brendo de Oliveira, de 32.
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