Exames avaliam substâncias que podem estar em torta supostamente envenenada em BH; veja quais são

Exames avaliam substâncias que podem estar em torta supostamente envenenada em BH; veja quais são
Vigilância Sanitária esteve na padaria na manhã desta quarta-feira (23) Foto: VIDEOPRESS PRODUTORA

Exames iniciais feitos pelos médicos apontam para três possíveis compostos químicos; três pessoas estão internadas em estado grave

O Tempo    Por José Vítor Camilo e Raquel Penaforte

 

Diante da suspeita de envenenamento de três pessoas que estão internadas em estado grave após comerem uma torta em uma padaria do bairro Serrano, na região Noroeste de Belo Horizonte, exames buscam identificar a substância química que pode ter causado a intoxicação nas vítimas. As vítimas começaram a apresentar sintomas na terça-feira (22 de abril), quando o caso foi denunciado à Polícia Militar (PM).

Segundo o registro policial, a perícia da Polícia Civil foi acionada e já recolheu amostras dos produtos alimentícios, porém, segundo o relato de familiares das vítimas à polícia, exames preliminares feitos pela equipe médica já indicam para três possíveis substâncias: carbamato, organofosforado ou toxina botulínica. 

Químico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade de São Paulo (USP), o doutor Egon Campos dos Santos explica que as três substâncias são altamente perigosas à saúde humana. 

“Todas essas substâncias são extremamente nocivas. Os carbamatos e organofosforado, por exemplo, são substâncias que podem estar presentes na composição química do produto popularmente conhecido como 'chumbinho'. Estes compostos agem inibindo a enzima acetilcolinesterase, o que provoca o acúmulo de acetilcolina no sistema nervoso”, explica o especialista. 

Segundo ele, essa interferência pode desencadear uma série de sintomas graves, como salivação excessiva, vômitos, convulsões, paralisia e, em casos extremos, levar à morte por insuficiência respiratória.

Ainda mais perigosa, segundo o doutor Egon, é a toxina botulímica, que é produzida pela bactéria Clostridium botulinum, que pode estar presente em alimentos em conserva, como palmito, compotas e produtos de origem animal mal conservados. Apesar de largamente utilizada por médicos e dentistas para fins estéticos, no famoso "Botox", a substância deve ser aplicada localmente, pois, se cair na corrente sanguínea, pode causar a morte por falta de ar. 

“Ela bloqueia a liberação de acetilcolina nas terminações nervosas, causando paralisia muscular progressiva que, se atingir os músculos respiratórios e não for tratada rapidamente, pode ser fatal”, completa o especialista. 

Vigilância Sanitária fiscalizou padaria

Na manhã desta quarta-feira (23 de abril), a Vigilância Sanitária esteve na padaria onde os alimentos foram adquiridos e fez uma fiscalização. Após colher as informações, o órgão municipal determinou a interdição do estabelecimento, que não tinha alvará sanitário

O TEMPO esteve no local e conversou com funcionários, que preferiram não se identificar. Um deles relatou que a principal suspeita é que o padeiro, que seria um freelancer indicado por terceiros ao dono da empresa, tenha envenenado a torta.

De acordo com a Polícia Civil, o representante legal do estabelecimento foi conduzido para ser ouvido, por meio da Central Estadual do Plantão Digital. "O padeiro, até o momento, não foi localizado e outras informações poderão ser repassadas após a conclusão dos trabalhos de polícia judiciária", disse a instituição policial. 

Entenda o caso 

Três pessoas foram hospitalizadas em estado grave após ingerirem torta de frango e empadas adquiridas em uma padaria localizada no bairro Serrano, na região Noroeste de Belo Horizonte. Os sintomas de mal-estar surgiram na terça-feira (22), um dia após o consumo dos produtos. A Polícia Civil investiga o caso e não descarta a hipótese de envenenamento.

Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), as vítimas são uma mulher de 75 anos e um casal, com 23 e 24 anos. Elas compraram os alimentos na segunda-feira (21) e, ainda no mesmo dia, retornaram ao estabelecimento para devolvê-los, alegando que estavam impróprios para consumo.

Funcionários da padaria informaram aos policiais que aceitaram a devolução e reembolsaram os clientes. Ainda conforme o boletim, os produtos apresentavam odor forte e aspecto deteriorado. Os alimentos teriam sido preparados no sábado (19) por um padeiro contratado temporariamente.

O dono da padaria confirmou a versão. Conforme registrado no documento policial, ele declarou que contratou o profissional como freelancer e não mantinha contato com ele. Disse ainda desconhecer o endereço do padeiro, que trabalhou no local por apenas seis dias, encerrando suas atividades no domingo (20). O pagamento, segundo o proprietário, era feito em dinheiro, sem registro formal.

A padaria foi interditada até a chegada da perícia da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). A Vigilância Sanitária foi acionada, mas, de acordo com a PMMG, não havia equipe disponível para vistoriar o local na terça-feira (22).

A padaria foi interditada na manhã desta quarta-feira (23). "A medida foi necessária porque o estabelecimento não possui Alvará Sanitário e nenhum cadastro no serviço para iniciar o processo para liberação do documento. Além disso, foram encontradas irregularidades no que se refere a questões de higiene e estrutura sanitária", disse a Prefeitura de BH. O local, no entanto, está com o Alvará de Localização e Funcionamento (ALF) em situação regular.

Estado de saúde das vítimas

As vítimas foram levadas para hospitais em Belo Horizonte e Sete Lagoas. A idosa de 75 anos foi encaminhada a uma unidade particular na região de Venda Nova, na capital mineira. Já o casal foi internado no Hospital Municipal Monsenhor Flávio D'Amato, em Sete Lagoas, município onde residem.

De acordo com relatos dos policiais, profissionais de saúde que atenderam os pacientes suspeitam de envenenamento. No entanto, a causa exata da intoxicação será confirmada apenas após a realização de exames laboratoriais.