Duplicação da BR-381: redução de acidentes vai gerar economia bilionária em MG
Pesquisa revela ganhos econômicos e ambientais que podem ser gerados pela concessão da rodovia em Minas
Por Mateus Pena O tempo
A concessão e a consequente duplicação da BR-381 no trecho que liga Belo Horizonte a Governador Valadares, na região do Rio Doce, pode gerar uma redução de custos operacionais para os usuários da rodovia de mais de R$ 1,75 bilhão ao longo dos 30 anos do projeto. Entram nessa conta, por exemplo, combustível, lubrificantes, peças e manutenção dos veículos, que correspondem a mais de 55% desse benefício. Os dados foram revelados pelo estudo ‘Infraestrutura e Crescimento Econômico: a nova rodada de concessão da BR-381 como modelo de segurança, eficiência e sustentabilidade’, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em parceria com a Houer Consultoria e Concessão.
A concessão, finalizada neste ano, prevê investimentos de R$ 5,76 bilhões em obras de duplicação, construção de faixas adicionais, vias marginais, travessias urbanas, correções de traçado e outras melhorias. Além disso, a maior segurança na via, esperada com a duplicação, deverá reduzir o número de acidentes no local.
Em 2023, a BR-381 foi a rodovia com maior número de batidas entre as estradas federais que cortam o Estado. Foram 2.641 acidentes, envolvendo 6.731 pessoas e levando à morte 171 vítimas. Em todas as rodovias federais em Minas foram 9 mil acidentes, com 727 mortes. Somente no ano passado, em todo o território nacional, os custos estimados dos acidentes nas rodovias federais foram superiores a R$ 22,3 bilhões. Os números, usados na pesquisa da Fiemg, foram levantados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Segundo o diretor do Conselho de Infraestrutura da Fiemg, Victório Semionato, além dos impactos diretos calculados pelo estudo da Houer, há ainda consequências indiretas que, inicialmente, não são passíveis de mensuração, entre eles o prejuízo causado pela atual situação da BR-381 para a atração de investimentos para regiões ligadas pela rodovia. “A dificuldade de escoamento de produção pela BR-381 acaba por impactar negativamente na instalação de indústrias em diversos municípios localizados às margens da rodovia. Nesse sentido, a região do Vale do Aço, por exemplo, acaba prejudicada na atração de novas indústrias por uma dificuldade logística de ligação com Belo Horizonte”, disse.
Semionato ressaltou também o impacto da concessão para a população, uma vez que os custos de transporte mais elevados em razão da situação das vias influenciam diretamente o valor do frete. “E todo esse custo é, invariavelmente, repassado ao preço final dos produtos, impactando diretamente os consumidores”, completou. A economia regional também deverá ser beneficiada, uma vez que a rodovia é um importante corredor logístico que conecta diversas cidades e regiões de Minas Gerais. O estudo mostra que a melhoria da infraestrutura rodoviária impulsionará o desenvolvimento econômico regional, facilitando o escoamento da produção, o turismo e o comércio.
O presidente da Houer e membro do Conselho de Infraestrutura da Fiemg, Fernando Iannotti, explica que os ganhos estão diretamente associados às melhores condições de segurança e trafegabilidade da rodovia. “A concessão da BR-381 representa um avanço significativo para transformar a principal rota logística de Minas Gerais, com potencial de impacto direto na vida de mais de 5 milhões de pessoas que vivem ao longo de seu trajeto. A iniciativa privada assumirá os custos que o poder público hoje não consegue cobrir integralmente, o que representa economia e arrecadação significativa para o Estado e retorno direto para a sociedade”, disse.
A maior eficiência no tráfego e a redução do consumo de combustível contribuirão para a mitigação de emissões de gases de efeito estufa. O HDM-4, modelo de análise econômica utilizado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), estima uma redução de mais de 161 mil toneladas de GEE ao longo da concessão. Para compensar essa quantidade de emissões, seriam necessárias aproximadamente 1.127.000 árvores plantadas em uma área equivalente a 986 campos de futebol.
Duplicação pode tirar a alcunha de 'Rodovia da Morte' da BR-381. Crédito: Flávio Tavares/O TEMPO
Outros ganhos
O projeto de concessão da BR-381 prevê a contratação de 601 profissionais no pico da obra e uma média de 534 empregos diretos por ano ao longo de 30 anos. Estima-se que mais de R$ 1,18 bilhão em salários serão pagos nesse período. Adicionalmente, a melhoria da infraestrutura e a maior competitividade da região podem atrair novos investimentos e empresas, gerando ainda mais empregos.
A concessão resultará ainda em uma maior arrecadação de impostos para os cofres públicos, tanto em nível federal quanto estadual e municipal. As estimativas apontam para uma arrecadação de mais de R$ 8 bilhões em impostos ao longo dos 30 anos da concessão.18 Esses recursos poderão ser investidos em áreas prioritárias, como saúde, educação e segurança.
Além disso, a concessão atrairá investimentos privados para a BR-381, reduzindo a necessidade de aportes públicos para a manutenção e melhoria da rodovia. As estimativas indicam uma economia de cerca de R$ 2 bilhões para os cofres públicos.
Comparação das condições da BR-381 em trechos concedidos e não concedidos
A BR-381 em Minas Gerais apresenta diferentes condições em seus trechos, dependendo da gestão: concedida ou pública. As fontes entrevistadas pela Fiemg demonstram as diferenças significativas entre esses trechos, especialmente em relação à qualidade da infraestrutura, segurança e impacto na economia local.
Trechos concedidos
- Gestão e investimentos: administrados por concessionárias, como a Autopista Fernão Dias, esses trechos se beneficiam de investimentos contínuos e manutenção regular, garantindo melhor qualidade da infraestrutura;
- Condições gerais: a Pesquisa CNT de Rodovias 2023 indica que 48,6% da malha concedida em Minas Gerais apresenta boas condições gerais, incluindo pavimento, sinalização e geometria;
- BR-381 concedida: o trecho sob gestão da Autopista Fernão Dias (483 km) recebeu avaliação "Bom" para estado geral, pavimento e geometria, e "Regular" para sinalização;
- Segurança: a duplicação, a boa qualidade do pavimento e a presença de serviços de apoio contribuem para maior segurança e menor índice de acidentes em trechos concedidos;
- Impacto econômico: a infraestrutura de qualidade atrai empresas e investimentos, impulsionando a economia local. As cidades ao longo do trecho concedido da BR-381 geraram um saldo positivo de 22.907 empregos em 2023, com destaque para o setor industrial.
Trechos não concedidos
- Gestão e investimentos: sob gestão pública federal (DNIT) ou estadual (DER-MG), enfrentam desafios por falta de recursos e investimentos, resultando em infraestrutura precária;
- Condições gerais: apenas 9,08% da malha sob gestão pública em Minas Gerais apresenta condições adequadas;
- BR-381 não concedida: o trecho sob gestão do DNIT (366 km) recebeu avaliação "Regular" para estado geral, pavimento e sinalização, e "Ruim" para geometria;
- Geometria: a geometria complexa e as pistas estreitas aumentam o risco de acidentes, especialmente no trecho não concedido entre Belo Horizonte e Governador Valadares;
- Segurança: a falta de investimentos e a geometria inadequada contribuem para um maior número de acidentes e maior severidade nos trechos não concedidos;
- Impacto econômico: a infraestrutura deficiente dificulta o desenvolvimento econômico, com menor geração de empregos e menor atratividade para investimentos. As cidades ao longo do trecho não concedido da BR-381 registraram um saldo negativo de 1.180 empregos no setor industrial em 2023.
Perder a alcunha de ‘rodovia da morte’
Em agosto, a gestora 4UM, anteriormente conhecida como J. Malucelli, venceu o leilão de concessão da BR-381, entre Belo Horizonte e Governador Valadares. A empresa fez uma proposta de desconto de 0,94% sobre a tarifa de pedágio, superando a oferta da gestora Opportunity, que sugeriu um desconto de apenas 0,10%.
O diretor-geral da ANTT, Rafael Vitale, destacou, à época, que seria o fim da alcunha de ‘rodovia da morte’. “Com os investimentos, a concessão se transformará em rodovia da vida. O sucesso do leilão é uma batalha vencida em parceria e sinergia com o Governo Federal, Ministério dos Transportes e a Infra S.A., cujo projeto teve que ser reescrito e reestruturado em conjunto para aprimorar a atratividade para o setor e para implantar investimentos e melhorias essenciais para a população”, afirmou Vitale.
Além da duplicação e das faixas adicionais, o certame prevê a realização de 51 correções de traçado, bem como áreas de escape, pontos de parada e descanso para caminhoneiros e 23 passarelas para a travessia de pedestres. De acordo com o ministro Silveira, o governo federal está com altas expectativas para o leilão e cumpre uma promessa do presidente Lula (PT) feita durante sua campanha em 2022.
Na época, o governador Romeu Zema, que acompanhou a sessão do leilão na Bolsa de Valores (B3), em São Paulo, ressaltou a importância da concessão. “É um trecho com muitos acidentes, muitas curvas, de difícil ultrapassagem, veículos de carga, e essas obras vão trazer essa segurança e mobilidade, que é um dos principais pontos da concessão”, ressaltou o governador.
Já o ministro dos Transportes, Renan Filho, ressaltou que foi um trabalho em equipe bem-sucedido, com um objetivo em comum: salvar vidas. “O projeto está bem estruturado, com um desconto exequível. Era um gargalo da infraestrutura nacional que ceifou tantas vidas, mas que agora isso vai mudar. Criamos, em conjunto, soluções novas para problemas antigos. É um novo capítulo para essa história”, pontuou.
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