Precariedade e interdição da maior cadeia de MG: o que está em jogo com a greve da polícia penal

Precariedade e interdição da maior cadeia de MG: o que está em jogo com a greve da polícia penal
Há quatro meses, a penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, está parcialmente interditada Foto: Ramon Bitencourt / Arquivo / O TEMPO

Especialista em segurança pública afirma que pode haver rebeliões entre os presos em longo prazo

Por Juliana Siqueira e Rayllan Oliveira   O Tempo

A possibilidade de greve da Polícia Penal de Minas Gerais deixa o Estado em alerta em meio a um cenário já desafiador. Há quatro meses, a penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, está parcialmente interditada por falta de servidores e não pode exceder 2.200 detentos. Juiz titular da Vara de Execuções Criminais da Comarca de Contagem, Wagner Cavalieri destaca a necessidade de recomposição do efetivo. Especialista em segurança pública, Ludmila Ribeiro afirma que, com a paralisação, a situação pode culminar em algo ainda maior, como rebeliões em longo prazo.

O Sindicato dos Policiais Penais do Estado de Minas Gerais (Sindppen-MG) reivindica recomposição salarial.  Segundo a entidade, o salário estaria defasado em 44,9% — a remuneração inicial atualmente é de R$ 5.332,63. Cavalieri destaca que a categoria merece ser muito bem remunerada em razão da importância do trabalho e das responsabilidades. No entanto, mesmo antes de uma possível greve, já falta pessoal. “Apesar do esforço dos atuais servidores, muitas atividades internas acabam ficando prejudicadas, pois a prioridade é a segurança”, diz ele.

Conforme Ludmila Ribeiro, não é possível saber com exatidão os efeitos de uma greve dos policiais penais, uma vez que isso depende de como a paralisação vai se instaurar. No entanto, o que se pode esperar são situações como menos presos sendo encaminhados para atividades educacionais, assistenciais ou banhos de sol, por exemplo, o que pode gerar rebeliões.

“Além disso, muitas vezes as greves impedem a entrada das famílias dentro das unidades prisionais. A diminuição da quantidade de agentes pode afetar bastante as pessoas privadas de liberdade”, diz ela.

Situação precária

O policial penal Patrick Alves, de 39 anos, afirma que a situação é precária. Além da defasagem salarial, a categoria enfrenta condições inadequadas no trabalho, de acordo com ele. "São poucos servidores e todos estão sobrecarregados no serviço. Não conseguimos tirar folga, o espaço de trabalho é sujo, com o banheiro em condições precárias. Tudo isso se soma ao problema do salário. Alguns servidores estão tirando seus filhos da escola (particular) pois não conseguem mais pagar", acrescenta.

Para ele, a greve é uma medida extrema, mas que deve ser adotada pela categoria como "um grito de socorro". "Temos feito diversas manifestações, procurado um acesso ao Governo, mas eles não dialogam com a gente. Todas as vezes que estamos propondo algo, a justificativa é que não tem condições (para o reajuste salarial). A gente espera que os órgãos públicos entrem nessa pauta e que não sejam omissos", desabafa.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG) e aguarda retorno.