Deslizamento de terra no Linhares gera protesto de moradores
Segundo o relato de moradores da Zona Leste, situação vem acontecendo há cerca de três meses
Por Pâmela Costa Tribuna de Minas
População colocou móveis e outros objetos para bloquear a rua (Foto: Pâmela Costa)
O barro que desce de um loteamento irregular na Rua Diva Garcia, no Bairro Linhares, está invadindo casas e impedindo que crianças vão à escola. Para chamar a atenção do Poder Público diante da situação que atormenta os moradores, a populaçao se reuniu na manhã desta quinta-feira (22), fechando a rua em protesto e exigindo uma ação de contenção urgente do Governo municipal.
Os problemas ali teriam sido intensificados a partir de uma obra irregular, feita em área pública, sem licenciamento ambiental e com finalidade comercial. A construção está localizada próxima a um grande barranco – com elevação significativamente superior à altura das casas, que ficam do outro lado da rua estreita. Além disso, a alguns metros de distância, há a presença do Córrego do Yung, e todas essas condições somadas inabilitaram o local a receber um loteamento.
Depois de a construções terem sido iniciadas ilegalmente, a Prefeitura de Juiz de Fora notificou e multou o proprietário da terra – que teria desacatado a orientação. Em vídeo enviado à imprensa, a secretária de Sustentabilidade em Meio Ambiente e Atividades Urbanas (Sesmaur), Aline da Rocha Junqueira, informou que também foram adotadas medidas judiciais diante da postura assumida pelo responsável. “É uma situação muito séria e que a Prefeitura está fazendo o possível para minimizar os impactos. Quem fez vai ter que pagar por todos os crimes e consequências desta ação irresponsável que está trazendo tantos prejuízos para a população”, acrescenta.
Após o embargo da obra pela PJF, entretanto, o problema persistiu, pois o barranco da encosta já havia sido comprometido. Conforme explica Lucimar de Paula Silva, 60 anos, representante da Associação Pró-Melhoramento do Bairro Linhares, a Prefeitura faz a limpeza da rua regularmente quando o barro toma conta do espaço. Mas ela acena para a necessidade de uma solução de contenção.
Um medo que se repete no Linhares
Creuza Maria da Silva mora a vida toda na mesma casa no Bairro Linhares (Foto: Pâmela Costa)
Creuza Maria da Silva, 60 anos, morou toda a sua vida na mesma casa do Bairro Linhares, mas confessa já estar cansada de conviver com um medo que se repete. Há alguns anos houve ali um deslizamento de barranco. Embora, no momento do desastre, ela não estivesse em casa, sua moradia foi destruída e ela teve que ir morar, provisoriamente, na casa de vizinhos.
Quando isso aconteceu, a Defesa Civil foi até lá e construiu um muro. “Só que atualmente está rachado e eu tenho medo de ele cair. É horrível ver esse problema retornar, eu quero ir embora daqui, estou tentando arrumar outra casa, mas não consigo”, conta, temerosa. Creuza é aposentada e recebe um salário mínimo, condição financeira que, segundo ela, a impede de arranjar um local. Quando veículos pesados passam pela rua, o muro treme e o medo aperta, segundo a moradora.
A reportagem entrou em contato com a Defesa Civil, que informou não ter sido acionada para realizar vistoria no endereço ou de qualquer outra pessoa da rua. O órgão também destacou que, em caso de rachaduras ou danos aparentes, a população deve procurar o serviço por meio de ligação para o 199.
Somente neste ano foram realizadas quatro vistorias na Rua Diva Garcia, segundo a Defesa Civil, e em nenhuma foi necessário interdição. Quanto ao loteamento irregular, o órgão esclareceu que já realizou vistoria no local e tem monitorado a área.
Crianças não estão conseguindo ir à escola
Silvana Aparecida da Silva alega que não tem conseguido levar sua filha à escola quando a lama toma a rua (Foto: Pâmela Costa)
Na manhã desta quinta, Silvana Aparecida da Silva, 33 anos, passou pelo trecho em que ocorria a manifestação carregando no colo seu bebê de 1 ano de idade, enquanto segurava a mão da outra filha, de 5 anos, que estava a caminho da escola. Esse é o trajeto entre a casa em que vive e o local em que a criança estuda.
Devido a isso, quando o barro toma conta do asfalto e da calçada, invadindo casas e marcando sua passagem pelas paredes, a mulher não consegue levar a filha para a escola. “Segunda-feira não teve como passar , estava cheio de lama e água. O barro estava caindo do loteamento”, relata.
Manoelina Menezes, 39 anos, mora de frente para uma as partes mais críticas do barranco, junto com o marido e os filhos, de 6 e 22 anos. A filha dela também ficou sem ir à escola. “O transtorno é que nós todos, os moradores, não podemos levar nosso filhos para a escola, o barro está chegando no meu joelho.” Ela continua: “desce uma enxurrada imensa que parece um rio e invade totalmente minha casa, já danificou móveis e estragou uma máquina de lavar”.
O contato com a água fez com que ela começasse a passar mal, segundo Manoelina. “Fiquei dois dias em casa, me deu náuseas, vômito e diarreia, fruto de uma virose. A gente teve que ter contato com a água para limpar a nossa casa”, conta ela sobre a impossibilidade de desviar das consequências do problema. Além do relato de Manoelina, outros moradores citaram consequências à saúde, como alergia à poeira provocada pela derrocada da encosta diante do fluxo de veículos que passam pelo local.
Moradores pedem urgência na resolução do problema
A lama que vem do loteamento também impediu Talita Silva Gomes, 25, de levar a filha de 1 ano para a creche. O protesto dela e de outras mães, pais, homens e mulheres teve como principal intuito exigir uma medida rápida por parte do Poder Público, a fim de mitigar os impactos na vida dos moradores.
Os problemas causados vão desde impedir a ida de crianças à escola, sensação de risco iminente de alguma tragédia e problemas de saúde até os impactos financeiros que têm repercutido aos moradores. “Nós queremos um prazo por escrito da Prefeitura para resolver esse problema. Eles falam que as máquinas não podem trabalhar debaixo de chuva. Mas o trabalhador pode sair com chuva e o pé no barro para resolver?”, questiona Talita em tom de indignação, enquanto protestava em meio à chuva que caía no momento. “A gente quer uma solução, senão vamos fechar a rua de novo. Quando chove o barro desce, o Demlurb vem e limpa, mas não está adiantando porque desce barro cada dia mais”, cobra a jovem.
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