Cinebiografia sobre a cantora Amy Winehouse estreia nos cinemas

Cinebiografia sobre a cantora Amy Winehouse estreia nos cinemas
Cantora é vivida por Marisa Abela, nome ainda pouco conhecido no cinema Foto: UNIVERSAL/DIVULGAÇÃO
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"Back to Black" é lançado 13 anos após a morte trágica da artista inglesa, em consequência de abuso de álcool

O Tempo    Por Paulo Henrique Silva

 

Não é preciso ser muito fã de Amy Winehouse para descobrir o principal desacerto da cinebiografia “Back to Black”, uma das estreias de hoje nos cinemas. Quem acompanhou o noticiário na época da morte trágica da cantora inglesa, ocorrida há 13 anos, encontrará o mesmo conteúdo no filme, calcado num mergulho radical em drogas e bebidas. 

Seria possível dizer, em defesa do longa-metragem assinado por Sam Taylor-Johnson, que seu grande tema são os perversos efeitos de uma relação tóxica, pautada pela grande dependência de Amy ao marido. De personalidade forte e determinada, especialmente em relação à música, ela se deixou afetar por um amor autodestrutivo. 

Mas o que o filme mostra não é muito diferente do que as intensas letras de músicas como “Back to Black” e “Rehab” já escancaravam. A vida de Amy era um livro aberto, e os roteiristas não veem problema em reiterar um arquétipo de artistas jovens de sucesso que, sem respostas para as suas angústias, optaram por um caminho de extremos. 

Focado na realização do álbum “Back to Black”, ponto alto da trajetória musical de Amy, ganhador de vários Grammys, o filme põe essa decadência em primeiro plano, muitas vezes por um viés quase pornográfico, semelhante ao que Taylor-Johnson fez em “50 Tons de Cinza”, vendo tudo com certo fascínio pelo “quanto pior, melhor”. 

“Back to Black” até começa bem, apresentando uma garota num dia festivo em família, quando vários integrantes mostram suas afinidades musicais. Estaria lá a gênese da paixão pelo jazz e por divas como Ella Fitzgerald e Lauryn Hill. Mas esse olhar para a formação artística logo se perde, em favor de arroubos impulsionados pelo álcool. 

O que estaria por trás dessas alterações de temperamento? Seria um problema familiar não resolvido? A falta de maior solidez emocional? Um ato de rebeldia contra os preceitos religiosos (a base dela era judaica)? Qual tipo de resposta Amy Winehouse quer dar para o mundo? É claro que a música surge de seu sofrimento, mas qual é ele exatamente? 

Nem mesmo quando ela diz que, ao cantar, gostaria de fazer os ouvintes esquecerem seus problemas por pelo menos cinco minutos, numa sequência que aparece no início e no final, o filme parece nos apontar para alguma espécie de fratura interna, a ponto de se agarrar com unhas e dentes a um homem que põe a vida dela do avesso. 

Da forma como o filme expõe essa turbulência pessoal, o resultado não foge muito aos dramas sobre mulheres escravizadas pelos maridos, comuns nas décadas de 1970 e 1980. Tanto é assim que uma das últimas cenas explicita esse viés quando o marido, mesmo na cadeia, rejeita a continuidade da relação com Amy, preferindo o divórcio. Pouco depois, vem o final trágico. 

Apesar de, a certa altura, Blake Fielder-Civil brincar com o fato de que a mídia o está pintado como o cônjuge-vilão, a narrativa não deixa dúvida sobre isso, com o ator Jack O’Connell virando um subproduto de Christian Grey, o bonitão masoquista de “50 Tons”, resolvendo se casar com Amy após ela colher os louros do sucesso. 

É bastante compreensível que muitos dos personagens que circundaram a vida da cantora ainda estejam vivos, dificultando o acesso a questões que poderiam se tornar mais interessantes e complexas – como Baz Luhrmann fez com Elvis Presley, colocando empresário também como protagonista, tão forte e importante na trama quanto o artista. 

Sobre o cenário do show business de uma época, visto, por exemplo, em “Bohemian Rhapsody” (a história do Queen), o filme também não traz nada de relevante. O maior de todos os pecados, para quem gosta do gênero, é a incapacidade de imprimir algum arrebatamento musical, como alcançado pelas cinebiografias de Whitney Houston e Elton John.