Cine-Theatro Central vira a estrela da noite e recebe reverência
Fima, que roda o Brasil homenageando teatros históricos, chega à Juiz de Fora nesta quinta
FONTE: TRIBUNA DE MINAS Por Cecília Itaborahy
Nesta quinta-feira (14), Juiz de Fora recebe o Festival Interativo de Música e Arquitetura (Fima), que se dedica, nesta terceira edição, a homenagear os teatros históricos do Brasil, a partir da convergência da arte com a arquitetura. Desta vez, o teatro contemplado é o Cine-Theatro Central que, a partir das 19h, sedia esse encontro cultural, que fica por conta da Orquestra Acadêmica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), regida pela maestra Anna Lamha, e o violonista Luís Leite. A apresentação tem ainda comentários da arquiteta Mônica Olender. A atividade tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet, Governo Federal, e a entrada é gratuita. Os ingressos podem ser retirados na bilheteria do espaço.
O Fima, na sua primeira edição, homenageou monumentos arquitetônicos do estado do Rio de Janeiro. Já na segunda, contemplou palácios e museus do Brasil inteiro. Agora, se dedica a revisitar os teatros históricos. Até então, ele já passou por cidades como Sabará, Manaus, João Pessoa, Belém e Niterói e, agora, chega a Juiz de Fora reconhecendo a importância do Cine-Theatro Central. “Um dos principais objetivos do Fima é estabelecer uma conexão afetiva do público com importantes patrimônios históricos brasileiros. Nesta nova edição do Festival, alguns dos mais importantes teatros históricos brasileiros serão celebrados. Edifícios que ao longo do tempo testemunharam importantes capítulos da trajetória artística do país. Através da música e da arquitetura, seremos transportados a diferentes momentos de nossa história, criando uma experiência multissensorial que unirá passado, presente e futuro. Uma jornada de reconhecimento e apreciação da rica trama que compõe a identidade cultural brasileira”, afirmou, em nota, Pablo Castellar, idealizador, curador e diretor artístico do Fima.
Homenagem à história do teatro
A arquiteta Mônica tem experiência em conservação e restauração e, no dia, transmite as histórias e os detalhes por trás da arquitetura e da história. Elas refletem o que foi, na cidade, a transição para a modernidade, fruto de recursos que circularam no município por causa da indústria tanto cafeeira quanto têxtil – o que fez com que Juiz de Fora passasse a ter uma classe social em ascensão e, inclusive, em busca de diversão e entretenimento de qualidade.
Essa história será relembrada até mesmo pelo programa feito pela Orquestra Acadêmica da UFJF, elaborado especialmente para o concerto desta quinta. É por isso que a primeira música é “La danza”, de Gioachino Rossini, para começar com a relação ítalo-brasileira que constituiu o teatro, a partir, sobretudo, de Raffaele Arcuri, arquiteto convidado para projetar o espaço. Ele era filho de um imigrante italiano, o Pantaleone Arcuri, co-fundador da construtora Pantaleone Arcuri e Spinelli, uma das principais de Juiz de Fora e, inclusive, do Brasil, naquela época.
Logo em seguida, a música “Pavane pour une infante défunte”, de Maurice Ravel faz referência às ninfas que estampam as pinturas decorativas do teatro. Inclusive, acredita-se que elas foram pintadas nuas, por ngelo Bigi, em 1928, e, em 1936, foram vestidas, por pressão da sociedade.
A próxima peça já marca o dia da inauguração do Cine-Theatro Central, que aconteceu em 30 de março de 1929. A solenidade contou com uma orquestra que realizou o Intermezzo da ópera “Cavalleria rusticana”, de Pietro Mascagni, e a exibição do filme mudo “Esposalheia” de Edward Laemmle. O programa continua com o prelúdio da “Bachianas brasileiras No. 4”, de Heitor Villa-Lobos, representando uma fusão entre o barroco e o folclore, uma vez que o próprio teatro juiz-forano surge através do encontro das tradições europeias e brasileiras.
Depois, a ideia é voltar no tempo indo da Renascença do compositor polonês Jakub Polak com “Prelude e Gagliarda para alaúde” ao Barroco do “Concerto em Ré Maior RV 93 para Alaúde e Cordas”, de Antonio Vivaldi. A proposta, com essas músicas, é referenciar elementos decorativos e arquitetônicos do teatro, sobretudo a pintura interna do teto assinada por ngelo Bigi. Essas duas obras também relembram a primeira vez em que o teatro recebeu o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, em 1997.
Nessa trajetória, é importante mencionar o tempo em que o teatro funcionou como importante espaço cinematográfico. E, por isso, a orquestra apresenta três trilhas sonoras dos filmes “O carteiro e o poeta”, de Michael Radford, “A missão”, de Roland Joffé, e “Cinema paradiso” de Giuseppe Tornatore. Dessa última trilha sonora, a proposta é também relembrar a ligação que a comunidade juiz-forana tem com o espaço, uma vez que, em 1994, o edifício, adquirido pela Universidade Federal de Juiz de Fora, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio federal, e iniciou uma campanha por sua revitalização, que aconteceu em 1996.
O encerramento do concerto lembra o ano de 1968, quando foi realizada a primeira edição do Festival de Música Popular Brasileira de Juiz de Fora. Serão tocadas as músicas “Travessia” e “Maria Maria”, de Milton Nascimento, com o intuito ainda de pontuar o show de 2019, quando o músico fez a apresentação que reabriu o Cine-Theatro, após sua última reforma.
Outras ações
Além da programação presencial, o Fima marca presença no digital. Nas redes sociais, são exibidos os concertos visuais do festival, em formatos tradicionais e em 360º. Além disso, tem a websérie “Obras em nota”, que antecipa o que é apresentado no concerto presencial e garante ao público um entendimento mais claro sobre as obras apresentadas em cada local. Há, ainda, um podcast, o Diálogos Fima, com insights e entrevistas com músicos, palestrantes e convidados especiais.
A proposta do Fima é também se dedicar à educação musical, e oferece aulas magnas e o projeto Fima na Escola, que é uma ação educacional que pretende sensibilizar crianças e estimular novos caminhos para a valorização das identidades culturais.
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