Bebê morre com síndrome respiratória à espera de vaga no CTI na RMBH; família denuncia negligência

Bebê morre com síndrome respiratória à espera de vaga no CTI na RMBH; família denuncia negligência
A bebê Evelyn, de apenas um ano e quatro meses; criança foi intubada mas não resistiu ao procedimento Foto: Divulgação pessoal

Criança foi intubada e não resistiu à uma parada cardiorrespiratória

O Tempo     Por Mateus Pena

 

Após três dias de espera por um leito de CTI, uma bebê de um ano e quatro meses morreu devido a complicações de uma síndrome respiratória aguda grave, em Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte. Evelyn Marques Bambirra estava internada no hospital municipal da cidade, mas, na sexta-feira (2), sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. Conforme o relato da mãe da criança, a cabeleireira Amanda Marques, de 26 anos, houve negligência por parte da equipe médica e demora por parte do Estado, que não teria garantido a vaga em uma UTI.

A prefeitura da cidade, por meio de nota, garante que prestou toda a assistência para a garotinha, mas que não havia vagas disponíveis para a transferência na rede estadual. Já o governo de Minas não respondeu à reportagem. A família de Evelyn registrou, nesta segunda-feira (5), um boletim de ocorrência na Polícia Civil. O óbito ocorreu em meio à situação de emergência em saúde pública em Minas Gerais, devido ao aumento expressivo de atendimentos e internações por doenças respiratórias — em especial, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

Conforme Amanda, a filha se sentiu mal na segunda-feira (dia 28 de abril), na creche. Por causa da persistência da febre, a mãe levou a pequena ao Hospital Municipal de Pedro Leopoldo na terça-feira (29). No entanto, a filha foi medicada e liberada. No dia seguinte, a menina continuava a apresentar sintomas e ficava o tempo inteiro "mole" e, por isso, Amanda retornou à unidade de saúde com a filha. Evelyn foi internada e, desde então, uma vaga em uma UTI pediátrica começou a ser buscada pela equipe do hospital. Diante da piora do quadro, na sexta-feira, os médicos tentaram intubar a menina, mas ela não resistiu. Para Amanda, houve negligência no momento em que a filha foi liberada do hospital sem antibióticos e também no procedimento de intubação.

“Os médicos usaram cano de intubação de adulto, pois não havia um próprio para ser utilizado em crianças. No momento que eu entrei na sala, ela estava muito inchada e com a boca machucada. O processo de intubação demorou mais de duas horas e meia. Depois da morte, o médico chamou a gente para conversar e ele falou que ela já estava com a bactéria da pneumonia e a inflamação toda espalhada”, disse a mãe da bebê.

O que diz a prefeitura de Pedro Leopoldo?

Conforme nota da prefeitura, a paciente chegou ao Hospital Municipal com um quadro de bronquiolite, confirmado por exames e radiografias. "A evolução do quadro foi rápida e severa, compatível com casos de bronquiolite grave e infecção respiratória aguda em menores de dois anos, evoluindo para uma pneumonia, mesmo com o tratamento adequado." Conforme o Poder Executivo, "não houve qualquer falha na prestação do atendimento médico, tampouco omissão de condutas clínicas ou administrativas".

Confira a nota na íntegra:

"A Prefeitura Municipal de Pedro Leopoldo, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, manifesta profundo pesar pelo falecimento da criança Evelyn Beatriz Marques de Oliveira Bambirra, de um ano e quatro meses.

Desde sua entrada na rede municipal de saúde em 30 de abril, a paciente recebeu toda a assistência necessária e compatível com os mais rigorosos protocolos clínicos vigentes, sendo atendida por equipe médica qualificada e dedicada, com suporte contínuo de oxigenoterapia, broncodilatadores, antibióticos intravenosos e, nos momentos críticos, ventilação mecânica e medidas avançadas de suporte à vida.

A paciente deu entrada no Hospital Municipal com um quadro de bronquiolite, confirmado por exames e radiografias. A evolução do quadro foi rápida e severa, compatível com casos de bronquiolite grave e infecção respiratória aguda em menores de dois anos, evoluindo para uma pneumonia, mesmo com o tratamento adequado. É importante destacar que não houve qualquer falha na prestação do atendimento médico, tampouco omissão de condutas clínicas ou administrativas.

Diante da necessidade de cuidados intensivos, foram realizados todos os esforços para transferência imediata da paciente para Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI), com contatos diretos com os principais centros de referência da capital. Apesar das reiteradas tentativas, a indisponibilidade de leitos em toda a rede estadual impediu a remoção em tempo hábil, circunstância que extrapola a esfera de competência do município.

A Secretaria Municipal de Saúde reitera que todas as condutas médicas foram registradas de forma detalhada em prontuário, não havendo indício de qualquer tipo de erro ou negligência por parte da equipe profissional ou da gestão local.

Neste momento de dor, expressamos nossa solidariedade à família da paciente e reafirmamos o compromisso da administração municipal com a ética, a responsabilidade e a transparência."

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) foi procurada pela reportagem de O TEMPO, mas ainda não respondeu.