A meses da formatura, alunos de faculdades e colégios denunciam desvio de milhões por empresa de eventos de Juiz de Fora
Polícia Civil abriu investigação para apurar as denúncias, que também foram levadas à Justiça pelos próprios estudantes; quatro processos foram instaurados. Proprietário da Phormar, Luiz Henrique Resende, afirmou que pretende se manifestar em breve e que vai resolver a situação.
Por Luiza Sudré, g1 Zona da Mata — Juiz de Fora
Faltando poucos meses para as festas de formaturas na graduação e no ensino médio, centenas de estudantes estão com receio de não terem motivos para comemorar. Isso porque eles alegam que a empresa Phormar Formaturas e Eventos Ltda, de Juiz de Fora, sumiu com o dinheiro arrecadado para os eventos e que os fornecedores não foram totalmente pagos. Os valores passariam de milhões.
Na semana passada, a Polícia Civil abriu uma investigação para apurar as denúncias, que também foram levadas à Justiça pelos próprios estudantes. Até esta segunda (9), quatro processos haviam sido instaurados. No entanto, o número pode ser maior, já que alguns estão em segredo de Justiça. A Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor do Ministério Público de Minas Gerais acompanha o caso.
O g1 conversou com o proprietário da empresa. Luiz Henrique Resende disse que pretende se manifestar em breve e resolver a situação. A loja da empresa permanece fechada.
O empresário foi ouvido na segunda-feira (9) pelo delegado Samuel Neri na 7ª Delegacia de Polícia Civil, onde apresentou o passaporte e se comprometeu a não sair da cidade. Celular, computadores da empresa, documentos e contratos foram apreendidos.
As contas da empresa foram bloqueadas através decisão judicial de natureza cível e a empresa permanece fechada.
Alunos alegam que R$ 1 milhão 'desapareceu'
Alunos de medicina do Centro Universitário de Valença — Foto: Arquivo Pessoal
A turma de Medicina Eros, do Centro Universitário de Valença, cidade que fica no estado do Rio de Janeiro, a 100 km de Juiz de Fora, fechou com a Phormar Formaturas para realizar a festa de formatura na cidade mineira. A empresa, que também atende localidades próximas, teria fechado a comemoração para o dia 18 de janeiro de 2025, para cerca de 2.400 pessoas.
Contudo, os alunos alegam que quase 1 milhão de reais do buffet não foi pago. Em entrevista ao g1, o advogado que defende o grupo, Maurício Alves Costa, disse que, junto de um consultor em tecnologia, Marcos Nascimento, pais de formandos, fizeram um levantamento financeiro para saber a real situação em que os estudantes estavam em relação ao dinheiro arrecadado.
Diante disso, a turma de Medicina Eros entrou com um processo na Justiça e pediu o bloqueio de R$ 1.274.584,81 em contas vinculadas à Phormar e ao proprietário Luiz Henrique Resende. O valor solicitado, conforme o advogado, é o que teria 'sumido' das contas bancárias dos universitários que integram o fundo de formatura.
Turma percebeu problema em trocas de contas
Segundo Maurício Alves Costa, advogado da turma de Medicina Eros, a Phormar gerenciava o controle financeiro por meio de uma conta bancária não vinculada ao CNPJ do grupo. Na época, os boletos eram pagos e depositados nessa conta.
Posteriormente, por decisão da empresa, conforme o profissional, foi sugerido migrar para um banco cooperativo, com a intenção de transferir os dados bancários da conta da empresa. Em seguida, houve uma nova mudança para o Banco do Brasil, motivada pela redução de taxas bancárias.
Durante o processo de transição, os formandos da Medicina Eros não tinham acesso direto à conta bancária, apenas informações sobre o saldo. A gestão, por sua vez, permaneceu sob o controle da empresa, responsável pela administração das transações, de acordo com Maurício Alves.
Ao verificar os boletos pagos, surgiram discrepâncias, e os montantes não coincidiam com os valores registrados.
Menos da metade paga
Medicina Suprema Três Rios — Foto: Arquivo Pessoal
Os alunos da turma de Medicina da Faculdade Suprema, em Três Rios, têm o baile de formatura agendado para o dia 10 de janeiro em Juiz de Fora. Segundo eles, do valor total do evento, que é de R$ 615 mil, apenas R$ 29 mil foram pagos até o momento.
Eles registraram um boletim de ocorrência na última sexta-feira (6) contra a empresa. Segundo o advogado responsável pelo caso, Ruy Zaidan Azevedo, os valores nunca foram depositados no fundo, em vez disso, o pagamento era transferido diretamente para a conta da própria empresa.
Os 30 alunos que participam do fundo de formatura alegam que ainda não receberam nenhuma explicação da empresa.
"Estamos vivendo nessa insegurança. Tem gente da nossa turma que batalhou para pagar os boletos, e não temos nenhuma resposta ainda. É triste porque não estamos lidando apenas com o dinheiro, estamos lidando com o nosso sonho e o sonho das nossas famílias", disse o aluno Roberto Zaidan.
Mais casos registrados
Nas redes sociais, os alunos da turma 115 de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) informaram que, a menos de dois meses do baile de formatura, os fornecedores do evento ainda não foram pagos e o dinheiro arrecadado foi perdido. Contudo, o valor não foi informado pelo grupo.
"Foram mais de 6 anos pagando mensalmente parcelas com o dinheiro árduo do trabalho de nossas famílias, e o sonho de todas as 63 delas foi perdido".
Já os alunos do terceiro ano do Colégio Militar de Juiz de Fora têm o baile de formatura agendado para o dia 21 de dezembro. De acordo com Deborah Carvalho, mãe de uma das estudantes, o valor do buffet é de aproximadamente R$ 250 mil.
"Não temos os dados oficiais sobre as despesas da empresa, pedimos comprovantes de pagamentos e não recebemos. A empresa está fechada e estamos aguardando um posicionamento", disse Deborah.
Nas redes sociais, os alunos divulgaram um post informando sobre a situação: “É o encerramento de um ciclo muito especial, algo que nunca imaginávamos perder, nem mesmo nos piores pesadelos”.
Turma de direito do Vianna Júnior — Foto: Arquivo Pessoal
Os estudantes de uma turma de direito do Instituto Vianna Júnior, de Juiz de Fora, por sua vez, afirmam que a conta do fundo deveria ter aproximadamente R$ 520 mil, conforme o próprio documento de receita fornecido pela Phormar. Os 39 formandos estão com o baile agendado para o dia 11 de janeiro.
"Mas o dinheiro que deveria estar na conta não está. Temos apenas R$ 3 mil. A empresa nos informou, na última segunda-feira (2), que o valor foi gasto, pois tudo estava pago. No entanto, segundo o levantamento do nosso fundo, isso não é verdade", disse o aluno Antônio Ladeira.
Ainda segundo ele, em relação ao buffet, o custo dos dois eventos — o jantar dançante e o baile — ultrapassaria R$ 280 mil. No entanto, nenhum valor foi efetivamente pago, uma vez que o pagamento estava previsto para ser feito em dezembro.
"Foram pagos apenas os sinais de reserva para o local do baile de formatura, a colação de grau e a atração principal do baile. Os três pagamentos correspondem a 50% do valor total. Apenas isso. Fora os gastos já realizados na comemoração de meio advogado”, contou.
Funcionários alegam pagamento atrasado
Comunicado colocado na porta da empresa em Juiz de Fora — Foto: Reprodução
Além das denúncias, conforme apuração da TV Integração, funcionários da empresa afirmam que estão com os salários de novembro atrasados, assim como o 13º salário e as parcelas do FGTS.
Em comunicado, o advogado que representa o grupo, Vinícius Moreira, afirmou que não houve um comunicado formal de dispensa dos trabalhadores, mas que a demissão de todos foi efetivada.
Vinícius Moreira também explicou que a “empresa alegou ser necessário aguardar os cálculos para determinar como seriam feitos os pagamentos”.
Associação Brasileira de Empresas de Formatura se pronuncia
Em nota divulgada, a Associação Brasileira de Empresas de Formatura (ABEFORM) lamentou a situação delicada dos fundos de formatura administrados pela Phormar e que a empresa em questão não é associada à ABEFORM.
“Ao tomar conhecimento dos fatos, a ABEFORM imediatamente acionou as empresas associadas da região, solicitando que buscassem alternativas, junto à rede de fornecedores, para que de alguma forma conseguissem oferecer aos fundos de formatura afetados”, complementou o pronunciamento.
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