Em 2024, MG supera casos de dengue registrados na pior epidemia da doença

Em 2024, MG supera casos de dengue registrados na pior epidemia da doença
O estado decretou situação de emergência em janeiro por causa do aumento dos casos de dengue — Foto: Daniel de Cerqueira / O Tempo
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São 218.265 casos prováveis neste ano, quantidade superior aos 194.639 registrados até fevereiro de 2016, ano da pior epidemia no estado

O Tempo   Por Lucas Gomes e Rayllan Oliveira

Minas Gerais não enfrenta um início de ano tão delicado em relação à dengue há pelo menos 13 anos, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Desde 2011, o ano que mais se aproximou do cenário atual no Estado foi 2016, quando Minas Gerais registrou 194.639 casos prováveis de arbovirose, considerando todo o mês de janeiro e fevereiro. Em 2024, só até 19 de fevereiro, ou seja, com quase duas semanas a menos que o período apurado há oito anos, os casos prováveis são 218.265. O número é quatro vezes maior do que os apurados no primeiro bimestre do ano passado, quando foram 50,1 mil casos prováveis.  

"De fato, vivemos o pior período de início de ano em relação à dengue nos últimos anos. Nos preocupamos muito com a Covid e esquecemos da dengue", relata o médico infectologista Estevão Urbano. Conforme o especialista, o momento pode ser explicado pelo fenômeno El Niño e pelas mudanças climáticas. Com mais calor, o mosquito pode viver por mais tempo. "Estamos com verão mais chuvoso, o que favorece a multiplicação do mosquito", justifica.

Estevão acredita que o estado poderá ter um salto ainda maior nos casos confirmados da doença durante as próximas semanas. "As aglomerações de fim de ano, ajudam a justificar os casos em janeiro. Agora, com o Carnaval, a gente tende a acompanhar um aumento também. Como a festa em Minas é muito grande, isso gera uma quantidade significativa de resíduos, que podem armazenar água e favorecer a proliferação do mosquito", aponta.

Segundo ele, as autoridades públicas e a população precisam estar atentas ao momento enfrentado pela saúde pública. O médico acredita que o primeiro cuidado deve ser voltado para eliminar os focos do mosquito Aedes aegypti. "A dengue, diferente da Covid, é transmitida por um mosquito que não respeita o distanciamento. Ou seja, não depende das ações do indivíduo, mas do controle do mosquito. São duas doenças complexas para o controle, mas que demanda esse esforço", acrescenta. 

Pior epidemia da história

Na última semana, o secretário estadual de Saúde, Fábio Baccheretti, alertou que Minas Gerais enfrenta a pior epidemia de dengue da sua história. "Nunca vivenciamos uma inclinação tão grande de dengue. Nosso recorde era um pouco menos de 600 mil casos prováveis em 2016, que é a nossa base de comparação, já que nem todos os casos da doença são confirmados, mas vamos ultrapassar isso. Não temos dúvidas que esse será o pior ano de dengue da história de Minas. O Sul de Minas, a região Norte e o Triângulo devem começar a ter aumento de casos", informou o secretário de Saúde do Estado.

No ano citado pelo secretário, Minas Gerais registrou 517 mil casos prováveis da doença, sendo 194.639 nos dois primeiros meses. No final de fevereiro daquele ano, foram 13 mortes confirmadas por dengue e outras 38 em investigação. Nessa base de comparação, os dados de 2024 também assustam, já que são 19 mortes confirmadas e outras 122 em análise.

Na outra ponta do ranking, como início de ano mais brando para a dengue, está 2018, quando a Secretaria de Estado de Saúde registrou 4.435 casos prováveis. Esse índice representa cerca de 2,2% dos diagnósticos tido como prováveis em 2024. O que explica, então, um aumento tão significativo neste ano? Conforme o próprio secretário de saúde do Estado, os sorotipos 2 e 3 da doença em circulação podem ser os responsáveis pela busca precoce e robusta dos atendimentos médicos.

 "A maior parte da população está suscetível aos sorotipos em circulação porque passamos anos com apenas o tipo 1 em circulação. Por isso temos que focar no atendimento, a maior parte das mortes são evitáveis. O tratamento é a hidratação do paciente", afirmou.

Vacinação

A expectativa é de que a vacina, que começa a ser disponibilizada para um público restrito, possa melhorar o cenário no futuro. Um exemplo disso é a Covid-19, que chegou a registrar mais de 1 milhão de casos nos primeiros dois meses de 2021, mas neste ano foram confirmados apenas 11.432 casos. A ponderação, entretanto, ocorre na diferença de fatalidade das doenças, já que a Covid vitimou 51 pessoas, embora o número de casos represente menos de 10% daqueles possíveis de dengue.

"A vacina da dengue não vai diminuir a transmissão. Pelo contrário, a gravidade dos casos. A imunização contra a dengue evitaria quadros graves nos quatro tipos da doença", disse o médico infectologista.