Casos de dengue crescem 85% em cidade de MG, e gestão adota nova tecnologia

Casos de dengue crescem 85% em cidade de MG, e gestão adota nova tecnologia
Técnica usa mosquitos machos autolimitantes — Foto: Oxitec / Divugação
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Ovos do Aedes aegypti modificados geneticamente estão sendo colocados em bairros de Patos de Minas

Por Isabela Abalen O Tempo

Patos de Minas, no Alto Paranaíba, está implementando uma nova solução de enfrentamento às arboviroses (dengue, chikungunya e zika vírus) como resposta à alta de casos de dengue no município neste início de 2024 – 85% só na primeira quinzena de janeiro, com relação ao mesmo período do ano passado. Na cidade com pouco mais de 159 mil habitantes, foi implementada a tecnologia de mosquitos geneticamente modificados: Aedes aegypti do Bem™. A técnica promete reduzir a transmissão de arboviroses e já suprimiu a população de mosquitos em 96% em uma das experiência, em São Paulo. 

 

 

Segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), a cidade notificou 115 casos de dengue até o dia 15 de janeiro, isto é, foram cerca de oito infecções diárias. Já no ano passado, até 16 de janeiro de 2023, 62 infecções de dengue foram notificadas, cerca de quatro por dia.

A alta do índice levou a prefeitura a buscar a tecnologia de controle do Aedes aegypti. "Pensando que o mosquito vem se mostrando adaptável às mudanças climáticas e que temos cada vez mais casos de dengue e outras doenças por ele transmitidas, essa é mais uma estratégia da Prefeitura de Patos de Minas no combate ao mosquito”, disse a secretária municipal de saúde, Ana Carolina Magalhães Caixeta. 

Nesta primeira etapa do projeto de biotecnologia, os mosquitos Aedes aegypti do Bem™ serão inseridos nos bairros Jardim Esperança e Nossa Senhora Aparecida. As duas regiões, que contam com 3.773 imóveis, receberão cerca de 350 “Caixas do Bem” (que contêm os ovos de mosquitos) distribuídas em 75 hectares de área urbana. “O Aedes do Bem™ vem para que a gente una tecnologia e saúde e consiga resultados mais eficazes em conjunto com as medidas convencionais aplicadas no nosso dia a dia", continuou Ana Carolina. 

Entenda melhor a tecnologia Aedes aegypti do Bem™

A ferramenta foi criada na Universidade de Oxford e desenvolvida pela multinacional de biotecnologia inglesa Oxitec, que trouxe a tecnologia para o Brasil. São mosquitos Aedes aegypti machos autolimitantes, que não picam e não transmitem doenças. Uma vez que os ovos são distribuídos nas cidades e, na fase adulta, acasalam com as fêmeas que transmitem a dengue, a chikungunya e o zika vírus, o ciclo de transmissão das arboviroses é interrompido.

“Deste cruzamento, apenas os descendentes machos sobrevivem e chegam à fase adulta, herdando dos pais a característica autolimitante. O resultado é a queda do número de fêmeas que picam e transmitem doenças, e, consequentemente, o controle populacional direcionado do Aedes aegypti”, informa a Oxitec. A solução tecnológica foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 2020. 

Os Agentes de Endemias da Patos de Minas, treinados pelo time de Operações da Oxitec, serão responsáveis pela instalação das Caixas do Bem na área urbana – onde o mosquito costuma deixar seus criadouros – e também pela troca dos refis, que deve ser feita a cada 28 dias.

Solução também é sustentável e novidade no Estado

Os “Aedes do Bem™” são livres de inseticidas químicos e, por isso, agem especificamente no controle do Aedes aegypti e não afetam outras espécies de insetos benéficos ao meio ambiente, como abelhas e joaninhas. A empresa afirma que o mecanismo não causa nenhum dano ao meio ambiente, às pessoas e aos animais. “Não são tóxicos e nem alergênicos”, informou. 

Para a diretora da Oxitec Brasil, Natalia Ferreira, a medida a ser adotada por Patos de Minas é um avanço no enfrentamento às arboviroses no Estado. “Minas Gerais mais uma vez sai na frente ao adotar uma solução inovadora, sustentável e altamente eficaz para o controle deste mosquito que transmite a dengue e tantas doenças. Estamos felizes e honrados com essa nova parceria”, disse.

Congonhas, na região Central, foi o primeiro município mineiro a adotar a técnica Aedes aegypti do Bem™. A título de comparação, a cidade registrou 37 casos de dengue na primeira quinzena de janeiro, 78 a menos que Patos de Minas. 

 

96% de supressão do Aedes aegypti em Indaiatuba/SP 

Outro resultado positivo da liberação de mosquitos Aedes do Bem™ ocorreu em comunidades urbanas densamente povoadas e afetadas pela dengue no município de Indaiatuba, no interior de São Paulo. Na região, houve supressão significativa da população de Aedes aegypti local em até 96%.  

O estudo, que foi publicado na revista científica Frontiers in Bioengineering and Biotechnology, monitorou a infestação de mosquitos Aedes aegypti em Indaiatuba, comparando com outros ambientes que não receberam mosquitos machos Aedes do Bem™. Durante o pico da temporada de mosquitos (novembro de 2018 a abril de 2019), as populações do Aedes aegypti em áreas tratadas foram suprimidas entre 88% e 96% em relação às áreas não tratadas, concluíram os pesquisadores.