Por que o Alzheimer é mais comum em mulheres? Veja o que diz pesquisa

Estudo sugere que as diferenças metabólicas, envolvendo as moléculas: carnitina e L-acetil-carnitina (LAC), podem explicar maior incidência no sexo feminino
O Tempo Por Nubya Oliveira
A maior prevalência do Alzheimer entre as mulheres tem sido objeto de muitas pesquisas nas últimas décadas. Uma possível explicação para isso foi apresentada em janeiro deste ano em um artigo na revista britânica Molecular Psychiatry - Psiquiatria Molecular, em tradução literal. Um grupo de pesquisadores, com vários brasileiros, analisou o desempenho cognitivo e compostos encontrados no sangue e no líquido que banha o cérebro e a medula espinhal de 125 homens e mulheres do Brasil e dos Estados Unidos. Os resultados sugerem que o Alzheimer pode ser mais comum em mulheres devido a diferenças metabólicas, particularmente envolvendo duas moléculas: carnitina e L-acetil-carnitina (LAC).
Essas substâncias estão em níveis mais baixos no sangue de pessoas com demência, e as mulheres apresentam uma maior queda nos níveis de carnitina à medida que a doença se desenvolve, indicando uma disfunção mitocondrial mais avançada do que nos homens. Além disso, as alterações hormonais após a menopausa podem desregular o metabolismo de gordura, afetando a disponibilidade de carnitina e LAC, o que impactaria o cérebro e aumentaria o risco de Alzheimer. O estudo propõe ainda que as mudanças hormonais nas mulheres, especialmente após a menopausa, podem ser um fator chave para essa diferença nas taxas da condição neurodegenerativa entre os sexos.
“Essas evidências devem direcionar os estudos para investigar as alterações metabólicas em mulheres, como as que ocorrem depois da menopausa. Ainda estudamos pouco se certas patologias afetam as pessoas de sexo feminino de modo diferente dos homens. Há diversas hipóteses sobre como as mudanças metabólicas podem ser um dos fatores por trás dessas diferenças no caso do Alzheimer”, afirma o pesquisador Ricardo Lima-Filho, da UFRJ, coautor do estudo da Molecular Psychiatry.
Os reflexos da menopausa
A médica geriatra da Saúde no Lar, Simone de Paula Pessoa Lima, concorda que na menopausa, o organismo da mulher passa por alterações hormonais que afetam diretamente o metabolismo cerebral. “Uma das hipóteses mais promissoras é a de que essas mudanças impactam a função das mitocôndrias — estruturas celulares responsáveis por produzir energia — e a disponibilidade de substâncias fundamentais para o funcionamento cerebral. Essas mudanças atrapalham não apenas a produção de energia, mas também a proteção das células nervosas e a formação das conexões entre os neurônios, especialmente nas áreas do cérebro relacionadas à memória. Pode haver uma completa resolução desse problema após o fim desse período, mas nem sempre acontece.”
A especialista diz que a disfunção metabólica mais acentuada em comparação aos homens pode ajudar a explicar, pelo menos em parte, por que o Alzheimer é duas vezes mais frequente nas mulheres. “É fundamental continuar investigando como essas alterações influenciam o risco da doença e como estratégias preventivas — como uma alimentação adequada e cuidados personalizados — podem ajudar a proteger a saúde cerebral feminina ao longo do envelhecimento.”
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